quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Acostumados aos respingos da graça de Deus

Texto básico: Lucas 16.19-31
Sem dúvida alguma o capítulo 16 de Lucas é um dos mais difíceis de serem compreendidos nos evangelhos e na Bíblia. Por isso antes de tirarmos preciosas lições, para compreendermos de modo mais correto esse texto, é preciso entender o que a parábola do rico e Lázaro NÃO diz:
a. Fica claro nela que não há comunicação entre os mortos e entre mortos e vivos. A condenação à consulta aos mortos não é pela sua possibilidade de ocorrer, mas sim pelo abandono de Deus que ela representa e pela janela que se abre a Satanás e seus demônios na vida de pessoas que assim fazem (2Co11.14; Ec 9.5; Is 8.19-22; Lv 20.6). A própria expressão na parábola usada por Abraão diz que para um morto voltar a falar com vivos ele precisa ressurgir (v.31);
b. De igual modo fica claro que não há trocas possíveis entre o céu e o inferno. Jesus evidencia de modo interessante o que Ele disse sobre o mordomo infiel – use as riquezas para granjear amigos eternos (v.9). O rico nem fez isso com Lázaro. Mas na verdade, mesmo que tivesse feito, é ensino bíblico que não há trocas possíveis entre o céu e o inferno, assim como não há outro lugar para se estar na eternidade. Não existe, por exemplo, um “purgatório”;
c. Jesus também não estava beatificando a pobreza e condenando a riqueza. Se riqueza fosse algo ruim em si, o céu seria comparado a uma grande favela, com valões passando... O que Jesus sempre condenou foi o amor à riqueza, o ter por ter. O ensino do Mestre também contradizia a noção de que riqueza era sinal de bênção, e pobreza, por sua vez, de pecado. Essa heresia parece que está retornando no meio do povo evangélico brasileiro. Jesus, com essa parábola, simplesmente desdiz qualquer pensamento nesse sentido.
Sendo assim por que essa história teve um fim tão inusitado?
1. Porque o rico viveu sem precisar de Deus e Lázaro só viveu porque dependeu de Deus
Não estou aqui sacralizando a mendicância. Mas sim o estado de espírito que pode estar presente em cada um desses polos apresentados por Cristo na parábola.
Provavelmente o rico, por ser rico, não precisaria recorrer a Deus. Normalmente pessoas bem-sucedidas desenvolvem um excesso de autoconfiança que se traduz pelo sentimento que impede o florescimento da presença de Deus. Essa autoconfiança é a “independência”. Num sentido bíblico, todo brado de independência é acompanhado de morte, ao contrário do que pensava D.Pedro I.
Mas não era só pela possível postura de independência que o rico pode ter preterido Deus em sua vida. A parábola diz que ele vivia nababescamente (v.19), vestido de púrpura e de linho fino. O rico vivia no luxo e à sua porta havia um homem tão miserável que os cães lambiam suas feridas (v.20). Aquele rico era sem Deus, pois não manifestou um gesto de misericórdia por aquele miserável. Lázaro tinha que viver se esforçando para pegar as migalhas.
Além disso, ele nunca deu importância à Lei e aos profetas (vv.29,30). Ele sabia o que era a Palavra, mas não a vivia. Assim era também com sua família. Erraram por não conhecer “as Escrituras nem o poder de Deus” (Mc 12.24). Alguém vazio da Palavra é alguém vazio também de Deus.
Já Lázaro... esse tipifica aquele que vive pela fé. Gente que trilha o caminho da confiança que gera dependência. Seu próprio nome era uma confissão de fé. Lázaro quer dizer “Deus é a tua ajuda”. Enquanto viveu, Lázaro não teve ajuda de ninguém. O homem mais indicado para ajudá-lo nem tomou conhecimento dele. Sua única companhia visível na terra era de inoportunos cachorros. Porém parece que anjos estavam a servi-lo, pois assim que morre os anjos o acolhem para conduzi-lo ao céu (v.22). O rico tinha autoconfiança. Lázaro tinha uma confiança do Alto.
