quarta-feira, 10 de abril de 2013

As bases da fé cristã


Texto bíblico: Gálatas 1.1-5
Texto áureo: 2Pedro 1.2

Durante os próximos três meses, teremos o privilégio de estudar um dos primeiros escritos do Novo Testamento: a Carta de Paulo aos Gálatas. A obra pertence a um estilo literário específico: o gênero epistolar, que, entre outras características, revela:

• uma estrutura formal tríplice, composta por uma saudação inicial, o corpo da carta – que, no caso de Gálatas, apresenta um conteúdo apologético e doutrinal, em defesa do apostolado de Paulo, da justificação pela fé e da liberdade cristã[i]  –,  e uma breve conclusão;
• um caráter ocasional, pois essa carta foi escrita para atender às necessidades espirituais das igrejas da região da Galácia, na Ásia Menor[ii]. Os crentes gentios (Gl 3.8,9) dessa parte do Império Romano sofriam o assédio de mestres judaizantes, que conspiravam para desautorizar o apóstolo Paulo e, assim, abrir caminho para impor aos novos cristãos a observância da lei de Moisés e da circuncisão.  
Na carta aos gálatas, o apóstolo Paulo emerge como o mais intenso defensor da fé cristã em sua época. Às vezes, ele usava de secretários – amanuenses – aos quais ditava as cartas (Rm 16.22; Fm 1; 2Ts 1.1), mas, em Gálatas, ele demonstra intimidade ímpar com seus leitores, pois faz questão de “assiná-la” de próprio punho (Gl 6.11).
Nesta lição, focalizamos a saudação inicial da carta, colocando em destaque as palavras que formam a base da fé cristã, graça e paz, que passamos a considerar:
Graça – onde tudo começou!
As cartas que circulavam no tempo de Paulo traziam uma felicitação grega usual: charein, que significa saudação (ARA), saúde (ARC) (Tg 1.1; At 15.23). Nas mãos do apóstolo, essa saudação tornou-se charis, palavra grega que passou a significar para os cristãos o favor divino em suas vidas (At 11.23; Hb 13.25), sua razão de ser e de existir (At 20.24; 1Co 15.10).
Interessante notar que Paulo reúne Deus Pai e Jesus Cristo como coautores da graça (Gl 1.3; Rm 1.7; 1Co 1.3), que, entre outras realidades, revela-se:
a)     uma oferta de amor eletivo (Rm 11.5; Ef 2.7), à semelhança da inclinação incondicional do Senhor pelo povo de Israel, no Antigo Testamento (Os 11.1);
b)     um dom superabundante, mais do que suficiente para cumprir o propósito redentor do Pai (Rm 5.17-20; 2Co 9.8; Ef 1.7);
c)     um fator multiplicador para a igreja cristã, que responde ao chamado gratuito para a salvação (2Co 4.15);
d)     uma possibilidade real de crescimento e de firmeza para o salvo (2Pe 3.18);
e)     um estilo de vida marcado, não pela observância de leis e códigos religiosos, mas pela disposição humilde de depender do Senhor e de sua orientação (2Co 1.12; Gl 2.21).
Em Gálatas, Paulo explica que a graça de Deus foi efetivada pelo desprendimento do próprio Deus, ao entregar seu Filho à morte de cruz (Gl 1.6; Gl 6.14). Com efeito, sem essa oferta graciosa da parte de Deus, todos estariam perdidos (Rm 3.23).
Paulo ilustra a graça divina ao citar Isaque (Gl 4.28), que é o cumprimento da promessa divina de descendência a Abraão e tipifica o papel de todos os que herdaram a salvação pela graça e favor divinos.
É maravilhoso saber que todos os homens são objetos dessa livre dádiva da redenção, uma vez que não há intervenção humana que possa causar a salvação (Is 45.22; At 15.11a; Ef 2.5) nem substituição para o ato salvador de Cristo Jesus (At 4.12). Mas, em contrapartida, somos alertados e comissionados a viver “na graça de Cristo” (Gl 6.18) para não tornar vã a graça de Deus, pela incredulidade (2Co 6.1).
Tempo de refletir sobre a graça
A Palavra de Deus, no livro de Hebreus, enumera três desafios em relação à graça divina:
chegar com ousadia e confiança ao trono da graça (Hb 4.16), onde Cristo está assentado a interceder por nós (Hb 8.1,2; 12.2; Ap 8.3);
não se privar da graça de Deus (Hb 12.15), como na atitude pecaminosa de Esaú, que não se demonstrou arrependido e, por isso, foi rejeitado pelo Senhor (Hb 12.16,17). Tal exemplo serve de alerta para os que insistem em manter um coração obstinado e voltado para as coisas deste mundo (Jd 4);
reter a graça de Deus (Hb 12.28), atitude que demonstra gratidão (Cl 3.15b) e que produz serviço com reverência e temor (Sl 2.11).
Diante de tão grandes desafios, as indagações seguintes nos fazem refletir:
ð  demonstramos absoluta confiança de que encontraremos ajuda para nossas necessidades pessoais em Deus (Rm 8.26; Sl 27.9)?
ð  Temos sido mais “amigos do mundo”, ou “amigos de Deus (Tg 4.4)? Como escapar da corrupção do mundo, se nele vivemos (2Pe 1.3-8)?
ð  Qual seria nossa autoavaliação – 0 a 10 – no quesito serviço a Deus?

