segunda-feira, 27 de maio de 2013

Lição 9 – Solidariedade na igreja
                                      Texto bíblico: Gálatas 4.8-20
Texto áureo: Gálatas 6.2

A palavra de ordem nesta seção da carta aos Gálatas é solidariedade.

Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, em conferência na USP, ao definir esse vocábulo, aproximou-o do conceito de caridade: “Solidariedade é presença e militância da igreja naquilo que tem que ver com a dignidade humana, com os direitos humanos, com a liberdade, com a exclusão. E é aí onde vivemos nossa fé cristã”.[1]

Entretanto, para a igreja cristã, a ênfase desse nobre sentimento não subjaz ao gesto caridoso que o expressa, simplesmente. O revestimento do amor de Deus, em nós, impulsiona o relacionamento solidário, que é gerador da responsabilidade mútua entre pessoas unidas por um único interesse: Cristo.


O caso Paulo:
um enfermo recebendo a solidariedade da igreja

Na carta aos Gálatas, Paulo foi objeto da ação solidária da igreja. Estavam unidos pelo evangelho. Pregador e ouvintes, ambos praticantes. A partir da análise desse comportamento, procuraremos encontrar formas semelhantes de agir em relação aos demais irmãos e de demonstrar a unidade cristã.

Na única vez que o apóstolo fala de doença ou enfermidade física em Gálatas,
fala de si mesmo: “por causa de uma enfermidade da carne vos anunciei o evangelho” (Gl 4.13).

Uma incapacidade física (a palavra também traduz fraqueza ou doença) impediu-o de continuar viagem e permitiu-lhe ficar entre os gálatas e pregar-lhes o evangelho. Mesmo a enfermidade pode ser motivo de ação de graças!

Ninguém sabe ao certo qual era a doença de Paulo. Quase todos os estudiosos concordam que era uma doença oftalmológica, pois condiz com a afirmação em Gálatas 4.15: “se possível fora, teríeis arrancado os vossos olhos, e mos teríeis dado”.

A experiência de conversão de Paulo na estrada de Damasco também corrobora para este fato (At 9). Depois do encontro de Paulo (à época, Saulo) com Cristo, em que um clarão de luz o deixou temporariamente cego, escamas ou crostas cobriram os olhos do apóstolo (At 9.18). Teriam ficado sequelas? Muito provavelmente.


Zelo e cuidado: lições solidárias da igreja

Os gálatas demonstraram um zelo e um cuidado muito especial pelo apóstolo nos momentos em que sua enfermidade manifestou-se ali. Dessa atitude, podemos extrair duas verdades básicas da ação solidária:

a) Não se deixar afetar pelo preconceito.

Os gálatas receberam o apóstolo e sua mensagem como se tivessem recebido um anjo do céu ou o próprio Cristo (Gl 4.14). Isso é relevante, principalmente, diante de uma cultura espiritual predominante em nossos dias, que entende haver uma conexão moral com a condição física. Nessa incoerente perspectiva, a enfermidade seria uma consequência do pecado.

Contrária à essa ideia, a experiência de Jó corrobora a tese de que nem sempre uma enfermidade está relacionada à atitude pecaminosa. Outro exemplo é suscitado pela pergunta dos discípulos a Jesus, quando viram um cego de nascença: Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” (Jo 9.2). A resposta de Jesus – Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9.3) – mostra que o problema não é descobrir a origem da enfermidade, mas enfrentá-la com as armas espirituais.  

ð  Você consegue identificar formas discriminatórias contra irmãos que passam por momentos de provação física na igreja? Quais?

b) Demonstrar felicidade e satisfação interior com a presença dos enfermos na igreja.

Soa inspiradora a atitude da igreja na Galácia, em relação à presença do apóstolo Paulo entre eles. Paulo não lhes era um “peso”, apesar de sua enfermidade.

Aplicando à vida, como trataríamos irmãos afetados com o vírus HIV, se o soubéssemos? Como tratamos os idosos, que são as pessoas mais propensas a enfermidades? Esses e tantos outros casos que não citamos aqui, por falta de espaço, merecem ser tratados com o mesmo respeito que damos a todos os demais. Infelizmente, algumas comunidades religiosas deixam de lado os enfermos, principalmente.

ð  De que modo podemos zelar pela saúde das pessoas com que convivemos?
ð  Que expressões de solidariedade podem ser realizadas por nós para dignificar a vida dos enfermos da igreja?


Princípios essenciais da ação solidária

Os princípios essenciais que orientam essa dimensão da vida cristã são o primado da pessoa humana e a mutualidade.

1) Assim, respeitar a pessoa humana é reverenciar a Deus, pois fomos criados à imagem e semelhança dele.

Entre as atitudes bíblicas que demonstram esse respeito, encontramos os seguintes imperativos :

● o serviço ao próximo (Gl 5.13b).

No famoso episódio do lava-pés, Jesus ensinou os seus discípulos a serem servos uns dos outros. Essa é a característica dos que obedecem aos seus ensinos (Mc 10.44).

O mesmo vale para nós, também. O serviço cristão precisa acontecer porque nem todos somos fortes de espírito ou animados. Velhos hábitos que tínhamos antes de nossa conversão nos acompanharão para sempre. Alguns trazem traumas da infância, outros ainda sofrem com suas perdas, outros com o luto, etc. A verdade é que todos precisamos de ajuda. O serviço cristão é o meio divino de ajudar nossos irmãos.

● a tolerância paciente em relação aos erros cometidos contra nós (Ef 4.2; Cl 3.13a). Essa lembrança exige humildade e mansidão, mas, principalmente, o reconhecimento de que poderíamos estar do outro lado, o do ofensor. Como gostaríamos de ser tratados, então?

● a inclusão social, principalmente, no culto.

Em relação aos idosos, isso significa, entre outras inúmeras possibilidades, as ações seguintes:
● permitir-lhes atuar mais, agindo sem preconceitos estéticos. Isso é democratizar o culto e honrar a Palavra de Deus.
● respeitar o ritmo diferente dos idosos, não resmungando quando o culto tiver seu ritmo diminuído;
● não forçar os idosos a terem comportamentos joviais;

Em relação aos enfermos, isso implica as ações seguintes:

● produzir material para aqueles que não podem mais cultuar no templo, por exemplo: uma fita de vídeo do culto dominical, um informativo das atividades, que seria entregue numa visita social, etc.
● Deveríamos dar-lhes mais atenção. Visitas sociais, conduzidas com espírito cristão e devoção são essenciais à recuperação do enfermo, pois a fé é um fator vital para ele.

