quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Que fazes aqui?

Texto bíblico: 1 Reis 19.1-21

O poder de Deus se aperfeiçoa na fraqueza humana (2Co 12.9). É no momento mesmo em que um gigante espiritual como Elias se sente no fim de suas forças, a ponto inclusive de pedir a morte ao Senhor, que este se revela um Deus ainda mais sábio e poderoso, com um soberano controle da vida individual e coletiva das pessoas.
Para Elias, sua experiência numa caverna do monte Horebe lhe abre os horizontes para perceber que o poder de Deus, como sua graça, é multiforme. O profeta aprende a decisiva lição de que o julgamento humano sobre o início, a duração e o fim das coisas precisa ser suspenso a fim de que se cumpra a verdade contida num texto como Provérbios 16.1: “O coração do homem pode fazer planos, mas a resposta certa dos lábios vem do Senhor”.

1. A rainha má (vv.1,2)

Jezabel é filha de Etbaal, rei dos sidônios(1 Rs 16.31). Casada com Acabe, monarca que não via problemas no sincretismo do culto a Jeová com o dos baalins, sentiu-se à vontade para executar o projeto de destruir em Israel os profetas do Senhor (1Rs 18.4). Concomitantemente, promovia a ascensão e consolidação dos profetas de Baal como um estamento religioso oficialmente ligado à corte. Elias declara que eles “comiam na mesa de Jezabel”(1 Rs 18.19), o que significa que eram funcionários estatais.
A pedra no sapato de Jezabel chamava-se Elias. No caso da estiagem, ela ainda parecia se manter relativamente equilibrada, até para não reconhecer publicamente a fraqueza de Baal e seus servidores. Quando, no entanto, Elias desmoralizou o ídolo no Carmelo e matou seus profetas, o copo transbordou. O profeta só escapou de sua ira porque se refugiou no deserto.
Os pecados de Jezabel não se limitaram ao âmbito religioso. O caso de Nabote demonstra que a rainha se considerava acima do bem e do mal. A profecia de Elias no sentido de que ela teria uma morte tão infame quanto sua vida se cumpriu quando Jeú assumiu o trono e exterminou a casa de Acabe (2Rs 9.30-37).
Jezabel é o exemplo de como um homem fraco e inseguro, embora poderoso, pode ser destruído por uma mulher idólatra, astuta e sanguinária.

2. Morrer é melhor? (vv.3-8)

Elias está agora no território de Judá, onde os profetas do Senhor não sofrem a perseguição sistemática de que são vítimas no Reino do Norte. Já sem seu ajudante, segue para o monte Horebe, local onde Moisés recebera as tábuas da lei. A esta altura, aplicam-se a eles as palavras de Jesus Cristo no Getsêmani, no sentido de que sua alma “está triste até a morte” (Mt 26.38). Solitário, abatido, deprimido, exausto física e emocionalmente, o profeta pede a Deus a morte.
As razões de Elias podem ser assim discriminadas: a) por mais que o Senhor lhe conceda triunfos extraordinários, o poder de seus inimigos permanece inabalável; b) ele é o guerreiro isolado que luta sozinho contra um exército inteiro de políticos corruptos e falsos profetas; c) ele é como um cão danado em Israel: seus inimigos o buscam para matá-lo; seus amigos se afastam dele para não morrerem junto; d) tudo indica que seu ministério fracassou, uma vez que a posição do baalismo só faz se fortalecer; e) chega de solidão, fome, cansaço, incompreensão e incerteza. É melhor morrer.
O anjo do Senhor o socorre, dando-lhe condições de prosseguir na jornada (vv.5-7). Fica a lição, inúmeras vezes demonstrada na Bíblia e na vida comum, de que quem está no fundo do poço não tem mais como descer – só pode subir. E de que Deus não tem melhor lugar para revelar sua plenitude de poder e glória senão no pior da miséria, da frustração e da fraqueza humanas.

