quarta-feira, 6 de março de 2013

Músicos ou Levitas?


Texto Bíblico: Números 8.5-26

Introdução

O assunto pode até ser batido entre nós, mas a verdade é que vez por outra é ouvida a expressão levita em relação aos músicos nas igrejas, especialmente àqueles que participam da “equipe de louvor”. É correto chamar os músicos das igrejas de levitas?

1. Quem são os levitas?

A Bíblia nos informa sobre a importância da música no culto. No tempo de Davi e Salomão, o ministério da música era uma parte integrante do culto hebraico. Os músicos vinham da tribo levítica e eram obreiros de tempo integral, separados para o trabalho do culto.
“Dos trinta e oito mil levitas, quatro mil foram separados para servir ao Senhor, com os instrumentos musicais feitos por Davi”[1].
Em 1Crônicas encontramos os deveres dos diferentes levitas e, entre eles, os músicos. Quenanias, chefe dos levitas, foi citado como encarregado dos cânticos (1Crônicas 15.22).
Os levitas eram pessoas separadas para ministrar a vida espiritual de Israel. Eles tinham também a responsabilidade de cuidado e manutenção do Templo.
O levita era isento de alguns compromissos: “vos notificamos que não é permitido cobrar impostos, tributos ou taxas de nenhum dos sacerdotes, levitas, cantores, porteiros, servidores do templo e de outros que trabalham nesse templo” (Esdras 7.24).
A questão fundamental é que nos tempos do Antigo Testamento, todo músico era levita, mas nem todo levita era músico.
Levi, terceiro filho de Jacó e Lia (Gênesis 19.34), e sua tribo foram eleitos por Deus para cuidar das questões que envolviam o culto em Israel. Moisés e Arão eram da tribo de Levi (Êxodo 2.1, 4.14, 6.16-27). Esta tribo foi separada das demais, sendo incumbida de conduzir os sacrifícios, de desmanchar, transportar e erguer o tabernáculo no tempo de peregrinação.
Os levitas tinham um ministério auxiliar aos sacerdotes. O serviço dos levitas começava quando atingiam a idade de vinte e cinco anos, indo até os cinquenta (Números 8.24-26). Posteiromente, quando Davi estabeleceu um local fixo para a arca da aliança, a idade foi baixada para vinte anos.
O sustento dos levitas vinha do dízimo do povo. Eles não possuíam herança na terra; nenhuma porção da Terra Prometida lhes coube (Números 18.23). Por outro lado, os israelitas tinham grandes responsabilidades com os filhos de Levi (Deuteronômio 12.12, 18-19; 14.28-29).

