quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um Investimento sem resultado



Texto básico: Lucas 13.6-9
Uma das experiências mais frustrantes que um ser humano pode ter é a falta de retorno. Pais que investem anos em filhos, que por sua vez não dão nenhum retorno a eles; igrejas que investem em seminaristas que simplesmente não vingam; pastores que investem em igrejas que não saem do lugar; amigos que “carregam as fichas” numa amizade e que na hora de maior aperto são abandonados. Sem dúvida alguma, não ter resultado em um investimento é muito frustrante.
Frustração é o sentimento do coração de Deus quando contempla uma figueira sem fruto. Curioso é que a figueira na Palestina dá fruto 10 meses por ano. Em qualquer tempo um homem encontraria figo para comer, até mesmo na figueira mais desavisada. Escolhida, plantada em um lugar especial (sim, pois a vinha era plantada em solo fértil - v.6), desejada pelo dono da vinha, cuidada com todo o carinho... como podia não dar fruto? Será que sua vida está como aquela figueira? Boa terra, bom cuidado, excelente Dono, mas sem fruto?
1. Entendendo o contexto
Para que você entenda melhor esta parábola explicito os significados que foram atribuídos à figueira ao longo do Antigo Testamento.
Um primeiro significado era da figueira como símbolo da paz e da prosperidade sobre Israel. Em tempos de paz, cada israelita descansaria debaixo de sua figueira (Mq 4.4; Zc 3.10; Os 9.10).
Outro significado seria a figueira como a liderança de Israel. Gente em quem Deus investiu tempo, Palavra, mas que se recusava a andar segundo o coração dele.
Por fim há a ideia do povo de Deus (Jr 24). Nesse sentido figueira e vinha eram usadas como expressões correlatas. Ocorre que no Novo Testamento, por ser o fruto da vide (da videira) o símbolo da nova aliança entre Deus e o povo, a vinha passa a tipificar de modo preponderante esse papel (Jo 15), coisa que Isaías já fazia (Is 5). A vinha seria então o Israel de Deus, a “assembléia universal dos Santos” (Hb 12.22,23). Todos os salvos no passado, presente e futuro.
Nesse sentido Jesus então contrasta com sua vinda a esterilidade de Israel. Os teólogos destacam com razão que Israel era para ser uma nação sacerdotal, um lugar em que (vide sua localização) os povos acorreriam para buscar a presença de Deus. E essa ausência de frutos era agora mais evidenciada com a vinda de Cristo, meio pelo qual não precisamos mais de sacerdotes, nem de nações sacerdotais para termos comunhão com Deus (1Pe 2.8,9; 1Tm 2.5). Por isso o uso por Jesus de uma figueira no meio da vinha... de algo que foi tido como povo de Deus mas que, por se recusar a crer no seu sacrifício, deixara de ser.
Para evidenciar essa percepção, Lucas registra logo após essa parábola o encontro de Jesus com uma mulher israelita, frequentadora de uma sinagoga, mas que havia 18 anos era “cavalo do Diabo”. Uma figueira no meio da vinha. Gente no meio do Israel de Deus, porém não é povo do Senhor. Será que tem gente assim no nosso meio? Porque se tem, não é ficando no nosso meio que as coisas se resolverão. É indo para diante de Jesus (13.12a). Nesse encontro com o Senhor da vinha é que se deixa de ter uma vida infrutífera.
2. Há um tempo para arrependimento
Que fruto você tem dado? Suas mãos estão cheias ou vazias?
A mulher encurvada nada tinha a apresentar. Assim também acontecia com os judeus que questionaram Jesus sobre a morte dos galileus (13.1) e aos quais o Mestre falou da queda da torre de Siloé (v.4). Sem entrar no mérito desses dois fatos históricos, o que importa aqui é a lógica do infrutífero: “Reconheço que não dou fruto, mas há árvores infrutíferas piores do que a minha”. Ou ainda: “Sou pecador, mas tem pecador pior do que eu”, como se ser melhor do que alguém num quesito péssimo (pecado) tornasse alguém aprovado (bom). Afinal: ser “menos pior” torna alguém melhor? Foi essa lógica da autocomplacência que Cristo desmascarou.
