quarta-feira, 14 de abril de 2010

NÃO ÀS OBRAS, SIM À GRAÇA

Texto bíblico: Efésios 2.8,9

Uma questão ainda discutida em nosso meio é a relação correta entre a Lei (a Torah), o sistema do Antigo Testamento para se aproximar de Deus, e a Graça, mostrada no Novo Testamento. Algumas seitas evangélicas, confusas, misturam Lei e Graça, e outras, mais confusas, pregam a Lei como essencial à salvação.
Paulo era judeu ortodoxo, um fariseu, profundamente imerso no ensino da Lei. Ele foi um dos mais aplicados fariseus: “E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 2.14). Criado no mais rigoroso judaísmo, aprendera que a Lei era o caminho da salvação. A obediência a ela salvava o fiel. Mas após sua conversão, mudou sua posição. Na lição anterior, comentamos o fato de Paulo levar o evangelho aos gentios: “Desde sua conversão o Senhor dissera que ele fora escolhido para levar o evangelho aos gentios (At 9.15). Mais tarde, na sua mais dura carta, ele disse que a circuncisão, como rito religioso, anulava a obra de Cristo (Gl 5.2). Ou cristão ou judeu! Ou a salvação pela graça por meio da fé em Cristo (Ef 2.8 e Gl 2.16) ou a salvação pela Lei. Se a salvação viesse pela Lei, a morte de Jesus teria sido sem sentido (Gl 2.21)”. Continuamos nossa caminhada hoje, vendo como Paulo deu um sonoro “Não!” às obras da Lei.

1. Uma busca inadequada
Paulo não encontrou a justificação dos seus pecados na Lei, mas na fé em Jesus: “E seja achado nele, não tendo como minha justiça a que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus pela fé” (Fp 3.9). A busca anterior, como fariseu, fora frustrante. A Lei, como qualquer sistema religioso, não pode nos dar o perdão dos pecados. Só a fé em Cristo. Alguém pode se sentir bem numa religião, cumprindo um conjunto de regras e obedecendo a determinados ritos. Mas isto será uma questão de gosto. Terá paz interior porque satisfez um desejo de seu coração. Mas diante de Deus (isto é bem diferente do que sentimos ou achamos), só a fé em Cristo pode salvar a pessoa. Sistema religioso algum pode nos salvar. Devemos dizer “Não!” às formas religiosas que criamos. Elas seguem a nossa mente, e não a mente de Deus.
A bagagem legalista de Paulo foi inútil, como podemos ler em Filipenses 3.4-7. Ele considerava todo o sistema religioso como refugo ou esterco, palavra dura, mas expressiva (Fp 3.8). Sua conduta irrepreensível dentro da Lei era inútil.
Obedecer à Lei não era impossível, como dizem alguns. O moço rico que queria a vida eterna disse a Jesus que obedecia a ela, guardando tudo (Mt 19.16-21, Mc 10.17-21, Lc 18.18-22). Jesus não contraditou o moço, dizendo que era impossível obedecer a tudo. Aceitou sua palavra. Paulo cumpriu a Lei: “Quanto à justiça que há na lei, fui irrepreensível” (Fp 3.6). Não pensemos que o evangelho veio porque Deus estabeleceu a Lei, ninguém conseguiu cumpri-la, e aí ele viu que era impossível e arranjou outro método. Esta teoria desonra a Deus. A Lei era transitória. Criou uma consciência de pecado (Rm 3.20 e 7.20) e Deus ofereceu a graça aos que reconhecem seus pecados e apelam para sua misericórdia. A Lei dizia: “Façam isto e viverão!”. A Graça diz: “Eu fiz para que vocês vivam!”. Buscar salvação na Lei, como Paulo mostrou com sua vida e palavras, é frustrante. Na Graça do Deus que ama, que faz por nós e nos dá gratuitamente no Amado (Ef 1.6), encontramos a vida eterna.