2. Temos levitas hoje?

Com essa interrogação latejando em minha mente, pesquisei algumas opiniões sobre o assunto. É sempre difícil a tendenciosa tarefa de selecionar uma ou outra dentre tantas opiniões, mas, por questões de tempo, espaço e concordância, fiquei com duas, como seguem:
José Barbosa Júnior foi tão enfático e preciso que o citarei na íntegra: “Como tirados de folhas amareladas pelo tempo, eles surgem para atrapalhar a já atrapalhada igreja evangélica de nossos dias. São os “levitas”, os grandes homens e mulheres que ministram louvor em várias igrejas pelo país. Um pouquinho só de conhecimento bíblico já nos faz ver que por trás disso tudo há um grande equívoco. Um movimento re-judaizante, com fortes tendências neo-pentecostais traz em seu bojo figuras como essa, tema de nosso breve comentário. (...) Quem se diz levita, não sabe o que está dizendo. Creio que o desejo de ser levita surge, antes de qualquer coisa, de uma vontade de possuir títulos nobres, o que é bem comum em nosso meio. Apóstolos, bispas, bispos, que assim se autodenominam são comuns em nossos arraiais. Gente que carece de profundidade bíblica e de seriedade no modo de encarar a verdade revelada. Gente que fica buscando no Antigo Testamento coisas que já foram abolidas há muito tempo, há pelo menos 2.000 anos” [2].
A segunda opinião vem de Josaías Júnior, que publicou um interessante artigo com o título “7 razões para não chamar músicos de ‘levitas’” [3]. Citarei algumas razões, comentando-as:
1.      Nem todos os levitas eram músicos. Já falamos sobre isso no tópico anterior. A Bíblia fala de levitas que cuidavam da música, mas também fala de outras atividades levíticas envolvendo o ambiente de culto, como os sacrifícios e tarefas administrativas e operacionais (limpeza e organização do espaço, por exemplo).
2.      O chamado levítico originalmente envolvia toda a humanidade. O chamado para a adoração e o cuidado do “templo” é para todos, dado aos nossos primeiros pais, assim como o casamento, a família, o trabalho e o descanso.
3.      O levita tinha um papel de mediador, assumido por Cristo. Os levitas, como ungidos do Senhor, tinham o papel de mediar a aliança entre Deus e o povo de Israel. Esse papel hoje é perfeitamente cumprido por Jesus, nosso supremo Pastor e sumo sacerdote.
4.      Chamar os músicos de hoje de levitas cria uma divisão entre crentes “levitas” e “não levitas”. Essa razão é mais prática que teológica. Essa divisão entre os “ministros de louvor” e a congregação não é saudável e traz problemas no entendimento da verdadeira espiritualidade. Sabemos que aqueles que vão à frente para ministrar devem ter um cuidado todo especial com as suas vidas, mas isso não faz deles “supercrentes”, não os coloca numa condição superior aos demais. Todos somos aceitos por Deus, todos o louvamos, não só um determinado grupo no culto.
As opiniões que acabamos de conhecer são valiosas, mas cada um de nós deve entender a razão pela qual não é correto associar os músicos de hoje aos levitas do Antigo Testamento. É mais do que uma questão de nomenclatura, e não deve ser assimilada sem pensar ou por autoritarismo. É necessário entender que o ministério levítico é muito mais abrangente do que o ministério da música.

3. Poderíamos ter levitas hoje?

O fato é que, biblicamente falando, não os temos, mas poderíamos? Não seria justo ressuscitar a figura do levita do Antigo Testamento assumindo somente os bônus da função. Há coisas mais leves no ministério levítico, mas há aquelas bem mais pesadas.
Devemos lembrar que os levitas eram escolhidos, consagrados e separados para o trabalho em tempo integral, ou seja, dedicação exclusiva, e recebiam por isso. Mas, poderia ser que hoje o sustento do levita ficasse aquém do mercado de trabalho.
Um levita atual teria de estar disposto a limpar o templo, abrir e fechar, esperando que a última pessoa se retire, com paciência e amor, repetidas vezes. Caberia ao levita a zeladoria da igreja. Não sei se seria muito bom misturar as coisas. Penso que não seria produtivo o trabalho do músico acumulando tantas outras responsabilidades.
Por outro lado, voltar ao sistema levítico afetaria drasticamente o voluntariado na igreja. Formaríamos equipes de levitas para todas as áreas, em tempo integral e com seus sustentos, e os que quisessem servir voluntariamente naquelas áreas ficariam no “banco de reservas”.
Na verdade, a questão é complexa. Há muitos outros argumentos, até mesmo os favoráveis.
Posso estar errado, mas tomo a coragem de afirmar que um retorno ao ministério levítico hoje, além dos problemas bíblico-teológicos, é uma questão de vaidade, nada além de vaidade. Um cristão que deseja trabalhar para o Senhor não precisa se rebaixar a uma questão de nomenclatura.

Para pensar e agir

Seria ideal se pudéssemos dar condições para que todos os músicos da igreja atuassem em tempo integral, cuidando do culto, diariamente. Mas essa realidade está distante da maioria absoluta de nossas igrejas. Os recursos não são suficientes para tamanha estrutura.
Mas, embora não recebendo dinheiro, é importante que cada pessoa dê o seu melhor no exercício do ministério cristão, nas suas múltiplas áreas.
Vale a pena a reflexão: estamos exercendo os nossos dons e ministérios da melhor forma possível, ou estamos “empurrando com a barriga”? Que nota daríamos para o nosso compromisso com Deus e a sua igreja?

Leituras Diárias
Segunda: Salmo 119.97-120
Terça: Salmo 119.121-144
Quarta: Salmo 119.145-176
Quinta: Salmos 120, 121 e 122
Sexta: Salmos 123, 124 e 125
Sábado: Salmos 126, 127 e 128
Domingo: Salmos 129 e 130


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