Essa era a lógica de Israel diante de Deus. O que Jesus quis trazer é que há um tempo para arrependimento e que esse momento havia chegado. Em Cristo somos salvos. Olhando para Cristo, todos precisam de arrependimento, sejam judeus ou não.
Nesse sentido quero dizer que não creio num plano especial de Deus para salvar o povo judeu no futuro. Senão vejamos:
a. A Palavra de Deus fala de modo abrangente e pródigo sobre arrependimento. Talvez dois dos textos mais duros e claros sejam: Hebreus 2.2,3 e 2Pedro 2.4-11. Se nem anjos foram poupados, por que homens o seriam? (Rm 11.21);
b. A Palavra assevera a primazia de Cristo na Criação (Cl 1) e na eternidade (Ap 1-5). Fala também da cruz de Cristo como local de encontro entre o homem e Deus.
A Palavra apresenta também Jesus como a mensagem central da Bíblia. O caminho para o Pai. Sendo assim, falar num plano outro para algum povo é tornar Israel melhor que os outros povos e até mesmo melhor que Cristo. Biblicamente falando, é inadmissível qualquer depreciação da obra de Cristo e qualquer “arianização” semita. Israel existiu por causa de Cristo e não Cristo por causa de Israel.
c. Há uma incompreensão sobre a fala de Paulo em Romanos 9-11. Israel fora uma nação escolhida, mas agora perdera a condição de eleita porque o pacto salvífico não era via etnia, mas via promessa (fé – Rm 9.6-8). Nem todos de Israel (pátria) eram israelitas (povo de Deus). A expressão “todo Israel será salvo” (Rm 11.26) fala, portanto, de todo o povo de Deus ao longo da História. A eleição agora se dá em Cristo (Ef 1.4,5; Rm 8.29; 1Pe 2.8-10);
d. A esperança para Israel se chama Cristo. O caminho continua sendo o arrependimento (At 2.37-39). Para aqueles que creram e crerão, estes integram acima de tudo o Israel de Deus!
3. Deus procura fruto
Ao que tudo indica aquela figueira não queria dar frutos para Deus. Provavelmente a fala do dono se deu no 9º ano de vida dela. Isso porque 3 anos eram necessários para a árvore crescer; 3 para dar um fruto considerado proibido (Lv 19.23); no 4º ano (7º de vida da figueira) era o fruto puro para ser dado ao Senhor (Lv 19.24), coisa que devia ser renovada a cada 4 anos (Dt 14.28,29). O dono da vinha procurava fruto havia 3 anos! E aquela figueira se recusava a dar fruto ao Senhor. Será que você é bem-sucedido em tudo, frutifica em todas as áreas, menos dentro da vinha, do Reino de Deus?
O dono da vinha então volta procurando fruto. E não encontra. Nos evangelhos encontramos duas outras experiências assim: a de João 15 e a vez em que Jesus procura figos (Mt 21.18-22). Quando o Senhor da vinha não encontra fruto ele pode:
a. Arrancar (13.7), cortar. A palavra no grego katargei significa tornar inútil, ineficaz, gastar totalmente. Particularmente foi isso que aconteceu com Israel como nação, como vimos anteriormente, cumprindo assim a profecia de João Batista (Lc 3.7-9);
b. Há ainda a posição de limpar (João 15:2). A palavra no grego para cortar, airô, pode significar levantar o ramo, limpá-lo. Por vezes ramos caem e são pisados se tornando infrutíferos. Esses o dono da vinha os levanta, limpa de toda a sujeira para que possam então produzir fruto. Que imagem mais linda de como o Senhor trata conosco!
Conclusão
Por fim essa parábola mostra um dilema (vv. 7,8). Mas não é um desacordo na Trindade. Gosto da ideia de Keneth Bailey de que o debate que ocorre ali é entre os atributos de Deus: misericórdia e juízo. E como a Palavra revela, a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13). Se Deus procura fruto, se ainda há tempo para arrependimento é porque da parte dele há tempo para perdão. A palavra no verso 8 para “deixa-a” é a palavra usada no Novo Testamento para perdão. Deus é compassivo, tardio para irar-se! Aleluia!
Que na visitação do dono da Vinha sobre sua vida Ele o encontre carregado do fruto (Gl 5.22,23). E que caso você ainda não esteja frutificando, lembre-se de que se houve rigor com Israel e com os anjos, também haverá com você.
Leitura Diária

