Texto
Bíblico: Números 8.5-26
Introdução
O assunto pode até ser batido
entre nós, mas a verdade é que vez por outra é ouvida a expressão levita em
relação aos músicos nas igrejas, especialmente àqueles que participam da “equipe
de louvor”. É correto chamar os músicos das igrejas de levitas?
1.
Quem são os levitas?
A Bíblia nos informa
sobre a importância da música no culto. No tempo de Davi e Salomão, o
ministério da música era uma parte integrante do culto hebraico. Os músicos
vinham da tribo levítica e eram obreiros de tempo integral, separados para o
trabalho do culto.
“Dos trinta e oito mil
levitas, quatro mil foram separados para servir ao Senhor, com os instrumentos
musicais feitos por Davi”[1].
Em 1Crônicas encontramos
os deveres dos diferentes levitas e, entre eles, os músicos. Quenanias, chefe
dos levitas, foi citado como encarregado dos cânticos (1Crônicas 15.22).
Os
levitas eram pessoas separadas para ministrar a vida espiritual de Israel. Eles
tinham também a responsabilidade de cuidado e manutenção do Templo.
O levita era isento de
alguns compromissos: “vos notificamos que não é permitido cobrar impostos,
tributos ou taxas de nenhum dos sacerdotes, levitas, cantores, porteiros,
servidores do templo e de outros que trabalham nesse templo” (Esdras 7.24).
A
questão fundamental é que nos tempos do Antigo Testamento, todo músico era
levita, mas nem todo levita era músico.
Levi, terceiro filho de
Jacó e Lia (Gênesis 19.34), e sua tribo foram eleitos por Deus para cuidar das
questões que envolviam o culto em Israel. Moisés e Arão eram da tribo de Levi
(Êxodo 2.1, 4.14, 6.16-27). Esta tribo foi separada das demais, sendo incumbida
de conduzir os sacrifícios, de desmanchar, transportar e erguer o tabernáculo
no tempo de peregrinação.
Os levitas tinham um
ministério auxiliar aos sacerdotes. O serviço dos levitas começava quando
atingiam a idade de vinte e cinco anos, indo até os cinquenta (Números
8.24-26). Posteiromente, quando Davi estabeleceu um local fixo para a arca da aliança,
a idade foi baixada para vinte anos.
O sustento dos levitas
vinha do dízimo do povo. Eles não possuíam herança na terra; nenhuma porção da
Terra Prometida lhes coube (Números 18.23). Por outro lado, os israelitas tinham
grandes responsabilidades com os filhos de Levi (Deuteronômio 12.12, 18-19;
14.28-29).
2.
Temos levitas hoje?
Com essa interrogação latejando
em minha mente, pesquisei algumas opiniões sobre o assunto. É sempre difícil a
tendenciosa tarefa de selecionar uma ou outra dentre tantas opiniões, mas, por
questões de tempo, espaço e concordância, fiquei com duas, como seguem:
José Barbosa Júnior foi
tão enfático e preciso que o citarei na íntegra: “Como tirados de folhas
amareladas pelo tempo, eles surgem para atrapalhar a já atrapalhada igreja
evangélica de nossos dias. São os “levitas”, os grandes homens e mulheres que
ministram louvor em várias igrejas pelo país. Um pouquinho só de
conhecimento bíblico já nos faz ver que por trás disso tudo há um grande
equívoco. Um movimento re-judaizante, com fortes tendências neo-pentecostais
traz em seu bojo figuras como essa, tema de nosso breve comentário. (...) Quem
se diz levita, não sabe o que está dizendo. Creio que o desejo de ser
levita surge, antes de qualquer coisa, de uma vontade de possuir títulos
nobres, o que é bem comum em nosso meio. Apóstolos, bispas, bispos, que assim
se autodenominam são comuns em nossos arraiais. Gente que carece de
profundidade bíblica e de seriedade no modo de encarar a verdade revelada.
Gente que fica buscando no Antigo Testamento coisas que já foram abolidas há
muito tempo, há pelo menos 2.000 anos” [2].
A segunda opinião vem
de Josaías Júnior, que publicou um interessante artigo com o título “7 razões
para não chamar músicos de ‘levitas’” [3].