2) O caráter comum do cuidado e da comunhão que move os relacionamentos cristãos – a mutualidadediferencia o cristão do mundo ao seu redor.

Paulo nos ensina isto, ao afirmar: “Levai as cargas uns dos outros” (Gl 6.2).

Para comprovar esse fato, basta ouvir (entendendo o que se diz) os cantores de Pop Rock. Dizem em suas canções “I don’t care!” (Eu não ligo!),  They don’t care” (Eles não se importam!), “Nobody cares” (ninguém tá nem aí!). Mensagens com esse teor mostram que persiste no mundo uma ausência de mutualidade. É a total desesperança, o sentimento de  isolamento, de não ter alguém em quem confiar ou com quem contar...

Cristo mudou essa realidade em nossa vida, pois ele se importou conosco. Ele o fez até a morte, e morte de cruz! Ele deseja que nos importemos com os demais, também. Paulo transcreve essas ideias em suas cartas. Aos Romanos, disse: “Nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos...” (Rm 15.1). Aos Tessalonicenses, disse: “... que consoleis os de pouco ânimo, sustenteis os fracos, e sejais pacientes com todos” (1Ts 5.14).

ð  Que seria da igreja sem a mutualidade, sem o cuidado mútuo?

ð  Num sentido prático da esfera da ação social e no cuidado mútuo, em que o exemplo de Paulo pode nos ajudar? Como ser solidários num mundo voltado para o individualismo e o egoísmo?

Conselhos úteis

O fator que nos une e nos faz solidários é Cristo. Por isso, Paulo faz o apelo aos cristãos da Galácia para que neles “Cristo seja formado” (Gl 4.19). Desse modo, os laços de solidariedade são solidificados pela unidade do Espírito.

Não percamos tempo. Procuremos por outros que estão necessitando de ajuda, de um abraço amigo, de um conselho, de um telefonema, de um simples “Eu me importo!”. É o que Paulo quis dizer com a expressão “façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10).

Que tal estreitar relações com os irmãos enfermos? É algo fácil em nossos dias: um telefonema, um bilhete, uma visita rápida, uma oração a Deus pelo seu bem-estar, tudo isso traz muita alegria a quem passa por dificuldades físicas.



[1] HUMMES, Cláudio. Ética e Solidariedade – o verdadeiro conceito de caridade cristã . Acesso em 7 de fevereiro, 2010, às 16h00.
  
Leituras diárias
Segunda       João 9.1-38
Terça              João 13.1-17
Quarta           Romanos 12.4-21
Quinta           Romanos 15.1-7
Sexta             Hebreus 13.1-3
Sábado          Gálatas 4.8-20
Domingo       Gálatas 6.1-10

''Convenção Batista Fluminense - Revista Palavra e Vida''.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Celebrando em Família

Celebrando em família
Este mês dedicado a família batista, não poderíamos esperar outra coisa, a não ser colher as bençãos do  Senhor. Na primeira semana recebemos o pastor Cláudio Santana e sua Esposa Michela. naquela noite fomos chamados ser bençãos em nossa família, bem como por onde passarmos. Na segunda semana o pastor Rangel falou as mães e aos filhos sobre as responsabilidades de cada um, e a importância do relacionamento sadio. Na terceira semana recebemos o pastor Michel Pereira, sua esposa Daniele e seu bebê, a Emanuele. Ele nos falou da importância de proteger a família, nos ensinando com relação aos relacionamentos dentro do respeito e da disciplina. Nos chamou a sermos proativos em relação a nossa atitude, principalmente na educação dos filhos e nos cumprimentos dos papéis dentro da família. 
Não podemos nos esquecer do jantar em família, hum que delícia. Vou falar igual ao irmão Ageu:"quem não foi perdeu". Aguardamos no próximo domingo o Pastor Adriano e família, com certeza vai ser benção pura. "Famílias abençoadas para abençoar".