segunda-feira Jo 15.1-5
terça-feira Is 6.1-13
quarta-feira Jr 24.1-10
quinta-feira Mt 21.18-22
sexta-feira Jr 7
sábado Lc 13.10-17
domingo Lc 13.6-9

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Uma ambição que poucos têm


Texto básico: LC 12.13-21
Todo ser humano normal ambiciona alguma coisa. Neste exato momento você pode estar fazendo planos para trocar o carro ou quem sabe adquirir a primeira moto. Talvez esteja pensando em comprar uma roupa mais cara, ou quem sabe até mesmo a igreja pense numa ampliação, compra de nova aparelhagem de som, ou de uma bancada diferente. Fato é que todos nós ambicionamos, desejamos coisas que ainda não alcançamos.
A Bíblia não condena a ambição em si. Mas condena toda e qualquer forma de vida que seja reduzida ao serviço às coisas. E nada exerce tanto atrativo neste quesito como o amor ao dinheiro. E é nesse ponto que a avareza torna uma pessoa escrava do bem adquirido ou desejado. Acaba servindo, adorando, a Mamom (Mt 6.24).
Para evidenciar que o Reino não é dos avarentos, mas sim dos que partilham os seus bens com liberalidade, Jesus após ser instigado por um homem, conta uma parábola. Interessante notar que ao provocar uma reação em Jesus, aquele homem:
a. Mostrava claro sinal de avareza, pois nenhum valor deu ao seu pai, que havia morrido, mas sim aos bens que deixara. Ao que tudo indica essa morte não devia ter ocorrido a muito tempo. Mesmo assim aquele rapaz já estava interessado na partilha. Coisa triste, não?
b. Acaba encomendando um juízo a Jesus. Ora, se ele via Jesus como um árbitro, devia confiar em sua deliberação e não encomendar o juízo. Ele chega dizendo o que Jesus deveria fazer (v.13). Mesmo sendo comum aos mestres decidirem, ajuizarem (aliás, eles eram também reconhecidos pela sua jurisprudência), não cabe a ninguém dar uma causa a Deus e pedir a parcialidade ao seu favor.
c. O Mestre passa então a recusar essa função. A espada que Cristo veio trazer (Mt 10.34) não é a do dinheiro, mas do evangelho. Famílias seriam partidas por causa das Boas-novas do Reino. Não por causa de heranças. Sempre que houver espaço o evangelho será promotor de reconciliação e não de divisão. Na verdade Jesus queria substituir a palavra meristes (grego – dividir) por mesistes (grego – reconciliar). De fato aquele homem estava ali reduzindo Cristo a um mero árbitro.
1. Aquele homem tipifica o avarento porque só pensava em si (vv.13,14)
Um dos grandes problemas do avarento é que sua postura é como a da sanguessuga (Pv 30.15). Sua mão é fechada, o que o impede de repartir, de dar, mas também de receber. Uma mão fechada acaba não retendo aquilo que Deus quer derramar sobre ela, porque para reter é preciso estar aberta para agarrar o que vem do céu. Tal conduta revela um elevado grau de individualismo. Isso porque pessoas avarentas se relacionam com coisas e não com gente. Terminam sozinhas.
Na parábola o homem rico estava ficando cada vez mais rico – seu campo produziu com abundância (v.16). Sua preocupação então era armazenar aquilo que conseguira amealhar ao longo de sua vida profissional (v.18). Jesus propositadamente evidencia um contrassenso: ora, por que um homem já abastado, rico, quer ter mais do que possui? A resposta é uma só: por conta da sua avareza, do seu amor ao dinheiro.
Aquele homem passara toda a vida se dedicando ao ter. E quando chegou ao fim descobriu que não era! Alguém que acredite que para ser alguém precisa ter as coisas e ostentá-las um dia descobrirá, como aquele fazendeiro da parábola, que não é nada. Toda sua riqueza não pode livrá-lo da morte (vv.19,20). Definir-se por aquilo que faz ou pelo que possui, por coisas externas à essência do ser, é admitir uma tremenda falta de consistência interna.
Conta-se que no enterro de um dos homens mais ricos que este mundo conheceu, o armador grego Aristóteles Onassis, vários de seus amigos comentavam sobre a herança que ele havia deixado. Num dado momento, um deles teria interrompido e dito: “é verdade que ele deixou muitos bens... mas o que ele levou consigo?”.
