quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma igreja que socorre a humanidade em suas dores

Texto: Lucas 10.25-37.

Introdução
Essa parábola foi contada por Jesus em um contexto bem amplo de atuação do seu ministério evangelístico e de ensino, enquanto desenvolvia sua caminhada para Jerusalém, a poucos meses de sua paixão.
A igreja do Senhor precisa ter os seus olhos voltados para as carências e necessidades das pessoas, à semelhança do seu Mestre, que as via como ovelhas perdidas e machucadas da casa de Israel (Mt 9.36;10.6).
Tenho consciência que nenhuma parábola deve ser usada para embasar ou justificar uma doutrina, mas pode ser utilizada em um diálogo de cunho teológico (Lc 7.36-50;18.18-30), com aplicabilidade para a vida. A parábola do Bom Samaritano deve ser vista como um diálogo intercalado com perguntas e respostas (Lc 10.25-28) entre Jesus e um doutor da lei, pessoa instruída na legislação mosaica, na tradição judaica, e não meramente como uma exortação ética para alcançar as pessoas necessitadas.
O diálogo apresentado prioriza o princípio da inversão, o que a sociologia chama de Argumento do Contraditório, em que o Mestre por excelência não se rende às indagações, mas responde com perguntas confrontadoras.

I – Além do ideário religioso

À religião pode-se atribuir atos formais e informais. Ela tem formas, ritos e liturgia. A religiosidade do Antigo Testamento era mais ritualista, presa às formas descritas na Lei; já a do Novo Testamento é mais flexível e sua liturgia deve expressar o conteúdo da Palavra, sem prescindir da decência e da ordem (1Co 14.40). A igreja não é mais espiritual ou menos espiritual por ser formal ou informal, mas por evidenciar respeito à Palavra revelada, amor e compaixão pelo próximo e santidade nas ações. Conhecer os regulamentos da religião, as necessidades sociais e os fundamentos da fé é necessário, mas não essencial em si mesmo. Esse conhecimento precisa ser alimentado pela experiência de salvação em Cristo (Tt 3.4-7), pela sensibilidade espiritual, pela consciência que servindo a Deus servimos às pessoas e pelo intento de imitar Jesus, que ensinou ser sublime dar a vida pelos semelhantes, devotando-lhes amor, compaixão e misericórdia. Discurso de bondade não reflete a bondade, falar de amor não traduz a sua grandeza (Ef 5.2), usar de misericórdia sem estender a mão, sem dispor de comodidades e sem investir no outro é andar na contramão dos ideais de Cristo (1Ts 4.1).
O ideário religioso (conjunto de ideias sobre religião) apresentado pelo mestre da Lei foi excelente, pois versava sobre a salvação em Cristo: “Que farei para herdar a vida eterna?” (Lc 10.25b), mas tudo não passou de fachada, pois sua pergunta não expressou a sinceridade de sua alma pela busca da verdade eterna; foi malicioso, tinha a intenção de deixar o Mestre grandemente exposto às disputas judaicas. Não foi além do conjunto das ideias por ele apresentado, ficou emaranhado em suas próprias palavras. O Mestre percebeu que ele estava sendo ardiloso e que na simples busca de orientação espiritual estava uma grande artimanha.
Como salvos, precisamos ir além das palavras. O amor a Deus e ao próximo é o grande desafio para a religião (Mc 12.30,31).