Dia das MÃES
 Pastor Claudio e esposa


 Pastor Michel e esposa

Famílias em perigo

Famílias em perigo

Referência: Malaquias 2.10-16
INTRODUÇÃO
O assunto de hoje está nas manchetes dos jornais. É uma tema atual, pertinente e urgente. A maior crise que estamos vivendo é a crise da família.
O que é casamento? O que Deus diz sobre casamento misto? E o divórcio, como Deus o encara?
O nosso estudo hoje versará sobre essas questões vitais:
1. A teologia determina a vida
Os sacerdotes deixaram de ensinar a Palavra e o povo se corrompeu. Práticas erradas são fruto de princípios errados.
Eles estavam lidando de forma errada uns com os outros, porque estavam lidando de forma errada com Deus.
2. A família determina a igreja
Os casamentos mistos estavam pondo em risco a teocracia judaica, a integridade espiritual da nação e o divórcio estava estava colocando em risco a integridade das famílias. O abandono do cônjuge estava ameaçando o desmoronamento do lar em Israel. Famílias desestruturadas e quebradas desembocam em igrejas fragilizadas.
I. O CASAMENTO É UMA ALIANÇA DE AMOR – v. 14
1. Os limites da aliança conjugal
a) O casamento é uma união heterossexual (v. 14) – O casamento é a união entre um homem e uma mulher. Este é o princípio da criação conforme Gênesis 2:24: “Por isso, deixa o homem seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. A união homossexual é uma abominação, um erro, uma torpeza, uma paixão infame contrária à natureza.
b) O casamento é uma união monogâmica (v. 14) – O casamento é a união entre um homem e uma mulher. A monogamia foi instituída na criação, sancionada na lei, reafirmada na graça. A incidência da poligamia foi fruto da desobediência e trouxe graves consequências.
c) O casamento é uma união monossomática (v. 14) – O sexo no casamento é ordem, é bom, é santo, é puro, é deleitoso. A deslealdade à aliança implicava na infidelidade sexual. Os índices de infidelidade conjugal são alarmantes na atualidade (75% homens e 63% mulheres).
d) O casamento é uma união indissolúvel (v. 14) – A quebra da aliança conjugal é deslealdade. Jesus reafirmou que “o que Deus uniu não o separe o homem” (Mt 19:6).
2. A natureza da aliança conjugal
a) O casamento é uma aliança voluntária de amor entre um homem e uma mulher (v. 14) – O casamento não é compulsório. É uma escolha voluntária. Ninguém obriga duas pessoas se casarem. Quando elas se unem nessa aliança devotam amor um pelo outro. Elas aceitam entrar debaixo do mesmo jugo. Elas fazem uma aliança, um pacto de pertencerem um ao outro, de cuidarem um do outro, de serem fiéis um ao outro. O casamento é um pacto (Pv 2:17). Provérbios 5:18 exorta exorta o marido a alegrar-se com a mulher da sua mocidade.
b) O casamento é uma aliança de companheirismo (v. 14) – O casamento não foi criado para os cônjuges competirem, mas para cooperarem. Eles devem cuidar do outro, como cuidam de si mesmo. Eles são companheiros, ou sejam, devem estar juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade.
c) O casamento é uma aliança testemunhada por Deus (v. 14) – Deus é o arquiteto, o fundamento e o sustentador do casamento. Ele está presente. Ele é a testemunha principal. O casamento foi instituído por ele, é feito na presença dele. Devemos pedir a ele o cônjuge. Devemos construir a relação sobre ele (Sl 127:1). O cordão de três dobras não se arrebenta com facilidade (Ec 4:12).
II. O CASAMENTO MISTO É UMA VIOLAÇÃO DO PROPÓSITO DE DEUS
1. O casamento misto é uma deslealdade à paternidade de Deus – v. 10
Deus é o Pai do seu povo, de uma forma especial. Deus chamou Israel para ser o seu povo particular (Os 11:1). Nós pertencemos à família de Deus. Fomos adotados e também somos gerados do Espírito. Deus fez conosco uma aliança de ser o nosso Deus e nós o seu povo para sempre. Ele requer de nós fidelidade.
O casamento misto levava a idolatria e a adoração de outros deuses era uma espécie de infidelidade conjugal com o Deus da aliança. Era uma traição e uma quebra da aliança (Ex 34:11-16; Nm 25; Nm 13:23-29).
O apóstolo Paulo pergunta: “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno? Ou que união, do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos?” (2 Co 6:15-16).
O casamento misto era uma porta de entrada para o desvio da fé:
a) A geração ante-Diluviana – A decadência da generação ante-diluviana foi devido ao casamento entre os filhos de Deus com as filhas dos homens, ou seja, de uma geração piedosa com uma generação que não temia a Deus.
b) A geração que possuiu a terra prometida – Os casamentos mistos foram o fator principal da apostasia religiosa de Israel. Salomoão e Acabe são exemplos tristes desse fato.
c) A geração pós-cativeiro – O casamento misto foi duramente reprovado por Esdras (Es 9:1-2), Neemias (Ne 10:30; 13::23-27) e Malaquias (Ml 2:10-16).
2. O casamento misto é a quebra da aliança feita pelos Pais – v. 10
Quando o povo recebeu a lei de Deus no Sinai, eles prometeram a Deus que não dariam seus filhos ou suas filhas em casamento aos adoradores de outros deuses (Ex 34:16; Dt 7:3).
A questão não era os casamentos inter-raciais, mas a união com adoradores de deuses estranhos (v. 11). O problema não era racial, mas religioso. Boaz casou-se com Rute, uma moabita.
Hoje, quando uma pessoa se casa com alguém não nascido de novo, está quebrando esse preceito bíblico (1 Co 7:39; 2 Co 6:14-17).
3. O casamento misto implica em infidelidade a Deus – v. 11
a) Porque atenta contra o propósito da família viver para a glória de Deus – a família devia ser a escola em que a vida como Deus a imaginava deveria ser aprendida e praticada (Dt 11:19). A vida cristã deve ser vivida exclusivamente para a glória de Deus. O casamento é uma demonstração do casamento de Cristo com a Igreja. O lar precisa ser uma igreja santa, adorando ao Deus santo. Uma casa dividida não pode prevalecer. Andarão dois juntos se não houver entre eles acordo.
b) Porque conspira contra a criação dos filhos no temor do Senhor (v. 15) – Um casamento misto tem grandes dificuldades na criação dos filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Ef 6:4). Os filhos passam a falar meio asdodita (Ne 13:24).
c) Porque é uma aberta desobediência ao mandamento de Deus (v. 11) – Tanto no Antigo como no Novo Testamento a ordem de Deus é clara: o casamento misto não faz parte do projeto de Deus para o seu povo (Dt 7:3-4; 2 Co 6:14-17).
4. O casamento misto é um alvo certo do juízo de Deus – v. 12
A desobediência traz juízo. Deus não premia a desobediência. As consequências podem ser amargas para aqueles que entram na contra-mão da vontade de Deus.
A linguagem faz lembrar o juízo que atingiu Eli, cuja família foi eliminada do sacerdócio por causa da sua negligência e por causa das maldades cometidas por seus dois filhos (1 Sm 2:29-35).
III. O DIVÓRCIO É UMA QUEBRA DA ALIANÇA CONJUGAL
1. A natureza do divórcio
a) O divórcio não foi instituído por Deus (v. 16) – Deus regulamentou o divórcio, mas não o instituiu. Deus instituiu o casamento e não o divórcio. O casamento é fruto do coração amoroso de Deus, o divórcio é fruto do coração endurecido do homem.
b) O divórcio não é da vontade de Deus (v. 16) – Embora, o divórcio seja permitido em caso de infidelidade e abandono, ele não é obrigatório. Ele é resultado da dureza de coração. Melhor que o divórcio é o perdão e a restauração.
c) O divórcio é a quebra de uma aliança feita na presença de Deus (v. 14,15) – O divórcio é a apostasia do amor. É rejeitar alguém que um dia foi desejado. É descumprir com professas feitas na presença de Deus. Malaquias diz que é a quebra da aliança com: 1) A mulher da tua mocidade (v. 14,15); 2) Tua companheira (v. 14); 3) A mulher da tua aliança (v. 14).
2. A causa do divórcio
a) A falta de cuidado de si e do cônjuge (v. 15,16) – O casamento é como conta bancária, se sacarmos mais que depositamos, vamos à falência. Se investíssimos mais no casamento, teríamos menos divórcios (Mt 19:3-9). Quem ama o cônjuge a si mesmo se ama. Quais são só cuidados que precisamos ter: 1) Não deixar o casamento cair na rotina; 2) Não guardar mágoa; 3) Não se descuidar da comunicação; 4) Suprir as necessidades emocionais e sexuais do cônjuge; 5) Administrar sabiamente a questão financeira.
b) A falta de bom senso (v. 15) – “Ninguém com um resto de bom senso o faria. Mas que fez um patriarca? Buscava descendência prometida por Deus”. Alguns estudiosos vêem aqui o divórcio de Abraão. Mas creio que o texto fala da criação. O assunto do contexto é divórcio. Daí, a exortação do profeta: “Portanto, cuidai de vós mesmos, e ninguém seja infiel para com a mulher da sua mocidade”. Antes de divorciar uma pessoa precisa ter bom senso para pensar nas consequências: 1) Consequências espirituais; 2)Consequências emocionais; 3) Consequências econômicas; 4) Consequências para os filhos; 5) Consequências para a igreja.
3. As consequências do divórcio
a) Provoca profunda dor na pessoa abandonada (v. 13) – Esse choro era dos homens que se chegavam a Deus sem ter suas orações respondidas e também das mulheres abandonadas. Quando as esposas abandonadas iam ao altar e derramavam suas lágrimas, isso tocava o coração de Deus ao ponto dele não aceitar as orações dos maridos que as abandonavam. O divórcio dói mais do que o luto para o cônjuge e para os filhos.
b) Traz graves consequências para os filhos (v. 15) – A poligamia e o divórcio não são conducentes à criação de filhos no temor de Deus. E, em última instância, essas práticas não eram proveitosas para obter a semente piedosa na árvore genealógica do Messias prometido.
c) Provoca quebra da comunhão com Deus da pessoa que abandona (v. 13b) – Os contemporâneos de Malaquias estavam subestimando o pecado do divórcio (v. 13). Eles choravam, mas não obedeciam. Quando Deus não aceita o ofertante, ele rejeita a oferta. No primeiro capítulo de Malaquias, Deus recusa-se a aceitar os sacrifícios porque os animais eram defeituosos (1:8,10,13); agora, Deus os rejeita por causa do divórcio dos ofertantes. Salmo 66:18 diz que se há iniquidade no coração, Deus não ouve as orações. 1 Pedro 3:7 diz que se o marido não vive a vida comum do lar, suas orações são interrompidas. Deus não aceita o culto desses homens, porque ele não aceita a quebra da aliança conjugal.
d) Provoca o repúdio de Deus ao ato e à pessoa (v. 16) – Deus odeia o divórcio e repudia aquele que age com violência com o cônjuge abandonado. Para Deus o divórcio é como cobrir de violência as suas vestes. De fato, toda vítima do divórcio é violentada psicologicamente. Os golpes psicológicos precedem à separação física. O divórcio não é algo de somenos para Deus. Numa época em que o divórcio campeia tão célere, precisamos inclinar os ouvidos à estas palavras de Deus!
CONCLUSÃO
1. O povo de Deus, aliançado com ele, não deve entrar em aliança com aqueles que não pertencem à família de Deus.
2. O clamor dos feridos é mais alto aos ouvidos de Deus do que as orações daqueles que ferem. As lágrimas dos oprimidos são mais preciosas para Deus do que as ofertas daqueles que oprimem.
3. Deus é a testemunha de toda cerimônia de casamento, e também será a testemunha de toda violação desses votos.
4. O pecado do divórcio é uma coisa abominável que Deus odeia.
Autor: Rev. Hernandes Dias Lopes
  