A avareza coisifica o ser humano. Ser avarento é ser pequeno, solitário, embora o celeiro possa ser enorme. Amar o dinheiro faz com que a pessoa pense somente em si. E isso faz com que deixe de ser bênção na vida dos outros. Será que você é assim?
2. Aquele homem tipifica o avarento porque queria só ajuntar para si (vv.17,18)
O Mestre vai denunciar as motivações e intenções daquele reclamante (v.13) mediante a parábola.
Qual era a marca do pensamento do fazendeiro da parábola? Ele pensava em ajuntar bens somente para si. As expressões encontradas no texto são o que “vou” fazer? “minha” colheita; “meus” celeiros; “minha” safra; “meus” bens. No entanto, ao passo que ele ia ajuntando bens ia perdendo a sua alma (Mt 16.26). A parábola não fala de lar, de esposa, de filhos, de amigos, de sinagoga/Templo, de vida com Deus. Não havia nem uma pessoa para herdar aquilo que ele ajuntara (v.20). Ele simplesmente havia perdido sua alma.
A marca de um cidadão do Reino não é a avareza, o isolacionismo, mas a comunhão. A primeira evidência da conversão de Zaqueu foi o desprendimento de toda a avareza, pois ele doou metade dos seus bens aos pobres (Lc 19). O primeiro sinal de que o Espírito estava operando na igreja primitiva era a comunhão que eles tinham a ponto de os discípulos de Jesus, vivendo num ambiente judaico e judaizante, optarem por ter tudo em comum. E muitos, como Barnabé, venderam suas propriedades para depositá-las aos pés dos apóstolos a fim de que os recursos fossem distribuídos (At 2.44; 4.32-36). Se houve um comunismo (entendido aqui por ter as coisas em comum) na História esse aconteceu no nascedouro da igreja.
Tudo isso para apontar o elevado grau de serviço da igreja. Ser cristão, cidadão do Reino não é entrar em disputas de herança, mas sim buscar servir o outro.
No seu dia a dia, na sua agenda pessoal, existe tempo para socorrer alguém ou só para aumentar os seus “celeiros”? Gosto de uma máxima que diz: “Se você não vive para servir, não serve para viver!”. Pense nisso!
Conclusão
Ambição para ter dinheiro, bens, sucesso, todos têm. Alguns até em grau de distorção, como é o caso dos avarentos, sobre os quais Jesus falou nessa parábola.
Contudo há uma ambição que poucos têm. E ela está ligada à expressão final que Cristo usa no verso 21. Poucos querem ser ricos para com Deus. Já ambicionou isso alguma vez? Conhece alguém assim?
Talvez até haja uma indagação no seu coração: como ser rico para com Deus? Quero terminar este estudo dando a você uma lista não esgotável:
a. Ser rico para com Deus é tê-lo como a riqueza maior de sua vida. É ter Deus como seu tesouro maior (v.34). Isso implica estar sempre disposto a servir e a ter uma agenda flexível para receber a direção de Deus. Esse é seu caso?
b. Ser rico para com Deus é ser rico de Deus! Isso implica viver uma vida pela graça e transbordando graça para todos os que perto de você estão. É viver tendo a misericórdia, o amor, triunfando sobre o juízo (Tg 2.12b);
c. Ser rico para com Deus é ser rico aos olhos de Deus. O sucesso para Deus e para seu Reino não está nos números que você possui (sua riqueza pessoal, seus celeiros). O sucesso para Deus está em sua obediência e comprometimento (fidelidade) a Ele. Noé foi um fracasso como evangelista, mas foi um sucesso como crente (Gn 6; Ez 14.14). Filipe estava “arrebentando” em Samaria até que o Espírito o levou para o deserto a fim de ganhar o mordomo de Candace para Jesus (At 8). Riqueza aos olhos humanos é quantidade. Riqueza aos olhos de Deus é fidelidade ao querer dele. Qual é a sua riqueza hoje?
d. Ser rico para com Deus é ser rico do galardão de Deus (1Co 15.58; Hb 6.10; 11.6). É experimentar a recompensa que vem do alto ou mesmo a que “lá em cima” está reservada para nós (2Tm 1.12). É se envolver na obra do Senhor com alegria e amor. É permitir que Ele o use para fazer grandes coisas.
Que tal a partir de agora almejar ser rico para com Deus?
Leitura Diária

segunda-feira ...1Tm 6.6-11
terça-feira ...Ap 3.14-22
quarta-feira ...Ec 5.10-6.2
quinta-feira ...Mt 17.24-27
sexta-feira ...2Co 9.6-15
sábado ...Fp 4
domingo... Lc 12.13-21

