terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Um Grande Profeta

Texto bíblico: 1 Reis 17.1-24

O texto básico define o início da série de narrativas sobre o ministério de Elias, o extraordinário profeta, cuja vida e obra marcaram de modo indelével a história religiosa de Israel. Sua biografia é curta, quase inexistente. Sua obra, ao contrário, é rica e variada, constituindo-se dos milagres que realizou, da luta que travou contra o baalismo patrocinado por Acabe e Jezabel, soberanos do Reino do Norte, e pelo decisivo papel profético que desempenhou ao longo de sua carreira. Elias foi tão importante para a fé israelita que a profecia canônica (profetas com livros que levam seus nomes) viu nele o precursor do Messias (Ml 4.5), razão pela qual muitos o identificaram com João Batista quando este surgiu pregando na Judeia.
Além de Enoque, Elias é o único dos grandes vultos bíblicos que não passou pela morte. O Novo Testamento também lhe reserva posição de destaque, inclusive pelo fato de ele aparecer como representante dos profetas no encontro com Jesus Cristo, no Monte da Transfiguração (Mt 17.1-8). De uma figura deste porte espiritual pode-se esperar ensinamentos de enorme relevância para a vida de fé do povo de Deus.

1. A seca e a provisão ( vv. 1-7)

Sétimo rei de Israel, na efêmera dinastia iniciada por Onri, seu pai, Acabe reinou 22 anos em Israel e “fez o que era mau perante o Senhor, mais do que todos os que foram antes dele” (1 Rs 16.30). Em princípio, esse “mau” se traduz como adultério religioso. O monarca trocou pelo culto aos baalins a fidelidade esperada de um israelita em relação a Jeová, o Deus único de Israel. Casando-se com Jezabel, princesa do reino vizinho de Sidom, Acabe, por influência da rainha, adotou o baalismo como religião de Estado. Um bem estruturado corpo de sacerdotes e profetas de Baal executava as atividades cultuais e dava sustentação religiosa ao trono.
A entrada de Elias em cena ocorre por ocasião da seca que grassava em Israel. Esse tipo de calamidade, que durou três anos e meio e teve efeitos devastadores na vida e na economia dos israelitas, foi a forma usada por Deus para mostrar a Acabe que Baal, considerado o provedor das condições de fertilidade da terra, a começar pela chuva, era um mero ídolo, não um Deus de verdade. Na pregação de Elias, longe de ser uma simples manifestação natural, a seca era uma demonstração do poder de Deus e da impotência de Baal. De igual forma, a sobrevivência do profeta, alimentado pelas aves e bebendo da corrente de um riacho, foi o fruto direto e milagroso da ação divina.

2. Entre os sidônios (vv.8-12)

Elias tem como inimiga mortal a rainha sidônia Jezabel – e o Senhor o manda refugiar-se exatamente numa cidade sidônia. É provável que intimamente o profeta tenha se perguntado se isso não seria uma loucura completa. Se o fez, conhecia Deus o suficiente para saber que a loucura de Deus é mais sábia do que os homens (1 Co 1.25). E era obediente o bastante para cumprir a vontade de Deus sem pestanejar, sabendo que, quando Ele ordena, tudo acaba saindo a contento.
Jesus Cristo se referiu à viúva de Sarepta no sermão que pregou em Nazaré (Lc 4. 25,26), valorizando sua fé, como estrangeira que era, em contraste com a incredulidade dos judeus em face da pregação profética. A viúva era de fato uma pessoa de fé. Além de acolher em casa o profeta e de procurar alimentá-lo, ela o reconheceu como um verdadeiro homem de Deus (17.24). Na realidade, ambos foram usados por Deus para abençoarem um ao outro, uma vez que Elias lhe revelou o poder de Deus na miraculosa multiplicação dos mantimentos e na ressurreição de seu filho.

