quarta-feira, 9 de junho de 2010

UMA CONTRACULTURA NUM MUNDO PERDIDO

Texto bíblico: Romanos 12

John Stott, em um de seus livros, chamou o evangelho de “contracultura”. Segundo ele, os cristãos devem viver em oposição à cultura do mundo. Este está sob o domínio do Maligno, e nós somos de Deus (1Jo 5.19). Além da cultura do mundo, há também uma “teologia do mundo”, aceita por alguns setores da igreja e alguns crentes. Acham que a igreja deve ser “amiga do mundo”. Esta não deve ser sua preocupação principal, mas sim ser leal ao seu Senhor, à sua vocação, aos valores que recebeu (Tg 4.4).
Há hoje muita gente fascinada pelos valores do mundo, diluindo a mensagem de Jesus para torná-la mais suave. A preocupação com megaigrejas tem levado alguns a esquecerem que a igreja deve, antes de tudo, lealdade a Jesus e ao seu evangelho. Somos uma contracultura num mundo perdido. Não que devamos nos portar arrogantemente, mas que devemos ser santos e não enamorados do mundo.

1. O ponto de partida
Partamos de Romanos 12.1,2. Após expor o conteúdo do evangelho até o capítulo 11, Paulo trata de ética (12.1). Começa com “pois”. O grego é oûn, uma partícula conclusiva, com o sentido de “portanto”. O que se segue é consequência do anterior. Por tudo que foi dito (o conteúdo do evangelho) deve-se viver de uma maneira. Primeiro a teologia (o credo). Depois a ética (a conduta). O que uma pessoa crê afeta sua maneira de ser. O seguidor de Jesus não vive como o mundo sem Jesus vive (Ef 4.18,19). Ele deve apresentar-se a Deus e não se amoldar ao mundo (Rm 12.2). “Não vos conformeis” significa “não tomar a forma do mundo”. O cristão não é massa de bolo que toma a forma de onde é posta. Ele é do Senhor, na igreja, na casa e no mundo. Ele se nega a ser moldado pelos padrões do mundo.
Devemos apresentar nossos “corpos” como um ato de culto a Deus (v. 1). O grego é sômata, que significa mais que a parte física. É “a realidade da existência, a pessoa concreta”. É a totalidade da pessoa, não só o físico. O cristão deu toda a vida a Cristo: física, mental, emocional e espiritual. Por isso, sua “mente” deve ser transformada (v. 2). “Transformai-vos” é metamorfouste, de onde vem “metamorfose”, que é passar para outro estágio. É a lagarta que se transforma em borboleta.
Eis o ponto de partida. Cremos em Jesus, assumimos o compromisso de uma vida santa. A ética segue a fé. Quem crê rompeu com o passado. O crente em Jesus não é massa de manobra. Ele ousa nadar contra a correnteza.

2. Como o Novo Testamento vê o mundo
Precisamos recuperar a visão bíblica da vida. Muitos crentes são moldados pela mídia e têm uma visão romântica do mundo. Outros o amam. A igreja contemporânea é mundana. Até os critérios para se avaliar uma igreja são mundanos e não bíblicos: a arquitetura do templo, o volume de entradas, o nível social dos membros. O critério deveria ser: quanto de Cristo ela exibe ao mundo?
Como o Novo Testamento vê o mundo? Não o cosmos ou as pessoas que Deus amou (Jo 3.16), mas “mundo” como um sistema de valores corrompidos?
Não é um olhar positivo. Somos filhos de Deus, no meio de uma geração corrupta (Fp 2.15). No longo texto de Efésios 4.17 a 5.21 há uma descrição do mundo, que é como não devemos ser. Por isso, “Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15).
A igreja de Jesus não pode ser moldada pelo mundo nem ceder aos seus apelos. A conversa de “igrejas amigas do mundo” é perigosa. Não devemos ser beligerantes nem nos julgarmos superiores. Mas, desde o convite divino ao pai da fé, o chamado é “anda em minha presença, e sê perfeito” (Gn 17.1).
Isto não é legalismo nem fundamentalismo. Chamar alguém de legalista e fundamentalista é obra de quem não tem argumento. Isto é santidade. O padrão de vida para a igreja está no Novo Testamento, não em pesquisas de opinião ou em planos de marqueteiros eclesiásticos. Ela deve ser santa, e não bajuladora de pecadores. Paulo diz que é assim que devemos viver (Cl 1.10-12).