Congresso Infantil








terça-feira, 12 de outubro de 2010

Acerto de contas



Texto básico: Lc 12.35-48
Quando o mundo vai acabar? Ninguém aqui sabe, só Deus (Mc 13.32; At 1.6,7). O que sabemos é que quando uma data é estipulada, nesse dia o mundo não acabará. Aliás, uma das marcas do fim dos tempos é a presença de falsos profetas, os quais tentam prever a hora e a localização do fim (Mt 24.23-28). Pode acabar a qualquer momento, menos no dia apregoado. Esse papo de que pelo calendário Maia em 21 de dezembro de 2012 o fim chegará é incorreto. Talvez um espanhol tenha matado o responsável pelo calendário, ou mesmo tenha se enfadado de fazê-lo.
Interessante é que para fazer a ponte da parábola do servo vigilante, Jesus afirma que uma pessoa preocupada demais com a vida que vai levar aqui neste mundo dificilmente vai pensar na eternidade (vv.33,34). E quando não nos lembramos da eternidade, dificilmente acatamos a recomendação do profeta Amós (Am 4.12).
O Mestre queria reforçar que a vida é muito mais do que ter as coisas (v.23). Somente com uma visão na eternidade é que apreendemos esse conceito. E para tanto ele conjuga 3 parábolas com o mesmo fio condutor: a parábola do servo vigilante (vv.36-38); a parábola do pai de família e do ladrão (vv.39-41); e ainda a parábola do mordomo infiel (vv.42-48). Sendo assim, vamos aos principais ensinamentos dessa parábola.

1. O acerto de contas se dará numa hora não marcada

Quem sabe a hora de sua morte, hora essa em que se dará um acerto de contas com o Senhor? Quem sabe a hora da “morte do mundo”? Absolutamente ninguém. Interessante que Cristo reforça esse ensino na parábola entre os versos 36 e 37. Em que dia o senhor voltará do casamento? E em qual hora? A ausência da resposta traz a responsabilidade da prontidão de cada servo daquele senhor.
Contudo, muitos por acharem que essa hora está demorando demais para acontecer acabam relaxando. Sabem como o Senhor quer encontrar as coisas, conhecem a vontade dele, porém postergam o cumprimento desse querer. Ao invés da prontidão vivem o adiamento, achando que no último instante dá para resolver todas as coisas, limpar tudo. Para os desconfiados e descansados, o acerto de contas vai resultar em vergonha.
Outro grupo que vai se envergonhar diante do Senhor é o dos embaraçados. A parábola fala em encontrar os servos cingidos, isto é, tendo o cinto preso na cintura, junto aos lombos. Toda túnica presa com cinto permitia a pessoa ter movimentos rápidos. O contrário era um convite ao tropeço na própria roupa.
Embaraçado então era a pessoa que estava sem cinto. O que Jesus quer dizer? Que a mobilidade e a leveza fazem parte do Reino de Deus. Que os tropeços (Mt 18) não devem ser encontrados no Reino. E toda vez que alguém se envolve demais com coisas desta vida acaba tropeçando e caindo.
Cingido também era o que sempre estava pronto. Tal servo era extremamente vigilante. O Mestre quer dizer aqui que não é bom que para alguém ficar em estado de prontidão receba uma ordem para tal. Seja você alguém que está pronto sem precisar ouvir qualquer clarinada. Aos que estão prontos tanto faz se Cristo voltará amanhã (Ap 22.17,20) ou daqui a 3 milênios.
Servos cingidos também reagem melhor às dificuldades da vida. Quando sofre um baque ele enverga, contudo dificilmente quebra ou cai. Você está cingido?

