Texto Bíblico: Números 11.1 a 12.16
Apesar disso, Deus chama o homem e a mulher e lhes delega atribuições inerentes a seu reino no mundo. Ele confia nessas pessoas, sabendo, contudo, que são limitadas e falhas. Sabe que em certas circunstâncias se deixarão vencer por sentimentos negativos, paixões rasteiras e temores inúteis. Sabe que sentirão ciúmes uns dos outros, que entrarão em conflito uns com os outros e tentarão se destruir mutuamente. Sabe que fraquejarão diante dos desafios e que tentarão abandonar a missão que receberam. Sabe de tudo isso e muito mais, porém chama essas pessoas e as torna suas parceiras na obra de salvar e abençoar o mundo.
Resta-lhes crer nele, perseverar em cumprir sua vontade e esperar nele na hora em que tudo parece dar errado.
Este é mais um episódio no qual os israelitas tentam rebelar-se contra Deus. O texto diz que “o povo queixou-se de sua sorte” (v.1). Basicamente, a queixa era por um tipo de comida diferente do maná que recolhiam a cada manhã. O povo sentia saudade dos pratos da culinária egípcia. Isso até dá para compreender, porque sua condição de escravos não impedia que comessem bem. O que não se compreende é que dissessem que “comíamos de graça” (v.5). Viver sem liberdade, ainda que comendo do bom e do melhor, é pior do que não ter o que comer. Mesmo porque nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Atendendo ao clamor popular, Deus envia as codornizes (31-35), mas com elas uma praga que representou a repreensão de um pai zeloso.
O fogo que consumiu as extremidades do arraial pode ter surgido por combustão espontânea, devido ao calor extremo. A origem natural das chamas não impede a manifestação do poder de Deus, antes a facilita. O fato de Moisés ter conseguido a cessação do fogo por meio da oração mostra que Deus agiu diretamente no assunto. Não houve vítimas, como também no caso da praga.
Na Bíblia, alguns dos mais consagrados homens de Deus, e aos quais se pode designar sem exagero como gigantes espirituais ou heróis da fé, chegaram ao limite de sua resistência e pediram a morte ao Senhor. Moisés está entre eles. “Se assim me tratas, mata-me de uma vez, eu te peço, se tenho achado favor aos teus olhos, e não me deixes ver a minha miséria” (v.15). Se uma oração desse tipo é uma expressão de quase-desespero, não deixa de ser também um brado de fé. O crente está dizendo que receber a morte da parte de Deus é melhor do que viver a vida sem ele. E está extravasando um sentimento de abandono que se fosse retido em sua alma poderia levá-lo a procurar a morte por si mesmo, pelo suicídio ou algum outro gesto extremo.
O cristão realista e maduro não condena o grande homem de Deus por orar desse modo. É provável que seja exatamente neste momento que Moisés demonstre toda a sua grandeza humana. Ele não é uma máquina de liderar. Não é um político frio e calculista, que debita ao povo a conta de seus erros pessoais. Tratando um povo fraco e rebelde como um pai trata seus filhos, ele se revela um ser humano que, mais do que nunca, depende de Deus para cumprir sua missão. E Deus o compreende e vem em socorro dele.
Esta passagem repete o texto de Êxodo 18.13-27 quanto à designação de setenta líderes para auxiliar Moisés. No primeiro caso, a função deles é administrativa. No caso presente, é profética. É possível que se trate de grupos diferentes. Ao fazer com que seu Espírito viesse sobre eles, levando-os a profetizar, Deus está indicando que eles têm da parte dele autoridade espiritual para ajudar Moisés a liderar o povo, embora não tenham as mesmas qualificações pessoais do grande líder. Profetizam uma só vez, numa demonstração simbólica de que tinham o mesmo acesso ao Espírito que Moisés. As funções que realizarão são religiosas, no serviço do tabernáculo.
Dois deles profetizam no arraial, separados dos demais. Josué, enciumado, pede a Moisés que os proíba. Não é de hoje que certas pessoas, por causa de seus cargos e títulos, querem ter o monopólio do Espírito de Deus. A resposta de Moisés dá a dimensão de sua estatura como homem de Deus (v.29). Quantos pastores de hoje e de sempre teriam essa grandeza pessoal?
Como foi dito no início desta lição, homens de Deus não são perfeitos, e isso não por serem homens de Deus, mas por serem homens. Moisés é atacado por Arão e Miriã por ter tomado uma segunda mulher, além de Zípora. E a mulher não era israelita. Esse segundo fato deve ter pesado mais do que o primeiro. E tentam tomar-lhe a liderança. Em outros tempos, Moisés teria tentado neutralizar a iniciativa de seus dois irmãos valendo-se de algum artifício humano. Agora, entrega o assunto ao Senhor – o que é sempre a melhor maneira de o crente fiel lidar com questões dessa natureza. Hoje, lamentavelmente, apela-se para a justiça humana, que, além de tudo, no Brasil é um poder corrupto e injusto.
Deus intervém, mostrando quem é quem entre os que o servem. Miriã fica leprosa, passando por uma desmoralizante humilhação pública. Arão, que não era modelo de força espiritual, recolhe-se à sua insignificância. E Moisés ora por ambos, para que o Senhor não os trate segundo merecem, e sim de acordo com a sua divina misericórdia.
Quem hoje, por alguma razão ou sem razão alguma, quiser se levantar contra os homens e mulheres de Deus que falam boca a boca com o Senhor, devem pensar mil vezes antes de fazê-lo.
Moisés foi o grande líder que a Bíblia descreve porque chamou Deus para dentro de todas as crises que viveu. Não tentou enfrentá-las sozinho, por mais forte, disciplinado e talentoso que fosse. Precisamos deixar que o Senhor venha para dentro de nossas crises. Precisamos orar a ele, ainda que nossa oração por vezes possa ser um sofrido desabafo. Precisamos respeitar a forma como Deus se revela aos outros e compreender que os usa tanto quanto a nós próprios. Precisamos ser mansos e humildes para depender do Senhor quando os adversários se levantam contra nós. E ter misericórdia para interceder por eles, porque nos mais das vezes eles não sabem o que fazem – como às vezes nós mesmos também não sabemos.
Para pensar e agir
O estudo de hoje apresentou diferentes personagens, com qual deles você se identifica?
O povo – sempre insatisfeito e reclamando de tudo.
Moisés – fiel a Deus, democrático, sobrecarregado, estressado, alvo de críticas do povo e da liderança.
Miriã e Arão – críticos de plantão que ambicionam o lugar do líder.
Setenta líderes auxiliares – homens dispostos a ajudar Moisés a cumprir sua missão.
Josué – entende que uma pessoa capacitada por Deus é uma ameaça ao líder e não deve ter espaço para atuar na comunidade.
Números 11.1-9
Números 11.10-15
Números 11.16-30
Números 11.31-35
Números 12.1-8
Números 12.9-16
2 Timóteo 3.1
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