3. A santidade é moral, não litúrgica
No judaísmo a santidade era litúrgica. Expressava-se por ritos. No evangelho é moral. Ser santo não é adotar posturas no culto. É ter uma moral sadia. A santidade se liga ao caráter. Há uma série de declarações de Paulo que podem ser chamadas de “éreis” e “sois”. Elas mostram o que éramos antes da conversão, e o que somos agora. Entre algumas passagens “éreis”, que mostram nosso passado e como não mais devemos ser, estão Romanos 6.20,21, 1Coríntios 6.9-11, 12.2, Efésios 5.8 e Colossenses 1.21. Veja-se ainda 1Pedro 4.3. Entre as passagens “sois” estão Romanos 1.6, 1Coríntios 1.30,31, 3.16,17, 5.7 e 6.19,20, Efésios 2.19-22, 5.1-8 e 1Tessalonicenses 5.5.
O exame destas passagens mostra que a conversão é um divisor de águas na vida moral da pessoa. Mudou seu destino final, de inferno para céu. Mudou sua vida aqui na terra. Seus valores mudaram. Quem aceita a Cristo tem um novo jeito de viver. O comportamento do mundo não é sadio. Podemos nos acostumar com o adultério, o roubo, o homossexualismo, a violência, porque a mídia despeja estas coisas em nossas casas e nos anestesia. Mas elas são pecado! Mesmo que as leis humanas as autorizem e punam quem as combatam, elas são pecado! A Bíblia diz que são pecado. A santidade é moral, e não gestual, como levantar as mãos, ou de volume nos cânticos. Santidade é caráter de acordo com o padrão bíblico.

4. A santidade é relacional, não mística
Na Idade Média havia os “santos no poleiro”. Eram pessoas que subiam a uma plataforma sobre um alto poste e ali ficavam anos a fio. Alguns, quando retirados, tinham os membros inferiores atrofiados. Isolavam-se do mundo, viviam de comida que lhes davam e ficavam ao relento. Eram inúteis à sociedade. Santos no poleiro não ajudam o mundo em nada.
Vivemos num mundo altamente individualista. Na cultura atual, chamada de pós-moderna, prevalece o individual sobre o coletivo. Somos uma sociedade fragmentada, em que cada um busca seu interesse. Um mundo mesquinho.
A igreja é uma comunidade e não um bando de solitários. “Deus faz que o solitário viva em família” (Sl 102.6) e isto acontece na igreja. Somos postos como família, para nos relacionar uns com os outros. Na igreja nos agrupamos como pessoas para exercitarmos a fé, aprendermos uns dos outros, aperfeiçoarmos uns aos outros, e recebermos forças para vivermos no mundo. Vivemos em grupo, exercemos a fé em grupo, e vivemos no mundo, como cristãos. A vida cristã não é vida no poleiro, mas bondade nas relações (Ef 4.32). O amor cristão não busca seus próprios interesses (1Co 13.5). Volta-se para os outros. A igreja de Jerusalém e Barnabé nos mostram isso (At 4.32-37). Os crentes devem ter vidas entrelaçadas, sendo responsáveis uns pelos outros, como se vê em 2 Coríntios 8.1-5. Muita gente levanta um poleiro espiritual, no culto, onde canta, louva, ora, mas não se envolve com os necessitados nem com a obra do reino em geral. Esta santidade mística é desvirtuada. Santidade é relacional, não intimista, apenas eu e Deus. Sou eu, Deus e meu próximo. Isto é a igreja: Deus e nós, e não Deus e eu. Isto é santidade: relações corretas com Deus e com o próximo.
Quando saímos do culto, fortalecidos pela comunhão com Deus e com os irmãos, vamos ao mundo testemunhar nossa fé. O caráter cristão, prova da nossa fé, se vê em nossas relações. Mostra misericórdia, apoio aos fracos (Rm 15.1, 1Ts 5.14) e retidão na vida. É melhor ser ingênuo e ultrapassado que ser cruel e frio como o mundo. Deus vê e julga.

Para pensar e agir

1. Não estamos em guerra com o mundo, mas não devemos amá-lo ou cortejá-lo. Nosso amor é a Deus.
2. A solidariedade é uma das marcas da fé cristã. Sem ela, há apenas conversa oca. A santidade não são palavras. São atitudes e gestos. É o que o mundo precisa ver.
3. O que você tem feito para demonstrar solidariedade?

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