2. Nesse acerto de contas importará mais o que você faz do que o que você deixou de fazer (vv.39,40)

Um dos grandes erros dos servos do Senhor é concentrar a postura na volta de Cristo, a um aniquilamento comportamental. Um bando de gente sem fazer nada de errado. Como se a contemplação do céu (At 1.10,11) fosse uma postura aprovada por Deus... É como se por um erro feito na pior hora do mundo (a volta de Jesus), uma pessoa pudesse perder a salvação. Nós não somos daqueles que creem que a salvação é obra de Deus? E em assim sendo, que não podemos perdê-la? Como então um pecado poderia anular a graça e a cruz de Cristo?
Há muitas pessoas que não vivem uma fé em Deus, mas um medo do retorno do Cristo. Para essas, a volta não será as bodas do Cordeiro, mas o dia do choro. Acabam vivendo mais com medo do inferno do que com alegria de servir a Deus. Ao invés de procurarem agradar ao Senhor (1Ts 4.1; 1Co 4.5) vivem tentando não desagradar a Ele.
Por isso, que tal pensar em ser achado fazendo algo certo? Mais pronto não é aquele que vive com medo de errar. Mais pronto é aquele que vive tentando acertar. Deus nos convida a agirmos e a deixarmos que Ele nos use até o fim.
Interessante é que para reforçar esse contraste, Jesus usa a figura do ladrão. Ele não destaca o erro do ladrão, mas o fator surpresa que ele tem. E isso funciona como uma advertência para a prontidão em relação à segunda vinda de Cristo (1Ts 5.2-4; 2Pe 3.10; Ap 3.3; 16.15; Mt 24.38,39). Prontidão essa que precisa ser traduzida como serviço ao Mestre.

3. No acerto de contas, o peso está sobre aquele a quem muito é dado (V.48)

O que você tem feito com aquilo que Deus lhe tem dado?
Os servos costumeiramente erram quando, após conhecerem a vontade e o caráter do Senhor, não cumprem com sua parte (v.47). Alguns chegam a se apropriar daquilo que lhe foi confiado. E isso gera um sentimento de posse e de independência do Senhor. Sabe como isso se manifesta? Em lideranças tirânicas dentro de igrejas, por exemplo. Para você que maltrata os servos do Senhor e que acha que os conservos são seus, há um duro juízo (v.46). A palavra no grego para castigar é a palavra que indica a segunda pior forma de morte naquele tempo: ser cortado ao meio. Talvez como uma forma de mostrar na morte, no castigo, o tipo de vida díspar e paradoxal que esse servo tinha: ser do seu Senhor, mas se conduzindo segundo os parâmetros de outro senhorio. Sim, porque a tirania e os maus-tratos pertencem ao Diabo.
Por vezes se manifestam também em gente que é dotada de enorme capacidade para o serviço, mas que se recusa a dedicar os talentos e dons que recebeu do Espírito na obra do Senhor. A você foi confiado o sustento dos conservos (v.42). E isso não pode ser adiado. O que você tem feito com tudo o que o Senhor lhe tem dado? Recursos, estudo... você tem retribuído a Deus?
Muitos esquecem que o Senhor confiou uma tarefa de destaque, que é a de ser mordomo (v.42). Mordomo no grego é oikonomos, aquele que faz as leis de uma casa ou que vela por essas leis. Alguém como um administrador ou mesmo a figura de uma governanta (hoje em desuso). Lembra-se de José na casa de Potifar ou mesmo no tempo que passou na prisão? Essa é a imagem que Deus quer passar sobre mordomia. Deus sempre está com os mordomos que se portam com lealdade e zelo. Como esteve com José no Egito, Ele estará com você.
Isso aumenta ainda mais o peso. Deus não só é o Senhor que nos confere capacidade (Fp 2.13), mas é aquele que nos acompanha o tempo todo no desempenhar de nossa mordomia.
Está sentindo um incômodo, um peso sobre os ombros? Seja então bem-vindo ao âmago da parábola do servo vigilante.

Conclusão
O mundo não vai acabar em 21/12/2012. Mas pode acabar em 2010, 2350, 5180... Fato é que a prontidão e vigilância, que são as tônicas do ensino de Jesus nessa parábola, não são para o futuro. São para o presente. Prontidão que se propõe ficar preparada daqui um tempo não é prontidão. Vigilância que não leva a cingir os lombos tampouco é vigilância.
Por isso ouse envolver-se na obra do Senhor. Seja um bom mordomo, um bom despenseiro de tudo quanto Ele lhe deu. Que haja no seu coração uma oração constante dizendo: “Deus, torna-me cada vez mais pronto para a volta do meu Senhor Jesus!”.
E que no dia do acerto de contas, você então ouça do Senhor: “bem-aventurado servo bom e fiel” (v.43).