Lição 2 – Não há outro evangelho
Texto bíblico: Gálatas 1.6-10
Texto áureo: Romanos 1.16

Neste estudo, focalizaremos a brilhante defesa do apóstolo Paulo pela pureza do evangelho de Cristo. O alvo em vista é o genuíno evangelho do Reino (Mt 4.23; 24.14), que foi transmitido aos apóstolos (At 1.2; 2Pe 3.2) e, por fim, a nós, pela Palavra de Deus (1Pe 1.23-25). Será uma rica oportunidade de avaliar nossas motivações e, sobretudo, para reafirmar um fé coerente com os princípios bíblicos (Ef 2.20).

Análise do problema

Talvez não haja palavra mais importante para a missão cristã do que evangelho (gr. euangelion, Boas-Novas). Paulo, certamente, pensava assim. “Em contraste com as seis ocasiões (descontando os paralelos) em que euangelion é usado pelos escritores dos Evangelhos, o termo é encontrado sessenta vezes, ao todo, nos escritos de Paulo.”[1].

Em geral, as epístolas paulinas contêm um voto de ação de graças após a saudação inicial (1Co 1.4; Cl 1.3; Fp 1.3). Mas isso não ocorre em Gálatas. Antes, imediata e abruptamente, Paulo diz-se perplexo – o vocábulo grego pode significar uma gama de palavras como chocado, surpreso, pasmo (Gl 1.6a).

A perplexidade de Paulo foi causada pela distorção intencional do evangelho de Cristo que ocorria na Galácia, por influência dos judaizantes (Gl 2.4a). Eles questionavam o ensino apostólico sobre a graça e aliciavam os cristãos à obediência da lei de Moisés (Gl 2.4b).

Fé ou obras? Graça ou lei? Justiça de Deus ou justiça por méritos próprios? Essas são questões cruciais, pois envolvem o princípio bíblico-doutrinário da salvação.

Os cristãos da Galácia enfrentavam um dilema: viver a liberdade cristã na esfera da graça ou consentir com o domínio escravizador da lei. O problema parece recorrente no Novo Testamento, pois a oposição judaizante ao apostolado de Paulo foi intensa e incansável (2Co 11.3,4,13,22; 1Ts 2.15,16). Entretanto, a reação paulina não deixou por menos. Seu argumento mostra-se direto e incisivo: não se pode denominar “evangelho” uma mensagem de salvação que não provenha do ato gracioso de Deus (Gl 1.7). No concílio de Jerusalém, a tese de Paulo foi confirmada (At 15).

Os gálatas e nós, hoje

Em Gálatas, Paulo ensina que todo e qualquer desvio intencional na mensagem do evangelho é considerado uma perversão, uma descaracterização do evangelho (Gl 1.6-9).

Num panorama mais amplo, o problema da igreja na Galácia não é tão diferente do que vivemos, hoje, no que se refere à essência do termo evangelho. O momento atual da história da igreja revela-se, às vezes, embaraçador. Entre outras barbaridades, presenciamos:
• o uso da fé evangélica como moeda de troca no mercado consumidor cristão;
• uma geração de líderes espirituais gananciosos e descomprometidos com a Palavra de Deus;
• uma insistente postura de autojustificação e de religiosidade ritual legalista, pela maioria;
• um cristianismo cada dia mais sensorial e menos racional.

Essas falsas representações do evangelho dão pouco – ou nenhum – valor à origem do evangelho. O fato de o evangelho proceder de Deus, de Cristo, do Espírito (Rm 1.1; 15.19; 1Ts 1.5) acrescenta à mensagem de salvação um elevado grau de exigência moral e espiritual (Fp 1.27). Para os que pervertem o evangelho, entretanto, a evangelização apresenta apenas a faceta adjetiva e utilitária. A sagacidade dos filhos das trevas ao fazer uso do evangelho para anunciar apenas o que ele pode oferecer – prosperidade, sucesso, bem-estar, tudo a serviço do homem – é de fato algo sedutor (e perigoso!).