3. Uma voz suave (vv.9-14)

Embora seu nome não conste da galeria dos heróis da fé (Hb 11), Elias está sem dúvida entre eles. Ele é um dos “profetas” que pela fé “venceram reinos” e que “da fraqueza tiraram forças” (Hb 11.33,34). Seu estilo de vida rústico aparece na descrição dos que “andaram peregrinos, vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos, maltratados, errantes pelos desertos, pelos montes, pelas cavernas, pelos antros da terra” (Hb 11.38). Neste momento, no esforço por escapar da ira de Jezabel, ele está numa caverna do monte Horebe.
Cavernas não são incomuns na vida do justo. Elas podem servir de refúgio e abrigo, como no presente caso, mas em outros casos representam apenas a tentativa de uma autodefesa emocional diante dos duros desafios da vida. Assim como existem cavernas físicas, há também cavernas emocionais, traduzidas como medo de viver, renúncia a escolhas morais e omissão em face do testemunho da verdade. O cristão as abandona tão logo o perigo concreto tenha passado.
Deus chama Elias para fora da caverna (19.11) e lhe mostra a fúria dos elementos – o vendaval, o terremoto e o fogo – mas nada lhe diz por intermédio disso. Depois faz com que o atônito profeta ouça o suave sussurro da brisa. E então diz o que espera dele daí para frente. Elias estava começando a aprender que seus métodos proféticos, por poderosos e decisivos que fossem, não esgotavam o repertório do poder de Deus. Não se trata mais da falta de chuvas ou de fogo do céu, mas da ação política que realmente altere a situação do poder em Israel.

4. Missão a cumprir (vv.15-18)

Para quem, como Elias, se julgava num frustrado fim de carreira, o Senhor lhe revela que sua vida ainda poderá ser muito útil na obra de Deus. Não é a idade que nos derrota, nem as doenças, muito menos as dificuldades materiais ou a perseguição dos filhos do mundo. Tudo isso pode servir para nos tornar mais experientes, mais sábios e mais fortes. O que nos derrota é a maneira como reagimos diante das provações da vida – como medo, desânimo ira ou ressentimento.
O socorro agora lhe vem por meio da demanda que o Senhor lhe apresenta de uma série de ações proféticas, cujos desdobramentos irão alterar radicalmente o cenário político em Israel (vv.15-18). Em momentos de crise em nossas vidas, uma das formas de Deus nos levantar – talvez a principal delas – é dando-nos trabalho a fazer em sua seara. Além disso, Deus lhe diz que Elias não está sozinho, pois há muitos israelitas que não aceitaram praticar o culto a Baal.

5. Vocação e festa (vv.19-21)

A tarefa de ungir os novos reis da Síria e de Israel seriam cumpridas por Elias por intermédio de Eliseu, seu sucessor no ministério profético. Elias lhe transfere o poder de que era possuidor pelo gesto simbólico de lançar o manto sobre ele (v.19). Eliseu, que estava lavrando no campo, lhe pede que o deixe despedir-se de seus pais. É atendido, mas sob a advertência de que precisa estar cônscio e atento acerca do ato de que fora protagonista. Para aquele que é chamado ao ministério – seja qual for esse ministério – é muito fácil deixar que os laços de sangue se tornem um empecilho natural ao cumprimento da missão. É por isso que Jesus é tão radical com os candidatos a segui-lo (Lc 9.59-62). Ao contrário de Eliseu, eles iriam e não voltariam.
Eliseu recebe com alegria o chamado à missão profética. O banquete que manda preparar celebra o fato de que agora ele é formalmente um mensageiro de Deus, colocado por ora na posição de um servo de Elias. Ser convocado ao serviço do Reino de Deus deve ser sempre motivo de alegria para o homem ou a mulher de Deus.

Para pensar e agir

A experiência de Elias no monte Horebe representa um avanço em sua compreensão de quem seja e como opera o Senhor a quem servia. O Deus dos grandes sinais pela água, pelo fogo e por outros elementos da natureza é também o Deus da voz tranquila, comunicada direto ao coração, e o Deus que interfere na vida prática das nações a fim de fazer justiça e cumprir seus planos no mundo. Elias aprende que, por maior que seja o cansaço moral e físico de um servo de Deus, haverá sempre uma evolução pessoal a alcançar na vida e na obra do Senhor.

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