Lição 9
– Solidariedade na igreja
Texto
bíblico: Gálatas 4.8-20
Texto
áureo: Gálatas 6.2
A
palavra de ordem nesta seção da carta aos Gálatas é solidariedade.
Dom
Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, em conferência na USP, ao definir
esse vocábulo, aproximou-o do conceito de caridade: “Solidariedade é presença e militância da igreja naquilo que tem que
ver com a dignidade humana, com os direitos humanos, com a liberdade, com a
exclusão. E é aí onde vivemos nossa fé cristã”.[1]
Entretanto,
para a igreja cristã, a ênfase desse nobre sentimento não subjaz ao gesto
caridoso que o expressa, simplesmente. O revestimento do amor de Deus, em nós,
impulsiona o relacionamento solidário, que é gerador da responsabilidade mútua entre
pessoas unidas por um único interesse: Cristo.
O caso Paulo:
um enfermo
recebendo a solidariedade da igreja
Na carta aos Gálatas, Paulo foi objeto da ação solidária
da igreja. Estavam unidos pelo evangelho. Pregador e ouvintes, ambos praticantes.
A partir da análise desse comportamento, procuraremos encontrar formas
semelhantes de agir em relação aos demais irmãos e de demonstrar a unidade
cristã.
Na
única vez que o apóstolo fala de doença ou enfermidade física em Gálatas,
fala
de si mesmo: “por causa de uma
enfermidade da carne vos anunciei o evangelho” (Gl 4.13).
Uma
incapacidade física (a palavra também traduz fraqueza ou doença) impediu-o de
continuar viagem e permitiu-lhe ficar entre os gálatas e pregar-lhes o
evangelho. Mesmo a enfermidade pode ser motivo de ação de graças!
Ninguém
sabe ao certo qual era a doença de Paulo. Quase todos os estudiosos concordam
que era uma doença oftalmológica, pois condiz com a afirmação em Gálatas 4.15: “se possível fora, teríeis arrancado os vossos
olhos, e mos teríeis dado”.
A
experiência de conversão de Paulo na estrada de Damasco também corrobora para
este fato (At 9). Depois do encontro de Paulo (à época, Saulo) com Cristo, em
que um clarão de luz o deixou temporariamente cego, escamas ou crostas cobriram
os olhos do apóstolo (At 9.18). Teriam ficado sequelas? Muito provavelmente.
Zelo e cuidado: lições solidárias da
igreja
Os
gálatas demonstraram um zelo e um cuidado muito especial pelo apóstolo nos
momentos em que sua enfermidade manifestou-se ali. Dessa atitude, podemos
extrair duas verdades básicas da ação solidária:
a) Não se deixar afetar pelo preconceito.
Os
gálatas receberam o apóstolo e sua mensagem como se tivessem recebido um anjo
do céu ou o próprio Cristo (Gl 4.14). Isso é relevante, principalmente, diante
de uma cultura espiritual predominante em nossos dias, que entende haver uma
conexão moral com a condição física. Nessa incoerente perspectiva, a
enfermidade seria uma consequência do pecado.
Contrária
à essa ideia, a experiência de Jó corrobora a tese de que nem sempre uma
enfermidade está relacionada à atitude pecaminosa. Outro exemplo é suscitado
pela pergunta dos discípulos a Jesus, quando viram um cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse
cego?” (Jo 9.2). A resposta de Jesus – “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se
manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3)
– mostra
que o problema não é descobrir a origem da enfermidade, mas enfrentá-la com as
armas espirituais.
ð Você consegue identificar formas discriminatórias contra irmãos que passam
por momentos de provação física na igreja? Quais?
b) Demonstrar felicidade e satisfação
interior com a presença dos enfermos na igreja.
Soa
inspiradora a atitude da igreja na Galácia, em relação à presença do apóstolo Paulo
entre eles. Paulo não lhes era um “peso”, apesar de sua enfermidade.
Aplicando
à vida, como trataríamos irmãos afetados com o vírus HIV, se o soubéssemos?
Como tratamos os idosos, que são as pessoas mais propensas a enfermidades? Esses
e tantos outros casos que não citamos aqui, por falta de espaço, merecem ser
tratados com o mesmo respeito que damos a todos os demais. Infelizmente, algumas
comunidades religiosas deixam de lado os enfermos, principalmente.
ð De que modo podemos zelar pela saúde das pessoas com que convivemos?
ð Que expressões de solidariedade podem ser realizadas por nós para
dignificar a vida dos enfermos da igreja?
Princípios essenciais da ação solidária
Os
princípios essenciais que orientam essa dimensão da vida cristã são o primado da
pessoa humana e a mutualidade.
1) Assim,
respeitar a pessoa humana é reverenciar
a Deus, pois fomos criados à imagem e semelhança dele.