3. Não temas (vv.13-16)

Na boca de um autêntico profeta do Deus vivo, a expressão “não temas”, presente 75 vezes na Bíblia, exprime consolação, segurança e estímulo. Já angustiada pelo esgotamento dos mantimentos de sua casa, a viúva fica ainda mais aflita quando Elias lhe pede que divida a comida com ele. Na experiência do cristão, por vezes o Senhor lhe ordena que ele alimente outros, mesmo se ele parece nada ter. Foi assim na multiplicação dos pães e peixes, quando Jesus disse aos discípulos que dessem de comer ao povo (Mt 14.13-21). No aspecto espiritual ocorre o mesmo: é ao servo fiel, mas que pelas lutas da vida se sente em alguns momentos fraco, vazio e cansado, que o Senhor determina que vá e pregue, e testemunhe, e sirva. E se Deus assim age é porque Ele mesmo provê as condições da bênção, fazendo com que o sustento dure muito além do esperado.
Nas circunstâncias aflitivas da vida, apenas uma coisa se torna necessária aos filhos de Deus: ouvir a Palavra do Senhor e confiar nela. Ela vem como o “não temas” de Elias à viúva, fortalecendo o coração e a vida emocional, mas alcança também os aspectos materiais da vida, por meio da promessa profética de que “a farinha da vasilha não se acabará, e o azeite da botija não faltará, até o dia em que o Senhor dê chuva sobre a terra” (v.14).

4. A alma retorna (vv.17-23)

Nos anos recentes, as chamadas “experiências de quase morte” tornaram-se um assunto de enorme interesse na mídia em geral. A ideia do “quase” não se refere ao fato de que a morte não tenha havido de fato, mas ao fato de que não se tratou de um processo irreversível, embora concluso. A pessoa realmente morreu, mas o processo da morte não seguiu a sequência temporal, com a ausência de reação vital do organismo no avanço das horas e sua consequente decomposição. Houve na realidade uma ressurreição. Em geral, como no caso de Elias, o retorno à vida se dá em poucas horas, ou até em minutos. Há, contudo, diferenças essenciais entre o fato natural e o fato espiritual, o que não significa que ambos não estejam na dimensão do milagre.
No caso que estamos estudando, a primeira constatação refere-se ao fato de que a morte do menino não é vista como mero efeito de uma certa doença grave. Pela reação da mãe, o desfecho fatal é enquadrado no âmbito da ação divina (v.18). A própria oração de Elias (v.20) realiza esse enquadramento. Em princípio, esse simples movimento de fé já é garantia, no mínimo, de alívio a uma dor que de outra maneira poderia se tornar insuportável.
Num primeiro momento, tanto a viúva quanto o profeta veem na morte do menino o peso destruidor da mão de Deus. A mãe diz que a tragédia se deu em função de algum pecado seu, duramente cobrado por Deus por meio da presença do profeta em sua casa. Elias, por seu lado, não fala em pecado, mas dá a entender que o mal que está consumindo a coletividade israelita não poupou nem mesmo aqueles que o ajudam em sua missão profética. E se lamenta com Deus, mas não se restringe ao lamento. Sua oração adquire os contornos práticos de uma ação salvadora, inclusive pelo gesto de seu autor em deitar-se três vezes sobre o menino e clamar ao Senhor que lhe devolvesse a vida. E Deus lhe concede essa graça.
Havendo a fé operante que não impõe limites ao poder de Deus, os milagres mais impensáveis se tornam realidade.

5. Homem de Deus (v.24)

“Então a mulher disse a Elias: Agora sei que tu és homem de Deus, e que a palavra do Senhor na tua boca é verdade”. Um homem de Deus não se autoproclama assim, mas é reconhecido como tal por testemunhas isentas. Ele tem as suas palavras confirmadas por atos de poder na oração, não deixando de buscar no Senhor algum tipo de resposta aos dramas humanos. Se há no Antigo Testamento alguém que merecia esse honroso título de homem de Deus, esse é o profeta Elias.

Para pensar e agir

O que faz de Elias um grande profeta é, entre outras coisas, o fato de que num curto espaço de narração, ele é o intermediário de vários milagres operados por Deus. Para aquele que crê e vive em estrita e fiel comunhão com Deus, esse ministério frutífero se torna apenas a ordem natural das coisas.

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