segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Os extintores do amor

Texto básico: Lucas 15.11-32
Pode parecer um contrassenso falar de amor e extintor. Isso porque nossa visão cultural sobre o amor é moldada a partir de um aquecedor. Mas há atitudes que funcionam como extintores do amor. Elas podem esfriá-lo até o ponto em que se torna difícil “reaquecê-lo”. Talvez o melhor exemplo bíblico disso seja a conhecida parábola do filho pródigo.
Esse era o caso do pai. E Jesus revela as vísceras de uma casa que na parábola não tinha qualquer resquício do resultado do amor, que é a unidade. E é ali que notamos as três atitudes que funcionam como extintores do amor.
1. O desejo de abrir a porta da casa do pai (v.12)
Esse primeiro extintor está ligado ao filho pródigo. Seu movimento era egoísta, pois não ansiava abrir a porta da casa do pai para que outros entrassem. Antes, pelo contrário, queria era sair. Seu olhar estava tão somente voltado para si. E quem assim vive torna impossível o cultivo do amor.
Viver para si é uma expressão de arrogância. Esse individualismo acaba tirando espaço para o outro, na medida em que se coloca numa posição de superioridade sobre os demais. E como isso faz mal ao amor! Lembro-me do hino : “Muitas vezes a arrogância, murcha e mata o amor.”