Leitura Diária
segunda-feira ...2Pe 3.1-13
terça-feira ...Mt 24.29-31
quarta-feira... Mt 24.32-44
quinta-feira ...1Ts 5.1-11
sexta-feira... Mc 14.32-42
sábado... Mt 25.14-30
domingo... Lc 12.35-48

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Você foi feito para brilhar


Texto básico: LC 11.33-36
A uma geração que pedia um sinal (v.29) e aos fariseus que queriam atrelar Jesus a Belzebu (v.19) o Mestre fala da candeia. A candeia era o mais comum instrumento de iluminação na Palestina daquele tempo, normalmente mantida com um pavio formado de um pedaço de pano e azeite.
Conquanto esse trecho não possa ser qualificado de modo estrito como uma parábola, ele foi selecionado para nosso estudo devido à importância que ele tem e também à sua linguagem parabólica. É nessa passagem que convido você para tirar preciosas lições.
1. Num contexto imediato, quem era a candeia?
Jesus proferiu essas palavras para tipificar e contrastar aqueles que deveriam ter sido candeias (os fariseus) com aquele que era a própria candeia, a saber, o próprio Mestre. Para Jesus a candeia era todo aquele que detinha a Palavra de Deus, que a conhecia com profundidade e que procurava vivê-la com integridade de coração. Por isso em algum momento os fariseus tiveram a oportunidade de ser candeias. Eles conheciam a Palavra e se gabavam de detê-la. Mas infelizmente não a viviam (Mt 23).
É especialmente para eles que Cristo assevera que a “luz se torna trevas” (v.35). Na vida daqueles homens, a Palavra tinha perdido vida, fulgor, brilho. A religiosidade, os preceitos inúmeros (vv.38-44) não cumpridos, mas sempre do outro exigido, acabaram ofuscando suas vidas. De uma vocação para ser luz, candeia, acabaram se tornando em trevas. Ao invés de oferecerem a proximidade de um Deus amoroso e misericordioso, afastavam as pessoas do Senhor pela punição.
Conhecimento bíblico extremo sem um coração amoroso, sem vida com Deus, ao invés de fazer alguém brilhar, acaba escurecendo a vida e o ministério que Deus confiou a essa pessoa. Bíblia sem piedade (pode crer: alguns conseguem conjugar esse binômio!) produz farisaísmo e legalismo. E onde sobram regras falta Espírito (2Co 3.17). Ordem, ausência de confusão (1Co 14.32), não vem de regras, mas de intimidade com Deus. Quem é íntimo do Senhor vai ser da turma da paz, com ou sem regras.
A candeia também tipificava nesse contexto a própria luz do reino de Deus. Essa luz chamava-se Jesus de Nazaré. O Pai havia enviado o Filho para que as pessoas pudessem ser orientadas para a luz (Jo 1.4,5). Jesus é essa candeia que foi erguida quando crucificado no Calvário, sendo colocado no velador (Jo 3.14,15 e Lc 11.33). De uma forma maravilhosa Deus fez assim para que outros vejam a luz (v.33b).
Sendo Jesus a pura candeia de Deus, cabe a nós pô-la no velador. Isso implica glorificá-lo com a nossa vida. Resulta num crescimento da vida de Cristo em nós (Gl 2.20) e uma diminuição do nosso ego (Jo 3.30). É dedicar de modo simples e honesto toda a honra ao Senhor. É não ser “ladrão da Glória”, gente que se propala para receber louvor (Mt 6.5). Está a fim de ter um espírito humilde? Aos humildes está reservado o Reino (Mt 5.3) porque suas vidas apontam e focam sempre o Rei da Glória, a candeia celestial (Ap 21.23).
2. O propósito da candeia
De fato Jesus é essa candeia maior. Contudo de uma forma mais abrangente, podemos entender que cada um de nós, os que cremos nele, somos transformados em candeias neste mundo. Isso porque, assim como a candeia brilha uma luz que não é dela, mas que está nela, assim reluzimos a luz de Cristo em nós (Ct 2.10; Fp 2.15 – Foster no grego – luminares; astros celestiais que espelham luz e iluminam o mundo, tal como a Lua).