ð  Que exemplos podemos dar dessa descaracterização do evangelho?
ð  Será que essa distorção de sentido continua incomodando líderes cristãos, hoje?

A essência do evangelho

A Associação Internacional de Fragrâncias estabelece quatro categorias para os perfumes com base na concentração de suas essências. A fragrância menos acentuada é a água de colônia – 3-5% de essência, duração máxima de 6h – e a mais forte é o extrato de perfume – 15-40 %, duração máxima de 24h. Assim, aprendemos que essência diz respeito à duração e intensidade.

O modo como viveram e morreram os apóstolos, nos primeiros 100 anos do cristianismo, revela seu apego à essência do evangelho. Eles exalavam o bom perfume de Cristo (2Co 2.15), o que pode ser percebido pelos exemplos seguintes:

(1)  sua renúncia pessoal em prol do testemunho do evangelho (1Ts 2.2; At 20.24a);
(2)  sua disposição incansável para enfrentar açoites e prisões em razão da pregação do evangelho (Lc 21.12; At 5.18,29,40);
(3)  sua aceitação serena do destino implacável a eles reservado – perseguição e martírio – por pregar o evangelho, em cumprimento ao mandado de Deus  (1Co 4.9; Hb 11.36,37).

ð  Qual tem sido a "duração" do bom perfume de Cristo em nós?
ð  Até que ponto pretendemos ir para levar adiante a mensagem do evangelho?

A herança do evangelho

Os apóstolos deixaram um legado para as demais gerações de discípulos, com o seguinte teor[2]:
• um anúncio histórico da morte, ressurreição e exaltação de Jesus, demonstrada como o cumprimento da profecia;
• uma avaliação teológica da pessoa de Jesus como Senhor e Cristo igualmente;
• um apelo ao arrependimento e ao recebimento do perdão de pecados.

Desse tema evangélico não podem os cristãos abrir mão, sob o risco de falsificar a Palavra de Deus (2Co 2.17).

Não há outro evangelho, senão o do amor

A essência do evangelho compreende a proclamação do amor de Deus pelos pecadores (Rm 5.8; Ef 2.4). Para oferecer, gratuitamente, a salvação, o Senhor paga um altíssimo preço – a morte na cruz (Cl 2.13,14; 1Tm 2.6). Com esse gesto, os corações humanos podem ser inundados pelo amor misericordioso e perdoador de Deus (Rm 5.5; Ne 9.31; Tt 3.5-7), o resultado natural da manifestação de fé no Salvador (Jo 5.24; 2Pe 1.1).

Se encarnar o evangelho, verdadeiramente, o cristão há de fazer do amor o seu caminho para viver (Gl 5.22a; Rm 13.8; Ef 5.2), pois assim é que se permanece em Cristo (Jo 15.9; 1Jo 2.24). Entre outras realidades, a mensagem do amor produz:
• segurança absoluta da efetiva salvação propiciada por Deus (Rm 8.39);
• doação e renúncia, em prol do serviço a Cristo (2Co 2.4; 12.10; 2Tm 2.10);
• ambiente eclesiástico cordial e respeitador, o que representa uma derrota para Satanás e seus intentos (Rm 12.10; 2Co 2.10,11; 13.11);
• submissão aos que, sob a orientação de Deus, presidem sobre a igreja com dedicação e exemplo de fé (1Ts 5.13);
• condição imprescindível para edificação espiritual, individual e coletiva, principalmente pela guarda da Palavra de Deus (2Tm 1.7; 1Jo 2.5).

Não há outro evangelho, senão o da liberdade

Os gálatas haviam sido libertados do cativeiro da corrupção do pecado (Rm 8.21; Jo 8.32) e não estavam obrigados às leis cerimoniais do judaísmo, como a circuncisão (Gl 5.1). Por isso, o teor dessa carta fornece o perfeito exemplo da liberdade cristã.

Paulo não hesita em apontar aqueles que desejavam destruir a liberdade que Cristo tornou possível aos cristãos da Galácia. Com zelo, ardor e fidelidade partidária, esses falsos irmãos causavam alvoroço, comoção e agitação na comunidade cristã. Eram perigosos para a existência da igreja e precisavam ser impedidos. Por isso, o apelo ao anátema – uma espécie de maldição (Gl 1.8b,9b) – com dois objetivos principais: uma ordem de banimento da comunidade (exclusão) e uma salvaguarda contra ataques semelhantes no futuro.


Conselhos úteis

Deus nos chamou à liberdade (Gl 5.3). Portanto, não fiquemos a espreitar o comportamento dos demais cristãos, agindo como juízes e, às vezes, algozes. Preocupemo-nos em corrigir nossos comportamentos pecaminosos (Tg 5.16) e em disciplinar com amor e mansidão os fracos na fé (2Tm 2.25,26). 

Libertos do cativeiro do pecado, somos o “bom” perfume de Cristo, um aroma agradável, que exala a justiça e a paz na sociedade (Jr 23.6). Mas para que a essência desse perfume dure, nossa pregação e testemunho devem ter Cristo como centro (2Jo 1.9). Dessa forma, a pregação reveste-se do poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Que o Senhor nos ajude nessa nobre missão!


Lição 3 – O testemunho apostólico
Texto bíblico: Gálatas 1.11-24
Texto áureo: 2Timóteo 1.8

Neste estudo, abordaremos um depoimento pessoal de Paulo, o apóstolo dos gentios (Ef 3.8; 1Tm 2.7). Interessa-nos, principalmente, destacar a fonte, a natureza e os desdobramentos desse testemunho apostólico, procurando, assim, estabelecer uma relação com a proclamação da igreja de Cristo, hoje.
A fonte do testemunho apostólico
É muito importante o destaque dado por Paulo à origem de seu apostolado, por dois motivos:
(1) primeiro, para esclarecer que ele não traz uma mensagem nova, mas, simplesmente, passa a mensagem divina adiante. Ao cumprir sua missão, Paulo tornou-se o principal intérprete das profecias messiânicas do Antigo Testamento (1Tm 1.15).
(2) segundo, para defender-se daqueles que procuravam denegrir sua imagem e seu testemunho perante a igreja (Gl 5.11). Esses opositores induziam os gálatas ao erro, movidos por inveja e sentimento faccioso (Gl 5.26). Portanto, ao apelar para a revelação de Jesus Cristo como a fonte do seu testemunho (Gl 1.1,12; 1Co 9.1), o grande mestre cristão desnuda seus opositores. Nenhum deles havia passado pela experiência do encontro com o Salvador e, por essa razão, não andam na verdade do evangelho (Gl 2.5). 
O fator que sobressai no apostolado de Paulo é a graça soberana de Deus por intermédio de Cristo (Gl 1.12,15). A revelação de Jesus causou não apenas a radical conversão de Paulo – pelo abandono da atitude extremista farisaica (At 26.11; Fp 3.4-6) – mas também sua consequente vocação para pregar aos gentios (At 9.15; Gl 1.16).