Segundo alguns comentaristas, aquele filho mais moço deve ter ficado impressionado com os relatos que judeus da Diáspora (foi a dispersão dos judeus pelo mundo depois da destruição de Jerusalém pelos romanos em 70 d.C.), que viviam pelo Mundo Antigo, contavam quando vinham a Jerusalém. Coisas que somente na cultura helênica eram permitidas e valorizadas enchiam os olhos e a mente de uma juventude que não tinha muito contato com esse “submundo do entretenimento”. Aquela ilusão foi tão alimentada que esse pecado, sendo concebido (Tg 1.15) gerou separação na própria casa. Aquele filho mais moço se tornou indiferente. Note bem: quando há discussão numa família é sinal de que as pessoas ainda se importam. Quando as discussões cessam é porque a indiferença já tomou conta dos corações. O amor, a essa altura, morreu.
Aquele filho manifestou sua indiferença enterrando sua família em vida. Pedir a sua parte da herança (v.12) era afirmar que sua casa tinha morrido. Já imaginou passar por uma dor dessas?
Fato é que alimentar a alma com coisa que não presta acaba gerando ilusões. No caso do filho pródigo, criou nele o desejo de amar o que não devia ser amado, e desprezar aquilo que não podia ser rejeitado. E aquele rapaz foi descobrir na pele que nem todo desejo sacia; alguns, na verdade, matam de fome! E fez isso de forma humilhante: foi apascentar porcos. Para um judeu, apascentar porcos era uma espécie de estágio final da vida. Ele tinha sido indiferente com seu pai e agora recebia a indiferença dos “seus amigos”.
Poucas coisas danificam e destroem mais o amor que a ameaça de abrir a porta. Por isso não apague o amor jogando sobre ele água com a ameaça de abrir a porta. Mesmo porque a parábola do filho pródigo mostra que por pior que estejam as relações familiares é melhor tolerar o “mau cheiro por algum tempo” do que encarar a morte lá fora (Gn 6). Em outras palavras: vale a pena lutar pela reversão dessa situação difícil. Dentro da casa, o Pai está com você. Por isso, sair não é a melhor opção.
2. O desejo de fechar a porta da casa do pai (vv.25-29)
Agora passamos a focar o irmão mais velho. Para alguns ele parece ser um protótipo de vida santa e íntegra. Um modelo a ser imitado. Mas, na realidade, ele era tão mau ou pior que seu irmão pródigo, pela sua avareza.
O avarento é fechado por natureza. Não consegue se abrir para os outros, nem tampouco abrir o que tem. É incapaz de dizer o que o incomoda, assim como é incapaz de agir para transformar o incômodo. O texto mostra que o irmão mais velho não estava muito feliz. Se o pai transbordava amor, ele como avarento que era mantinha a cisterna tampada, impedindo de receber e viver esse amor.
Ele se via como um escravo. A palavra que ele usa (v.29) é o grego doulos, que significa servo ou escravo. Ora, como um filho pode se achar na condição de um escravo? Ainda mais tendo um pai tão amoroso? Muito envolvimento com a “fazenda”, com a obra do pai e pouco envolvimento com ele... Tornou-se, então, uma pessoa pesada, enfastiada e dessa feita desprovido de qualquer interação.
Se ele pudesse fecharia a porta da casa do pai. Transformaria o ambiente onde estava num prolongamento do seu estado de alma: completamente fechado. E o amor é incompatível com o lacre, com o confinamento. Amor oferece as sandálias (v.22) para aquele que volta. Sabe o que significava calçar os pés? Era dizer que aquele filho que voltava era livre para ir embora caso desejasse.
Naquele momento aquele irmão mais velho estava sendo um extintor sobre a ambiência familiar. Ele não usa a palavra irmão. Cita o mais novo como um qualquer. É incrível que na parábola somente o pai e os empregados usem o termo irmão. Isso mostra que entre eles dois (pródigo e mais velho) havia tal separação e dissensão que praticamente não se consideravam irmãos. Quem sabe até esse não tenha sido um dos motivos do retardo da volta para casa do filho pródigo... Quem sabe não fora esse o motivo de ele querer ser tratado como a um empregado, como se tivesse ciência prévia de que seu irmão mais velho não o acolheria? Será que existe alguém para quem você precisa mostrar amor?
O amor abre-se para o novo. Ainda que sejam novidades que surjam em antigos relacionamentos. Onde há amor há acolhimento, hospitalidade. Onde há amor Deus é percebido e o Diabo, envergonhado. Aliás, a maior forma de envergonhar o inimigo é viver a essência de Deus: amar. Abrir a porta para acolher incendeia o amor. Fechar a porta para banir, extingue-o.
Se alguém de sua casa (família ou igreja) errou, não feche a porta. Não haja com presunção, julgando peremptoriamente. O irmão mais velho nem vira ou ouvira seu irmão mais novo e já havia um pesado juízo em sua boca. Seja manso (Gl 6.1,2), exerça a misericórdia. Lembre-se: famílias e igrejas que amam têm a cara de Deus.
3. O desejo de não passar pela porta do pai (vv.17,26)
Mas talvez a coisa mais chocante dessa parábola seja a figura dos empregados. Estamos falando de um Pai que era extremamente amoroso. De alguém que exalava amor. Por que aqueles empregados não ousaram, pedindo a filiação também? Um “empregado” acabara de se tornar filho...
Cabe aqui ressaltar a figura do servo e do trabalhador naquele tempo. E para isso vou evocar uma figura do Brasil Imperial, que era o trabalho escravo e imigrante. Qual era a diferença entre os dois? Era basicamente a assiduidade, a perpetuidade. O escravo do Brasil Imperial, assim como o servo dos tempos de Jesus era alguém cuja vida pertencia ao seu Senhor. Por isso o servo trabalhava sempre na casa do pai, do seu senhor. Já o trabalhador era como o imigrante: vinha para a colheita como por uma temporada. Era gente que estava atrás da bênção do pão (v.17).
Não é assim que acontece com muitos? Gente que convive com famílias mas que não se deixa ser transformada em filhos. Filhos que foram adotados, amados, desejados, mas que pelo fato de não serem legítimos, recusam essa filiação.
O que não dizer de gente que anda sempre perto da família de Deus? Gente que circula pela casa, que usufrui do pão (Palavra), mas que não ousa pedir a filiação? Reconhece até que Deus é amor, porém sua atitude aciona o extintor. Será que esse é o seu caso?
Conclusão
Na parábola do filho pródigo só há um exemplo a ser seguido: o do pai. Pai que restaurou a dignidade (roupas novas), a autoridade (anel), e a liberdade (alparcas nos pés) do filho mais novo. Guarde bem isso: a justiça própria afasta e até mata (At 7). O amor restaura. E não é obra de esteticista. É restauração profunda.
Esse pai aguardava ansiosamente a volta do filho a ponto de esperar e olhar todo dia para a porteira da fazenda. Por isso que ele avistou seu filho ainda longe e correu até ele (v.20). Pai que se lança ao pescoço de um filho, num ato de humilhação para aquele tempo. Mas quem está preocupado com humilhação quando se ama intensamente?
A grande verdade é que Deus se humilhou (Fp 2.5-13) por amar você! Ele foi e ainda é mal interpretado por muitos por conta desse ato. Mas o que importa agora é que resposta você dará a esse amor.
Quero terminar dizendo que para aqueles que aceitam está reservada uma experiência única: a de sentir Deus correndo em sua direção e se atirando ao seu pescoço! Você quer isso?


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