II – Omissão não dá

Querendo justificar-se o doutor da Lei pergunta quem era o seu próximo (Lc 10.29). Jesus responde contando uma parábola muito significativa como história, inesquecível como parte da revelação divina e extremamente apropriada para definir a condição interior do gênero humano.
O trecho percorrido pelo homem que caiu nas mãos dos salteadores era movimentado. Por ali passavam muitos viajantes, embora fosse de geografia acidentada, áspera, com descida íngreme e desabitada em alguns lugares, o que fez dele um ambiente favorável para malfeitores e bandidos. A parábola não descreve o homem com toda a sua identidade. Diz apenas que ele foi despojado de tudo, espancado e deixado a ponto de morrer (Lc 10.30. Estava inconsciente e reduzido a um mero ser humano em estado de necessidade; não dava para identificar a cultura, língua e comunidade étnica ou religiosa a que pertencia. Quem poderá ajudá-lo? O primeiro que passa é o sacerdote (Lc 10.31), possivelmente retornando do serviço de uma semana no Templo. Para evitar a profanação cerimonial, que inviabilizaria o desempenho de suas funções sacerdotais por algum tempo, passou para o outro lado da estrada e não se comprometeu. Sua função foi mais importante do que a vida de uma pessoa, não sendo sensível à necessidade humana, ficou preso à omissão. Depois, passa o levita, auxiliar do sacerdote, que chegou mais perto, por um lampejo de compaixão ou por curiosidade, mas não prosseguiu para servir (Lc 10.32). Passou para o outro lado. Deve ter raciocinado que não era conveniente desempenhar uma tarefa perigosa, a qual o seu superior, não se prontificou a executar. Com certeza, o que mais pesou não foi a intenção de prestigiar o superior, mas a falta de amor e compaixão por alguém que perecia à beira do caminho. Acabou por abraçar a omissão. Agora aparece o samaritano, sem nome e nível social importantes, cuja origem era menosprezada pelos judeus (Jo 4.9 ), por não ser considerado “puro sangue” e pela “religião paralela” centralizada no Monte Gerizim (Jo 4.20-22); este, ao desenvolver sua viagem viu o homem meio morto, chegou perto e teve uma reação de íntima compaixão (Lc 10.33) por um ser humano que estava sofrendo. Não foi insensível nem omisso. Atrasou sua viagem para ajudar alguém, demonstrando valorizá-lo além dos projetos pessoais.
A igreja como comunidade dos santos e coluna da verdade (1Tm 3.14-16) não pode se omitir diante das dores das pessoas, agindo como o sacerdote, descendo por uma estrada, sem se incomodar com os que sofrem à margem das oportunidades e agredidas por toda a sorte de ataques; nem como o levita, que até se aproxima um pouco, só que utiliza desculpas e subterfúgios para não estender a mão aos que estão sofrendo; mas como o samaritano que para, corre riscos, investe atenção e recursos com as providências para salvar, ajudar e impedir que as ações do mal se concretizem, destruindo vidas.

III –Amor na prática

Praticar o amor é evidenciar ações que mostram interesse pelo gênero humano. O Pai nos deu essa notável lição (Jo 3.16,17;15.9) e o Filho a consumou de forma magnífica (Rm 5.6,8; Gl 2.20). É preciso dar forma aos sentimentos, materializá-los com visibilidade para abençoar; socorrendo os que foram feitos à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26).
O samaritano mostrou compaixão. Colocou o amor em prática e desenvolveu ações restauradoras: atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho, colocou-o sobre a sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele (Lc 10.34). Este ato é desafiador e mobilizador! Ensina que fazer o bem, em qualquer tempo, é arriscado e perigoso, mas não dá para ser indiferente. Só abençoamos quando compartilhamos o que somos e o que temos, pois cuidar do ser humano, dar sem cobrar devolução é prova de amor. É corresponder com o ideal de Deus, que nos amou primeiro (1Jo 4.19) e é demonstrar uma filosofia de vida que está na contramão deste tempo: “O que é meu pode ser seu. Vamos dividir”.
A igreja não pode se furtar em agir como o samaritano para amenizar as dores da humanidade, tão agredida em sua dignidade, por malfeitores, pessoas inescrupulosas que querem mudar os métodos, a essência, e que desejam o progresso a qualquer custo.

Para pensar e agir

Socorrer os aflitos em suas necessidades, proteger o direito dos órfãos e das viúvas (Is 10.2 e Is. 58. 6-11) e dar do seu pão ao pobre (Pv 22.9) é generosidade e prática religiosa que agrada a Deus. Ser indiferente ao clamor do pobre (Pv 21.13), à dor dos que sofrem e às angústias dos necessitados é não ter compaixão nem vínculo com os ensinos de Cristo, que viu, parou, chorou, socorreu e investiu nos que careciam. A igreja socorre a humanidade em suas dores a partir da sua Jerusalém, sendo ilimitado o seu campo de atuação. A negligência de quem pode socorrer e não o faz, contribui para aumentar o sofrimento das pessoas feridas.
Quais as dores que a humanidade tem sofrido? O que fazer para amenizar? Vivemos numa sociedade que jaz no maligno (1Jo 5.19b), que tem sido açoitada e machucada pelo pecado e que carece da graça restauradora de Jesus (Tt 2.11-14). Como igreja temos o que a humanidade precisa.

Leituras Diárias
segunda-feira – 1Tessalonicenses 1.3-10
terça-feira – Mateus 8.5-13
quarta-feira – Mateus 25.31-46
quinta-feira- Marcos 2.1-12
sexta-feira – 1João 2.7-11
sábado – 1João 4.7-12
domingo – Romanos 8.18-27

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