Nossa fonte de revelação, hoje
O mesmo evangelho da livre graça que fora dado a Paulo, por revelação direta da parte de Jesus Cristo[3], encontra-se disponível à igreja, hoje.
Não nos referimos com isso às revelações especiais que suscitam os apostolados modernos, mas tão somente à revelação do mistério da fé, que é Cristo, esperança da glória (Cl 1.26,27).
Portanto, a fonte divina do testemunho da igreja ao mundo é a palavra da verdade, o evangelho da salvação (Ef 1.13). Por meio das Boas-Novas, descortina-se o eterno propósito divino, pelo sangue de Cristo, de oferecer ao mundo a redenção, segundo a riqueza da sua graça (Ef 1.7-9).
O desvendar do mistério do evangelho, pelo testemunho da pregação, apresenta as implicações seguintes:
• suscita, da parte da igreja, a vigilância em oração com o intuito de encorajar os mensageiros diante da qualquer resistência (Ef 6.18,19; Cl 4.3);
• exige a exposição profética das Sagradas Escrituras e uma resposta de fé da parte dos ouvintes (Rm 16.25,26).
ð  Como podemos intensificar nossa relação com a Bíblia Sagrada, fonte inesgotável de vida e de salvação?
ð  De que maneira podemos estimular a oração pelo pastor e demais pregadores do evangelho na igreja?

A natureza do testemunho apostólico
O que podemos depreender da atividade apostólica em o Novo Testamento? Que significados podem ser extraídos da expressão “apóstolo”?

Dentre os sentidos do termo apóstolo, destacam-se as definições seguintes:
(1)  alguém escolhido para levar uma mensagem;
(2)  alguém enviado por outrem com uma mensagem a transmitir;
(3)  alguém que recebeu uma comissão diretamente de Deus para representá-lo.

Em Gálatas 1.17, Paulo fala dos primeiros apóstolos. Foram homens nomeados e treinados por Jesus para dar continuidade à sua missão redentora (At 1.21.22).  Entre os principais deveres apostólicos estavam a pregação (At 4.33; 1Co 1.17), o ensino (2Pe 3.2; Mc 6.30) e a administração da igreja[4] (At 4.34-37; 15.6,22; 16.4).

O evento que desencadeia o testemunho apostólico é o encontro com o Senhor ressurreto (1Co 15.6,7) – fato, inclusive, alegado por Paulo (1Co 15.8). A ênfase dada a essa tarefa testemunhal leva Paulo a designar alguns de seus cooperadores como apóstolos[5], não como termo técnico, mas como “mensageiros autorizados do evangelho” (2Co 8.23; Fp 2.25; Rm 16.7).

ð  Quais os desdobramentos da ressurreição do Senhor Jesus para o testemunho cristão? (Rm 1.4; 1Pe 1.3)

Nosso testemunho, hoje

No Brasil, em anos recentes, o termo apóstolo vem sendo retomado por grupos neopentecostais de diferentes denominações. Essas instituições alegam que seus apóstolos – e apóstolas – pertencem à mesma linha sucessória que se desenvolveu nos primórdios da igreja primitiva. Afirmam, também, que seu ministério é resgatar para a igreja a sua verdadeira vocação e missão, a partir do que denominam “um genuíno mover de Deus”[6].
Nós, batistas, não cremos nesse conceito caricato de uma igreja que precisa ser resgatada. Ela é – e continuará sendo – coluna e esteio da verdade (1Tm 3.15b). Seu resgate deu-se pelo sacrifício eficaz de Jesus, na cruz (Mc 10.45).
Também não cremos em sucessão apostólica, pois não foi essa a ênfase de Jesus, ao indicar aqueles que dariam continuidade à sua missão. Os apóstolos foram escolhidos para salvaguardar a mensagem do evangelho autêntico. Neste anúncio, eles transmitiram, da parte de Deus e de seu Filho Jesus, o testemunho que deu forma e dinâmica ao corpo de Cristo (1Co 15.22).
ð  Qual tem sido a ênfase dos ministérios eclesiásticos em nossos dias? Tem-se enfatizado a mensagem, ou o mensageiro? O conteúdo evangélico, ou estratagemas humanos?

A confirmação do testemunho apostólico

Demonstrações de poder e grandes sinais seguiram os atos dos apóstolos de Jesus. Esses milagres incluíam a expulsão de demônios e a cura de enfermos, sempre acompanhando a pregação do evangelho (At 2.43; 2Co12.12; Hb 2.3b,4). Dessa forma, confirmava-se diante de todos a realidade da comissão divina.

Em Gálatas, entretanto, o apostolado de Paulo ressalta outros dois fatores comprobatórios da validade de seu testemunho, os quais passamos a considerar:

1) Sua nova vida em Cristo, confirmada pelos demais cristãos

O ponto de partida para testemunho do evangelho de Cristo é a cidade de Jerusalém, que constituía a base do culto judaico e o berço da igreja cristã. Nessa cidade, Paulo relata seu encontro com os apóstolos Pedro e Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.18,19), e afirma que se deu a conhecer aos cristãos que ali viviam (Gl 1.22). Sua reputação como pregador do evangelho havia se espalhado rapidamente e a igreja glorificava a Deus por esse redirecionamento (Gl 1.24).

Quando “aprouve a Deus” (Gl 1.15a), o perseguidor passou a ser perseguido; o destruidor de vidas passou a edificá-las (Gl 1.23). Todos reconheceram a mudança na vida do mais voraz perseguidor da igreja, pois, em favor da salvação pela graça, Paulo abriu mão de tudo por amor a Jesus Cristo (Fp 3.8). Essa é a mais importante evidência na vida de um pregador.

2) As vidas transformadas, em decorrência da sua pregação

Paulo esperava que sua conversão fosse um paradigma para os cristãos da Galácia (Gl 4.12), pois a segunda evidência que confirma seu testemunho apostólico é a transformação na vida dos ouvintes da mensagem cristã.

Dentre os muito exemplos bíblicos, dois sobressaem:
• a vida de Tito, companheiro de Paulo e seu filho na fé, que é descrito por ele como “o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas” (2 Co 8.18);
os cristãos da igreja em Corinto. Paulo ressalta que os efeitos da pregação ali demonstram, conclusivamente, a validade da mensagem que lhes fora pregada (2Co 1.6).