2. Cristo é o fim da Lei
A religião legalista (seja a dos fariseus ou seitas atuais, que nos enchem de regras) enfatiza o que a pessoa deve fazer. O evangelho de Jesus, pregado por Paulo, enfatiza que Deus fez, para que ninguém se envaideça por ter feito que Deus o aceitasse (Ef 2.8,9). Deus nos aceita não pelo que fizemos, mas pelo que ele e Jesus fizeram na cruz. Veremos isto depois, no estudo sobre a doutrina da reconciliação, mas guardemos desde agora que Deus estava em Cristo e ele nos reconciliou consigo, na pessoa de Cristo (2Co 5.18,19,21).
Deus Pai e Deus Filho fizeram a obra de reconciliação. Deus Espírito Santo trabalha em nós para entendermos o que Pai e Filho fizeram. Ele é o ministro da Graça. O ensino é que Deus fez e que devemos crer no que ele fez.
Cristo pôs fim ao valor da Lei e se tornou a norma para nós. Quem defende a Lei tem zelo por Deus, mas sem entendimento (Rm 10.2-4). “Cristo é o fim da Lei”, diz Paulo. A palavra “fim” é o grego télos, que significa “meta” ou “término”. E aqui significa os dois. A Lei era uma provisão temporária até a vinda do descendente de Abraão, em quem a promessa se cumpriu. Mas sendo provisão temporária, terminou em Cristo, que é o clímax da revelação de Deus, como Jesus disse, em Lucas 16.16. O evangelho do reino substitui a Lei.
A Lei era provisória (Gl 3.19-24). Ela foi um aio para nos conduzir a Cristo. A palavra “aio” é o grego paidagogós, de onde vem pedagogo e Pedagogia. Aparece também em 1Coríntios 4.15, como “preceptores”. O paidagogós era o escravo que cuidava da educação da criança em casa, e que o levava pela mão à escola. A Lei é o paidagogós que conduziu a Cristo.
A Lei não tem poder de salvar. Mas Cristo tem. O legalismo leva a praticar boas obras para agradar a Deus. Também leva a cumprir regulamentos religiosos com o mesmo propósito. A Graça mostra que Deus nos ama e nos dá a salvação em Cristo.

3. Salvos pela Graça
Dizemos que somos salvos pela fé. A declaração está equivocada. Somos salvos pela Graça, por meio da fé, não pela fé: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Ef 2.8). A pessoa poderia ter uma tonelada de fé, mas se não houvesse um grama da Graça, não seria salva. A Graça de Deus, sua bondade para conosco, é a causa de tudo. “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). Muita gente se orgulha de ter fé. É a religião legalista, que põe o foco no homem. A Graça nos humilha ao dizer que nada nosso agrada a Deus, mas ele nos ama assim mesmo. Muitos falam mais da fé do que da Graça porque querem o foco sobre si. A Graça põe o foco sobre Deus.
Mas isto não é salvação compulsória, como dissemos no estudo anterior. Nós nos apropriamos da Graça pela fé. Basta crer. O carcereiro de Filipos perguntou “Senhores, que me é necessário fazer para me salvar?” (At 16.30) e ouviu a resposta: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At 16.31). Não há o que fazer. Deus já fez, em Cristo. Basta crer. Não é fé na fé, como alguns parecem crer, dizendo que têm muita fé. É fé em Cristo. Pode-se ter uma tonelada de fé na pessoa errada, e isto não valeria nada. É crer na pessoa certa, Jesus Cristo, a oferta de Deus pelo pecado.
Vivemos um tempo de rejudaização do evangelho. A questão que a igreja resolveu em Atos 15, ressurge na ação de alguns que, empolgados pelos seus insights e de gurus iluminados, trazem a fraseologia, os símbolos e as festas judaicas para a igreja. Devemos dar um sonoro “Não!” às obras da Lei, e um entusiástico “Sim!” à Graça. Não somos judeus, mas cristãos. Nosso monte não é o Sinai, mas o Calvário. E do Calvário vem esta declaração: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15.39).

Para pensar e agir
Guardemos bem três lições do estudo de hoje.
1. Somos salvos pela Graça, não pela Lei. “Porquanto pelas obras da lei nenhum homem será justificado diante dele; pois o que vem pela lei é o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
2. Somos salvos pela Graça, por meio da fé. Não é a nossa fé que arranca alguma coisa de Deus. É a Graça de Deus que nos oferece e nos apossamos pela fé.
3. Nunca nos orgulhemos espiritualmente, pois nada somos e nada merecemos. É a bondade de Deus que nos dá tudo: “Para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, pela sua bondade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 5.2).

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