quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um Investimento sem resultado



Texto básico: Lucas 13.6-9
Uma das experiências mais frustrantes que um ser humano pode ter é a falta de retorno. Pais que investem anos em filhos, que por sua vez não dão nenhum retorno a eles; igrejas que investem em seminaristas que simplesmente não vingam; pastores que investem em igrejas que não saem do lugar; amigos que “carregam as fichas” numa amizade e que na hora de maior aperto são abandonados. Sem dúvida alguma, não ter resultado em um investimento é muito frustrante.
Frustração é o sentimento do coração de Deus quando contempla uma figueira sem fruto. Curioso é que a figueira na Palestina dá fruto 10 meses por ano. Em qualquer tempo um homem encontraria figo para comer, até mesmo na figueira mais desavisada. Escolhida, plantada em um lugar especial (sim, pois a vinha era plantada em solo fértil - v.6), desejada pelo dono da vinha, cuidada com todo o carinho... como podia não dar fruto? Será que sua vida está como aquela figueira? Boa terra, bom cuidado, excelente Dono, mas sem fruto?
1. Entendendo o contexto
Para que você entenda melhor esta parábola explicito os significados que foram atribuídos à figueira ao longo do Antigo Testamento.
Um primeiro significado era da figueira como símbolo da paz e da prosperidade sobre Israel. Em tempos de paz, cada israelita descansaria debaixo de sua figueira (Mq 4.4; Zc 3.10; Os 9.10).
Outro significado seria a figueira como a liderança de Israel. Gente em quem Deus investiu tempo, Palavra, mas que se recusava a andar segundo o coração dele.
Por fim há a ideia do povo de Deus (Jr 24). Nesse sentido figueira e vinha eram usadas como expressões correlatas. Ocorre que no Novo Testamento, por ser o fruto da vide (da videira) o símbolo da nova aliança entre Deus e o povo, a vinha passa a tipificar de modo preponderante esse papel (Jo 15), coisa que Isaías já fazia (Is 5). A vinha seria então o Israel de Deus, a “assembléia universal dos Santos” (Hb 12.22,23). Todos os salvos no passado, presente e futuro.
Nesse sentido Jesus então contrasta com sua vinda a esterilidade de Israel. Os teólogos destacam com razão que Israel era para ser uma nação sacerdotal, um lugar em que (vide sua localização) os povos acorreriam para buscar a presença de Deus. E essa ausência de frutos era agora mais evidenciada com a vinda de Cristo, meio pelo qual não precisamos mais de sacerdotes, nem de nações sacerdotais para termos comunhão com Deus (1Pe 2.8,9; 1Tm 2.5). Por isso o uso por Jesus de uma figueira no meio da vinha... de algo que foi tido como povo de Deus mas que, por se recusar a crer no seu sacrifício, deixara de ser.
Para evidenciar essa percepção, Lucas registra logo após essa parábola o encontro de Jesus com uma mulher israelita, frequentadora de uma sinagoga, mas que havia 18 anos era “cavalo do Diabo”. Uma figueira no meio da vinha. Gente no meio do Israel de Deus, porém não é povo do Senhor. Será que tem gente assim no nosso meio? Porque se tem, não é ficando no nosso meio que as coisas se resolverão. É indo para diante de Jesus (13.12a). Nesse encontro com o Senhor da vinha é que se deixa de ter uma vida infrutífera.
2. Há um tempo para arrependimento
Que fruto você tem dado? Suas mãos estão cheias ou vazias?
A mulher encurvada nada tinha a apresentar. Assim também acontecia com os judeus que questionaram Jesus sobre a morte dos galileus (13.1) e aos quais o Mestre falou da queda da torre de Siloé (v.4). Sem entrar no mérito desses dois fatos históricos, o que importa aqui é a lógica do infrutífero: “Reconheço que não dou fruto, mas há árvores infrutíferas piores do que a minha”. Ou ainda: “Sou pecador, mas tem pecador pior do que eu”, como se ser melhor do que alguém num quesito péssimo (pecado) tornasse alguém aprovado (bom). Afinal: ser “menos pior” torna alguém melhor? Foi essa lógica da autocomplacência que Cristo desmascarou.
Essa era a lógica de Israel diante de Deus. O que Jesus quis trazer é que há um tempo para arrependimento e que esse momento havia chegado. Em Cristo somos salvos. Olhando para Cristo, todos precisam de arrependimento, sejam judeus ou não.