Entendo que se Lázaro tivesse saído debaixo da mesa e fosse para debaixo do céu (v.21) sua vida teria sido melhor. Ficar debaixo da mesa, da influência dos outros é ser fadado a comer migalhas. É ter uma vida construída pelas sobras. Mas ficar debaixo do céu... hum... era receber o Maná. O que você prefere? Ficar debaixo da influência de alguém ou debaixo de Deus?
Uma pena que a pobreza de Lázaro não o tenha aproximado ainda mais de Deus...
Quem é que Deus está colocando perto de você para que exerça misericórdia com essa vida?
2. O rico desfrutou da providência de Deus, enquanto Lázaro creu no Deus da Providência
Há uma cara doutrina bíblica que vem sendo esquecida por muitos. Trata-se da doutrina da providência. Por ela entende-se que há ações e cuidados de Deus que acabam recaindo sobre justos e injustos, sobre bons e maus, indistintamente.
Uma pessoa ímpia, perversa, que acorda em sua casa e se depara com um lindo dia, está sendo atingida pela providência divina. A chuva que cai, refresca a terra e abastece os reservatórios é sinal do cuidado de Deus (Ec 9). Uma vez a Palavra pregada sendo ouvida até mesmo por um ímpio que atenda suas recomendações, vai fazer a vida desse iníquo melhorar um pouco.
Quando se diz também que Deus está no controle da História, como recentemente juntou (anos 80-90) vários líderes mundiais para promover uma abertura no mundo comunista, estamos falando da providência divina. Quando um milagre atinge uma pessoa que não é crente, mas que recebeu a intervenção divina, falamos da providência divina. Como esquecer, por exemplo, aquele pedreiro que estava num andaime na parte final da construção de um prédio e que caiu de uma altura de 7 andares após uma rajada de vento numa piscina e não teve nada na queda, nem tampouco morreu afogado (sim, porque ele não sabia nadar!)? Isso é providência divina.
Mas a providência mesmo sendo maravilhosa e gigantesca, é só um aspecto de Deus. São gotas do Senhor! O rico desfrutou como ninguém dessa providência. Tudo o que o mundo tem para oferecer ele aproveitou. Paisagens paradisíacas, conforto, comodidade... tudo isso estava a seu alcance. E Ele podendo ter o Rio da graça (AP 22, Ez 47) continuou preferindo as “gotas”. Por isso é revelador o pedido que ele fez a Abraão de poder molhar a língua com uma gota que caísse do dedo (v.24).
A água que tem no céu é a água da vida, o rio da graça que corre do trono de Deus. O rico vivera toda sua vida com gotas. E agora na eternidade queria suportar seu tormento com gotas. Ora, o inferno é o lugar para quem experimentando as gotas da providência divina e aprovando-as (mesmo porque não tem como não gostar delas), não quis beber, se encharcar com o Rio da graça de Deus.
Conclusão
A parábola do rico e de Lázaro nos remete para algo inexorável da nossa vida: a morte. Ela alcança e alcançará a todos: ricos ou pobres, cultos ou indoutos, sãos ou doentes, bons ou maus, justos ou injustos. Interessante é que a equidade que a morte impinge a toda a humanidade como experiência é bem expressa pelos angolanos, que conhecem o cemitério como “lugar da igualdade”.
Essa parábola deve nos levar a uma santa insaciedade. Se o respingo é bom, é maravilhoso, quanto mais ser encharcado por esse rio. Mas para ser completamente imerso nesse Rio, você precisa assumir Jesus como a água da vida (Jo 4).
O Reino de Deus mata a sede existencial do homem por intermédio do Rei, que é Jesus. Não termine estes estudos sem se definir, sem tomar uma posição clara de ter a Jesus como seu único e suficiente salvador. Faça isso agora!
E se você já o tem, torne-se mordomo de Cristo. Os bens que Deus confiou a você são para servir aos outros. Desafio você a levantar a cabeça e ver quem está pegando as “migalhas da sua casa”. Será que é um amigo de seus filhos que tem uma família toda disfuncional e que vê sua casa como um oásis? Será que tem um pobre/mendigo de plantão ao seu alcance? Aprenda a usar o que está sob seu cuidado para abençoar outros. E assim brilhará o Sol da justiça sobre você (Is 58.8-12).
Leitura Diária
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domingo... Lc 16.19-31

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