Citarei algumas razões, comentando-as:
1. Nem todos os levitas eram músicos.
Já falamos sobre isso no tópico anterior. A Bíblia fala de levitas que cuidavam
da música, mas também fala de outras atividades levíticas envolvendo o ambiente
de culto, como os sacrifícios e tarefas administrativas e operacionais (limpeza
e organização do espaço, por exemplo).
2. O chamado levítico originalmente
envolvia toda a humanidade. O chamado para a adoração e o
cuidado do “templo” é para todos, dado aos nossos primeiros pais, assim como o
casamento, a família, o trabalho e o descanso.
3. O levita tinha um papel de
mediador, assumido por Cristo. Os levitas, como
ungidos do Senhor, tinham o papel de mediar a aliança entre Deus e o povo de
Israel. Esse papel hoje é perfeitamente cumprido por Jesus, nosso supremo
Pastor e sumo sacerdote.
4. Chamar os músicos de hoje de
levitas cria uma divisão entre crentes “levitas” e “não levitas”.
Essa razão é mais prática que teológica. Essa divisão entre os “ministros de
louvor” e a congregação não é saudável e traz problemas no entendimento da
verdadeira espiritualidade. Sabemos que aqueles que vão à frente para ministrar
devem ter um cuidado todo especial com as suas vidas, mas isso não faz deles
“supercrentes”, não os coloca numa condição superior aos demais. Todos somos aceitos
por Deus, todos o louvamos, não só um determinado grupo no culto.
As opiniões que
acabamos de conhecer são valiosas, mas cada um de nós deve entender a razão
pela qual não é correto associar os músicos de hoje aos levitas do Antigo
Testamento. É mais do que uma questão de nomenclatura, e não deve ser
assimilada sem pensar ou por autoritarismo. É necessário entender que o
ministério levítico é muito mais abrangente do que o ministério da música.
3.
Poderíamos ter levitas hoje?
O fato é que, biblicamente
falando, não os temos, mas poderíamos? Não
seria justo ressuscitar a figura do levita do Antigo Testamento assumindo
somente os bônus da função. Há coisas mais leves no ministério levítico,
mas há aquelas bem mais pesadas.
Devemos lembrar que os
levitas eram escolhidos, consagrados e separados para o trabalho em tempo
integral, ou seja, dedicação exclusiva, e recebiam por isso. Mas, poderia ser
que hoje o sustento do levita ficasse aquém do mercado de trabalho.
Um levita atual teria
de estar disposto a limpar o templo, abrir e fechar, esperando que a última
pessoa se retire, com paciência e amor, repetidas vezes. Caberia ao levita a
zeladoria da igreja. Não sei se seria muito bom misturar as coisas. Penso que
não seria produtivo o trabalho do músico acumulando tantas outras
responsabilidades.
Por outro lado, voltar
ao sistema levítico afetaria drasticamente o voluntariado na igreja. Formaríamos
equipes de levitas para todas as áreas, em tempo integral e com seus sustentos,
e os que quisessem servir voluntariamente naquelas áreas ficariam no “banco de
reservas”.
Na verdade, a questão é
complexa. Há muitos outros argumentos, até mesmo os favoráveis.
Posso estar errado, mas
tomo a coragem de afirmar que um retorno
ao ministério levítico hoje, além dos problemas bíblico-teológicos, é uma
questão de vaidade, nada além de vaidade. Um cristão que deseja trabalhar
para o Senhor não precisa se rebaixar a uma questão de nomenclatura.
Para
pensar e agir
Seria ideal se
pudéssemos dar condições para que todos os músicos da igreja atuassem em tempo
integral, cuidando do culto, diariamente. Mas essa realidade está distante da
maioria absoluta de nossas igrejas. Os recursos não são suficientes para
tamanha estrutura.
Mas, embora não
recebendo dinheiro, é importante que cada pessoa dê o seu melhor no exercício
do ministério cristão, nas suas múltiplas áreas.
Vale a pena a reflexão:
estamos exercendo os nossos dons e ministérios da melhor forma possível, ou
estamos “empurrando com a barriga”? Que nota daríamos para o nosso compromisso
com Deus e a sua igreja?
Leituras
Diárias
Segunda: Salmo 119.97-120
Terça: Salmo 119.121-144
Quarta: Salmo 119.145-176
Quinta: Salmos 120, 121 e 122
Sexta: Salmos 123, 124 e 125
Sábado: Salmos 126, 127 e 128
Domingo: Salmos 129 e 130
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