Nesse sentido quero dizer que não creio num plano especial de Deus para salvar o povo judeu no futuro. Senão vejamos:
a. A Palavra de Deus fala de modo abrangente e pródigo sobre arrependimento. Talvez dois dos textos mais duros e claros sejam: Hebreus 2.2,3 e 2Pedro 2.4-11. Se nem anjos foram poupados, por que homens o seriam? (Rm 11.21);
b. A Palavra assevera a primazia de Cristo na Criação (Cl 1) e na eternidade (Ap 1-5). Fala também da cruz de Cristo como local de encontro entre o homem e Deus.
A Palavra apresenta também Jesus como a mensagem central da Bíblia. O caminho para o Pai. Sendo assim, falar num plano outro para algum povo é tornar Israel melhor que os outros povos e até mesmo melhor que Cristo. Biblicamente falando, é inadmissível qualquer depreciação da obra de Cristo e qualquer “arianização” semita. Israel existiu por causa de Cristo e não Cristo por causa de Israel.
c. Há uma incompreensão sobre a fala de Paulo em Romanos 9-11. Israel fora uma nação escolhida, mas agora perdera a condição de eleita porque o pacto salvífico não era via etnia, mas via promessa (fé – Rm 9.6-8). Nem todos de Israel (pátria) eram israelitas (povo de Deus). A expressão “todo Israel será salvo” (Rm 11.26) fala, portanto, de todo o povo de Deus ao longo da História. A eleição agora se dá em Cristo (Ef 1.4,5; Rm 8.29; 1Pe 2.8-10);
d. A esperança para Israel se chama Cristo. O caminho continua sendo o arrependimento (At 2.37-39). Para aqueles que creram e crerão, estes integram acima de tudo o Israel de Deus!
3. Deus procura fruto
Ao que tudo indica aquela figueira não queria dar frutos para Deus. Provavelmente a fala do dono se deu no 9º ano de vida dela. Isso porque 3 anos eram necessários para a árvore crescer; 3 para dar um fruto considerado proibido (Lv 19.23); no 4º ano (7º de vida da figueira) era o fruto puro para ser dado ao Senhor (Lv 19.24), coisa que devia ser renovada a cada 4 anos (Dt 14.28,29). O dono da vinha procurava fruto havia 3 anos! E aquela figueira se recusava a dar fruto ao Senhor. Será que você é bem-sucedido em tudo, frutifica em todas as áreas, menos dentro da vinha, do Reino de Deus?
O dono da vinha então volta procurando fruto. E não encontra. Nos evangelhos encontramos duas outras experiências assim: a de João 15 e a vez em que Jesus procura figos (Mt 21.18-22). Quando o Senhor da vinha não encontra fruto ele pode:
a. Arrancar (13.7), cortar. A palavra no grego katargei significa tornar inútil, ineficaz, gastar totalmente. Particularmente foi isso que aconteceu com Israel como nação, como vimos anteriormente, cumprindo assim a profecia de João Batista (Lc 3.7-9);
b. Há ainda a posição de limpar (João 15:2). A palavra no grego para cortar, airô, pode significar levantar o ramo, limpá-lo. Por vezes ramos caem e são pisados se tornando infrutíferos. Esses o dono da vinha os levanta, limpa de toda a sujeira para que possam então produzir fruto. Que imagem mais linda de como o Senhor trata conosco!
Conclusão
Por fim essa parábola mostra um dilema (vv. 7,8). Mas não é um desacordo na Trindade. Gosto da ideia de Keneth Bailey de que o debate que ocorre ali é entre os atributos de Deus: misericórdia e juízo. E como a Palavra revela, a misericórdia triunfa sobre o juízo (Tg 2.13). Se Deus procura fruto, se ainda há tempo para arrependimento é porque da parte dele há tempo para perdão. A palavra no verso 8 para “deixa-a” é a palavra usada no Novo Testamento para perdão. Deus é compassivo, tardio para irar-se! Aleluia!
Que na visitação do dono da Vinha sobre sua vida Ele o encontre carregado do fruto (Gl 5.22,23). E que caso você ainda não esteja frutificando, lembre-se de que se houve rigor com Israel e com os anjos, também haverá com você.
Leitura Diária

segunda-feira Jo 15.1-5
terça-feira Is 6.1-13
quarta-feira Jr 24.1-10
quinta-feira Mt 21.18-22
sexta-feira Jr 7
sábado Lc 13.10-17
domingo Lc 13.6-9

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