Paz, onde tudo terminou!
Paulo acrescentou outra palavra do vocabulário grego à saudação inicial de suas cartas: eirene, que significa paz. O termo deriva originalmente do hebraico shalom e denota o absoluto bem-estar propiciado pela presença do Deus pacificador (Hb 13.20; Is 9.6,7).
Em Gálatas 1.3, a paz torna-se um sinônimo para a reconciliação entre Deus e o pecador, pela mediação de Cristo (Is 53.5; Cl 1.20; Ef 2.14). Desse modo, a graça precede a paz, que, por sua vez, serve-lhe de selo (Sl 4.8).

Em Gálatas, a bênção da paz apresenta um aspecto prático, pois ela é parte essencial do fruto do Espírito (Gl 5.22), com as implicações seguintes:

a)  apresenta uma dimensão vertical e interior – a verticalidade da paz pode ser apreendida pela transformação do relacionamento do homem com Deus, que foi interrompido pelo pecado (Rm 5.12). Assim, em paz com Deus, cada pecador é reconduzido ao estado de comunhão com ele (Jó 22.21; Is 26.3). Já a estatura interior da paz percebe-se pela harmonia e restauração do espírito humano, antes fragmentado pelo pecado e repleto de culpa (Is 38.17; Lc 7.50). Em Cristo, enfim, a alma pode descansar em completa segurança (Mt 11.28,29).

b)  apresenta uma dimensão horizontal e exterior – no que se refere ao conceito da horizontalidade da paz, ele abrange o relacionamento do homem com o seu semelhante (2Co 13.11; 1Pe 3.11). Desse princípio, aferimos que a paz social é uma exigência da justiça de Deus para a vida humana (Rm 14.17). Assim é que a justiça divina encontra sua semeadura entre os pacificadores (Tg 3.18; Is 55.12a).

Tempo de refletir sobre a paz
A violência é o retrato vívido da sociedade em que vivemos. Assusta ler sobre a violência física – a rádio CBN publicou em seu sítio a notícia de que o Brasil ocupa a quarta pior colocação na classificação dos países violentos[iii] – mas a violência simbólica, como a que é promovida pelos meios de comunicação (TV, cinema), sob a forma de uma produção cultural, produz um efeito muito mais intenso em nós.

Que fazer? Como atuar na condição de agentes da paz de Deus neste mundo?

Primeiro, pela oração (1Tm 2.1,2). O atual estado de coisas demonstra a fragilidade de nossas instituições políticas. Por essa razão, devemos orar por nossos governantes, a fim de que atuem como ministros de Deus, para a manutenção da justiça e da paz (Rm 13.4);

Segundo, ao guardar, com zelo santo, a unidade espiritual (Ef 4.1-3). Isso significa adotar um espírito humilde, manso e longânime (2Tm 2.24), caracterizado pela prontidão para perdoar e pela capacidade de suportar pacientemente as fraquezas uns dos outros (Cl 3.13).

Conselhos úteis 

É da autoria de Charles Spurgeon a frase que diz: “A profissão de fé sem a graça divina é a pompa funerária de uma alma morta”. Concordo. Não somos salvos por nossos próprios méritos. Atitudes cerimoniais e religiosas não produzem salvação (Lc 18.18-23), apenas a refletem (Fp 1.6-11). A verdadeira salvação nos alcança pelo favor imerecido de Deus. O salvo encontra-se escondido em Cristo, uma vez que morreu para o mundo e o pecado, pelo ato justificador da fé (Cl 3.3; Rm 5.1).

É da autoria do Senhor Jesus a frase que diz: Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). Esse é o nosso chamado para a paz (Cl 3.15a). Assim, quem deseja ser feliz deve promover a paz (Rm 10.15; Ef 6.15), amar a paz (Zc 9.10b) e viver na paz de Deus (Rm 12.18), que excede todo o entendimento, guarda os corações e sentimentos humanos, pela obra redentora de Cristo Jesus (Fp 4.7).


[i] WALLACE, Daniel B. Galatians: introduction, argument and outline Acessado em 17 de janeiro de 2013, às 18h00>.
[ii]  As duas teorias sobre os destinatários da Carta não são conclusivas, mas, nesta lição favorecemos a tese conhecida como teoria da Galácia do Sul (Bruce, F. F. Galatian problems: North or South Galatians? – Publicação da Biblioteca John Rylands 52.2 (1970): p. 243-266 – pode ser acessado ou baixado em www.ntgateway.com/paul-the-apostle/galatians/introductory-materials).

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