ð  O impacto deixado por Cristo em nossa vida é perceptível à sociedade?

Conselhos úteis

A igreja não reproduz apóstolos, simplesmente permanece fiel à doutrina apostólica (At 2.42; Tt 1.9), a fim de oferecer ao mundo o testemunho de Deus (At 4.33; 1Co 2.1). Assim é que os discípulos de Jesus tornam-se embaixadores de Cristo (2Co 5.20a) e, dessa forma, cumprem com autenticidade sua vocação missionária (1Pe 2.9).

Não devemos e não podemos nos envergonhar do testemunho do Senhor, apesar das provas e tribulações deste mundo. Pelo contrário, estimulados pelo poder do Espírito, lutemos em favor do evangelho e ofereçamos um modelo digno de ser seguido, para a honra e glória do nosso Deus (2Tm 1.8).

Lição 4 – A universalidade do evangelho
Texto bíblico: Gálatas 2.1-10
Texto áureo: Mateus 24.14

As últimas instruções do Cristo ressurreto aos discípulos, antes de ascender aos céus, sugere à missão cristã um projeto de alcance ousado: da Judeia (centro judaico), passando por Samaria (território hostil) até os confins da terra (mundo gentílico), todos deveriam ouvir o evangelho e receber uma oportunidade de salvação (At 1.8).

Para a igreja cristã, entretanto, nascida num berço judaico, esse não foi um caminho fácil de ser percorrido. A mentalidade exclusivista dos judeus (At 10.28) e o apego à lei de Moisés (At 15.1) faziam com que os primeiros cristãos corressem o risco de se tornarem um novo tipo de judeus.

Atento a tudo isso, Deus dirigiu a história da igreja para realizar a missão em toda a sua plenitude (Rm 2.11; 3.29). Assim, ele garantiu a universalidade do evangelho, fazendo com que o nome de Jesus fosse anunciado por todo o Império Romano. Estava montada a plataforma para a tarefa evangelística mundial.

Quais as condições para a universalidade do evangelho? Quais os principais resultados da primeira reunião apostolar? Esse caráter global do evangelho significa que todos serão salvos?

O alcance mundial da proclamação do evangelho depende, entre outros fatores, das seguintes condições:

1ª condição: pessoas experientes na fé

As ruas eram menos perigosas há 30 anos, na cidade onde cresci. Eu e as crianças do bairro nos reuníamos durante o horário das novelas, para nos socializarmos. A minha predileção era o 3 x 3. As atividades eram variadas, mas, ali, face a face, medíamos forças, debatíamos assuntos cotidianos, competíamos. Quanto mais competentes eram os participantes, melhor era o resultado final.

A lembrança remete ao 3 x 3 ocorrido em Jerusalém, naquela conferência informal, mas, também, urgente para a evangelização do mundo. De um lado, três dos apóstolos de Cristo: Pedro, Tiago e João. Do outro, três notáveis evangelistas: Paulo, Barnabé e Tito.

Havia catorze anos que Paulo cumpria sua missão de pregar o evangelho entre os gentios. Em momento algum do seu ministério, até essa ocasião, ele foi convocado ou chamado a explicar-se perante os doze apóstolos. Paulo tomou a iniciativa do encontro, em obediência à orientação de Deus (Gl 2.2).

Paulo descreve os apóstolos que o antecederam como “colunas” da igreja (Gl 2.9a), pessoas de autoridade, principalmente, no campo da exposição do evangelho da salvação (At 8.4). Apesar disso, Paulo não considerava sua compreensão do evangelho em nada inferior à dos primeiros apóstolos (Gl 2.6).

Nessa conferência amigável, Paulo foi acompanhado por Barnabé e Tito, dois de seus mais importantes colaboradores.

Barnabé (sobrenome que significa “filho da consolação”) é um indivíduo de valor no campo intelectual e que possuía boa formação bíblica (At 13.1-3). Ele chamava-se José, era da descendência da tribo de Levi e natural da ilha de Chipre. Lucas retrata-o como alguém despojado (At 4.36,37), com visão espiritual aguçada (At 9.27) e grandemente respeitado no círculo cristão de Jerusalém (At 11.22-24).

Tito, certamente, um cristão gentílico (Gl 2.3), é um dos filhos na fé de Paulo e seu grande colaborador (Tt 1.4; 2Co 8.23). Para aquela reunião, Tito representava a prova viva do poder do evangelho entre os não judeus.

Os primeiros apóstolos reconheceram a autoridade apostolar de Paulo e Barnabé para expor o evangelho, ao oferecer-lhes a destra da comunhão (Gl 2.9b). Desse modo, tornaram-se instrumentais à universalidade do evangelho.

Hoje, a igreja do Deus vivo continua convocada para realizar a tarefa missionária em escala mundial. Sua nobre condição de coluna e firmeza da verdade (1Tm 3.15) revela, entre outros, os procedimentos seguintes:
● a conversão a Cristo é o ponto de partida da missão (Jo 15.16; Tg 1.18);
● a Palavra de Deus compõe o instrumento preciso para a tarefa missionária (At 12.24; 13.48; 15.35);
● à igreja compete respeitar e honrar aqueles que, em caráter ministerial, dedicam-se com amor à palavra e ao ensino do evangelho (1Tm 5.17).

ð  O caráter apoteótico dos shows evangélicos mostra-se muito atraente aos cristãos. O mesmo não se pode dizer, pelo menos quantitativamente, dos cultos doutrinários e dos estudos bíblicos dominicais na EBD. O que isso revela em relação às futuras gerações cristãs?

2ª condição: uma estratégia missionária


Da reunião de Paulo com os apóstolos, resultou um consenso: “o mesmo evangelho deveria ser pregado tanto aos judeus como aos gentios, baseado nas mesmas condições, ainda que houvesse diferentes esferas de serviço”.[7] Esses termos refletem o que denominamos universalidade do evangelho.

Alguns acontecimentos dirigidos por Deus permitiram a concordância mútua, dentre os quais, destacamos:

1) O encontro entre Pedro e o gentio Cornélio. Nessa ocasião, por meio de uma visão, Deus revelou ao apóstolo que devia quebrar a barreira étnica e anunciar o evangelho (At 10);

2) A aprovação pelos demais apóstolos da atitude de Pedro em relação a Cornélio, que os levou a glorificar a Deus por sua graça concedida aos gentios (At 11.1,18);

3) O surgimento da primeira igreja gentílica, em Antioquia da Síria, onde os discípulos foram pela primeira vez chamados “cristãos”. Para averiguar a mistura religiosa entre judeus e gentios, a igreja de Jerusalém enviou Barnabé, que muito se alegrou (At 11.19-26);

4) A reunião de Barnabé e Paulo em Antioquia. Durante um ano inteiro trabalharam ali, fortalecendo a fé daqueles irmãos e, assim, fazendo daquela igreja um centro avançado de apoio missionário (At 13.1-3).