Entre
as atitudes bíblicas que demonstram esse respeito, encontramos os seguintes
imperativos :
● o
serviço ao próximo (Gl 5.13b).
No
famoso episódio do lava-pés, Jesus ensinou os seus discípulos a serem servos
uns dos outros. Essa é a característica dos que obedecem aos seus ensinos (Mc
10.44).
O
mesmo vale para nós, também. O serviço cristão precisa acontecer porque nem
todos somos fortes de espírito ou animados. Velhos hábitos que tínhamos antes
de nossa conversão nos acompanharão para sempre. Alguns trazem traumas da
infância, outros ainda sofrem com suas perdas, outros com o luto, etc. A
verdade é que todos precisamos de ajuda. O serviço cristão é o meio divino de
ajudar nossos irmãos.
● a tolerância
paciente em relação aos erros cometidos contra nós (Ef 4.2; Cl 3.13a). Essa
lembrança exige humildade e mansidão, mas, principalmente, o reconhecimento de
que poderíamos estar do outro lado, o do ofensor. Como gostaríamos de ser
tratados, então?
● a
inclusão social, principalmente, no culto.
Em
relação aos idosos, isso significa, entre outras inúmeras possibilidades, as
ações seguintes:
● permitir-lhes
atuar mais, agindo sem preconceitos estéticos. Isso é democratizar o culto e
honrar a Palavra de Deus.
● respeitar
o ritmo diferente dos idosos, não resmungando quando o culto tiver seu ritmo diminuído;
● não
forçar os idosos a terem comportamentos joviais;
Em
relação aos enfermos, isso implica as ações seguintes:
●
produzir material para aqueles que não podem mais cultuar no templo, por
exemplo: uma fita de vídeo do culto dominical, um informativo das atividades,
que seria entregue numa visita social, etc.
● Deveríamos
dar-lhes mais atenção. Visitas sociais, conduzidas com espírito cristão e
devoção são essenciais à recuperação do enfermo, pois a fé é um fator vital
para ele.
2) O caráter comum do cuidado e da
comunhão que move os relacionamentos cristãos – a mutualidade – diferencia o cristão do mundo ao seu
redor.
Paulo
nos ensina isto, ao afirmar: “Levai as
cargas uns dos outros” (Gl 6.2).
Para
comprovar esse fato, basta ouvir (entendendo o que se diz) os cantores de Pop
Rock. Dizem em suas canções “I don’t care!” (Eu não ligo!), They don’t care” (Eles não se importam!),
“Nobody cares” (ninguém tá nem aí!). Mensagens com esse teor mostram que
persiste no mundo uma ausência de mutualidade. É a total desesperança, o
sentimento de isolamento, de não ter alguém
em quem confiar ou com quem contar...
Cristo
mudou essa realidade em nossa vida, pois ele se importou conosco. Ele o fez até
a morte, e morte de cruz! Ele deseja que nos importemos com os demais, também. Paulo
transcreve essas ideias em suas cartas. Aos Romanos, disse: “Nós, que somos fortes, devemos suportar as
fraquezas dos fracos...” (Rm 15.1). Aos Tessalonicenses, disse: “... que consoleis os de pouco ânimo,
sustenteis os fracos, e sejais pacientes com todos” (1Ts 5.14).
ð Que seria da igreja sem a mutualidade, sem o cuidado mútuo?
ð Num sentido prático da esfera da ação social e no cuidado mútuo, em
que o exemplo de Paulo pode nos ajudar? Como ser solidários num mundo voltado
para o individualismo e o egoísmo?
Conselhos úteis
O
fator que nos une e nos faz solidários é Cristo. Por isso, Paulo faz o apelo
aos cristãos da Galácia para que neles “Cristo
seja formado” (Gl 4.19). Desse modo, os laços de solidariedade são solidificados
pela unidade do Espírito.
Não
percamos tempo. Procuremos por outros que estão necessitando de ajuda, de um
abraço amigo, de um conselho, de um telefonema, de um simples “Eu me importo!”.
É o que Paulo quis dizer com a expressão “façamos
o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10).
Que
tal estreitar relações com os irmãos enfermos? É algo fácil em nossos dias: um
telefonema, um bilhete, uma visita rápida, uma oração a Deus pelo seu
bem-estar, tudo isso traz muita alegria a quem passa por dificuldades físicas.
[1] HUMMES,
Cláudio. Ética e Solidariedade – o verdadeiro conceito de caridade cristã
. Acesso em 7 de
fevereiro, 2010, às 16h00.
Leituras
diárias
Segunda João
9.1-38
Terça João
13.1-17
Quarta Romanos
12.4-21
Quinta Romanos
15.1-7
Sexta Hebreus
13.1-3
Sábado Gálatas
4.8-20
Domingo Gálatas
6.1-10
''Convenção Batista Fluminense - Revista Palavra e Vida''.
Nenhum comentário:
Postar um comentário