A candeia foi feita para brilhar. Não era para escondê-la. Assim também eu e você, uma vez “acesos” pelo Espírito fomos feitos para brilhar. Em outras palavras, Cristo é a luz que deve brilhar no cristão neste mundo tenebroso (Ef 6.12). Uma vez nosso “órgão de percepção espiritual” chamado coração iluminado por Cristo, irradiamos dessa luz para aqueles que nos cercam. Daí a necessidade de cuidado com o “enganoso coração” para que não se torne em trevas. Aliás, só há dois lugares no universo criado capazes de transformar luz em trevas: o buraco negro no espaço sideral, cuja densidade/massa é tão grande que “engole” até a luz, e o coração do homem que, uma vez em pecado, apaga o Espírito (1Ts 5.19).
Se somos candeia devemos resplandecer (v.36). A palavra no grego é a mesma para raio/relâmpago. Algo que é notado por muitos devido à luz que irradia. Seremos notados quando houver em nós ousadia, intrepidez (At 1.8; 4.29-31). Na verdade quando vivenciarmos a ousadia que nos foi dada pelo Espírito Santo (2Tm 1.7).
Você tem ousadia ao anunciar a Candeia do Céu? Ou o faz cheio de medo, de receio?
3. Como fazer a candeia brilhar
Jesus coloca todo o segredo nos olhos. A palavra no grego usada é aplous, que denota uma visão clara, em contraste com uma visão distorcida ou turva que muitos podem ter. No momento em que perdemos a clareza da consciência e do discernimento do que é certo ou errado, em que passamos a ter uma visão dupla das coisas, é sinal de que trevas se instalaram no coração.
Para que a candeia brilhe e ilumine é preciso que haja comunhão íntima com o Espírito. Para que sua vida resplandeça, é preciso que você fique sob influência dessa fonte própria de luz chamada Deus (1Jo 1.5). Não foi isso que aconteceu com Moisés quando o povo não podia vê-lo porque sua face resplandecia após subir no monte (Êx 34.29,30 e 2Co 3.7-16)? Somente andando como o Senhor (1Jo 2.6) é que vamos resplandecer.
Andar como o Senhor implica olhar as coisas de modo diferente. É ver as situações e provações sob a ótica divina. É transmitir com o olhar a luz e a verdade que estão na alma. É olhar tendo a motivação correta nesse olhar. É saber o que olhar e quando olhar. Muitas das trevas que alcançam o coração humano vêm através de um olhar. Os olhos e os ouvidos inundam o coração com coisas que prestam e com aquilo que é imprestável. Cabe a nós, se queremos ser de fato candeia, ter cuidado com aquilo que olhamos, isto é, com aquilo que importamos para a nossa alma.
Conclusão
Nosso alvo foi apresentado por Jesus: ser “como a candeia quando ilumina em plena luz” (v.36). Mas quando mesmo é que temos luz fraca?
a. Quando o conhecimento da Palavra vem desatrelado de piedade, de devoção a Cristo. Nessa hora a luz, que é a Palavra (Sl 119.105) se torna em trevas. Você deixa de brilhar e apaga o brilho de Deus em você, assim como os fariseus. Será que você se tornou assim? As pessoas têm vontade de estar perto de você e, quando se aproximam, sentem também vontade de estar mais perto de Deus, de orar (por exemplo)? Ou não? Se você inspira medo ao invés de vontade de se aproximar de Deus, é porque provavelmente a candeia está apagando ou, como nos mestres da Lei, já se apagou;
b. Percebemos nossa luz enfraquecida quando falta ousadia no brilhar, no testemunhar. Quando você como candeia prefere ficar debaixo do alqueire (v.33) ao invés de estar no velador é porque o pavio está sem “azeite”, sem presença do Espírito Santo. Como anda seu testemunho? Apagado, ou brilhando?
c. Quando importamos com os olhos aquilo que não presta para o nosso coração. Isso fará que tenhamos dúvidas até mesmo do que é certo ou errado. Será que você já está nesse dilema ético? Trevas escurecendo a luz que há em você?
Reaproxime-se agora do Senhor! Vença, domestique sua carne (Rm 7)! E sinta o prazer de ser usado pelo Senhor como luminar neste mundo tenebroso.
Leitura Diária

segunda-feira... Êx 34.29-35
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