É o intento divino salvar todo aquele que crê, sem distinção de etnia, cor ou origem (Rm 10.12). Para tal, Deus agiu e ainda age estratégica e eficazmente (Gl 2.8; 1Ts 2.3b).

A igreja precisa acatar as orientações do Senhor e lançar mão das oportunidades que ele oferece. Em nível local, algumas estratégias usadas por Deus para capacitar seus filhos são as conferências, os congressos e os encontros de caráter missionário. Em escala mundial, a soma de forças pelas igrejas, em prol de uma Junta Missionária, possibilita o melhor avanço do cristianismo.

ð  O despreparo na Palavra de Deus afeta diretamente a missão evangelística. Como mudar esse quadro negativo?

3ª condição: persistência diante das dificuldades de percurso

É comum o mesmo perfume apresentar cheiros diferentes quando aplicado em pessoas diferentes. Isso acontece porque os odores corporais são únicos e resultam de vários fatores, como a alimentação, as características pessoais, os lipídios e ácidos graxos que a pele exala.

Essa verdade aplica-se ao “bom perfume de Cristo”, que revela em todo o mundo a declaração de intenções para salvar, da parte de Deus (1Tm 2.4). A fragrância do conhecimento de Deus reage diferentemente de pessoa para pessoa. Ainda que o evangelho manifeste em todo o mundo essa fragrância, muitos optam por não acolher essa proposta amorosa e, por isso, não podem ser salvos (2Ts 2.10).

Aquele que se propõe evangelizar não pode frustrar-se a cada ato de resistência. Isso representará perda de foco e, com o tempo, trará para o pregador um desânimo perigoso. Para isso, é preciso uma postura humilde, a atitude de quem está apto para entender a honra de ser o instrumento das insondáveis riquezas de Cristo, pela pregação (Ef 3.8).

ð  O que podemos depreender da leitura de 1Coríntios 3.6,7, no que se refere à eficácia da pregação do evangelho?

Conselhos úteis


O fato de o evangelho dirigir-se a todas as pessoas não significa que todas as pessoas serão salvas. A razão disso é simples: o pecado também tem alcance universal (Rm 3.9-12). Nem todos os pecadores reagem conforme o esperado – arrependimento e fé – trazendo para si a condenação (1Co 1.18; 2Co 4.3). Mas isso em nada diminui a necessidade da pregação do evangelho, a tempo e fora de tempo (Cl 4.5).

Graças a Deus homens e mulheres atenderam à convocação apostólica no passado e, por isso, empreendem suas energias e esforços para evangelizar o mundo. Esses valorosos cristãos nos legaram o evangelho da salvação. Que eles nos sirvam como o melhor exemplo de conduta diante do desafio da evangelização mundial. Que eles nos inspirem a sermos, também, “colunas” da igreja do nosso Senhor Jesus Cristo.

Lição 5 – Conflitos sociais no cristianismo
Texto bíblico: Gálatas 2.11-14
Texto áureo:

Os anos que se seguiram à ressurreição de Jesus não foram nada fáceis para os cristãos. Foi um período de pressões políticas, religiosas e culturais provenientes de três diferentes fontes: o governo romano, o paganismo idólatra dos gregos e, principalmente, o judaísmo.
O incidente entre Paulo e Pedro, referido em Gálatas 2.11-14 – que é o objeto de estudo desta lição –, representa apenas um microcosmo da crise judaico-cristã que transparece no Novo Testamento[8]. Ainda assim, essa narrativa oferece-nos a rica oportunidade de entender como costumes e tradições interferem nas nossas relações com as demais pessoas e credos. Também, possibilita-nos estabelecer princípios de conduta no todo coerentes com a natureza do evangelho.

Análise do incidente
O contexto bíblico – A não ser o breve relato de Gálatas 2.11-14, Paulo não fornece explicações mais detalhadas da sua repreensão severa ao comportamento de Pedro (Gl 2.11). Provavelmente, o incidente ocorreu no período em que Paulo esteve com Barnabé na cidade de Antioquia, a fim de ajudar no desenvolvimento da igreja cristã que ali se formou (At 11-13). Pode-se afirmar também que essa ocorrência é anterior ao Concílio de Jerusalém (At 15), pois a única ocasião em que Barnabé esteve em companhia de Paulo foi durante a primeira viagem missionária.
O local – Antioquia da Síria foi o berço do cristianismo entre os não judeus e o ponto de partida do trabalho missionário de Paulo. Em razão de seus muitos pregadores e mestres, era o fórum do cristianismo gentílico no mundo (At 13.1). Quando Pedro veio até essa cidade, encontrou uma atmosfera completamente diferente daquela que vivia em Jerusalém.
O acontecido – Os judeus da dispersão, como os que viviam em Antioquia, não viviam tão isolados de seus vizinhos gentios. Pedro e os seus compatriotas (incluído, nesse rol, o próprio Barnabé) foram bem recebidos pelos cristãos gentios daquela cidade e, inclusive, compartilharam com eles do momento das refeições, o qual era sagrado para os judeus.
Tudo ia bem até a chegada de judeus palestinos a Antioquia. Esses viam com muita reserva essa proximidade com os gentios e esforçavam-se muito para manter sua herança religiosa intacta. Intimidado pela presença deles, Pedro passou a evitar o contato com os gentios e deixou de frequentar as suas refeições (Gl 2.12).
A resposta paulina e a mensagem aos gálatas– Esse relato serve ao propósito pedagógico de Paulo, que enfrentava problema semelhante na região da Galácia.
Paulo esteve nos dois lados desse conflito. Antes, como um orgulhoso fariseu, ele foi movido por um intenso ódio aos cristãos e pelo fanatismo religioso. Por isso, entendia bem o que estava acontecendo (Fp 3.5,6). Mas, agora, em razão de sua condição como missionário e mestre em Antioquia, o apóstolo dos gentios defendia a verdade do evangelho, que corria o perigo de ser desvirtuada (Gl 1.7). Para o bem da obra de Deus entre os Gálatas, portanto, a única alternativa de Paulo era uma tomada de posição grave contra Pedro, a fim de repreendê-lo. E ele o fez.
ð  Temos nos mostrado atentos aos desvios, intencionais ou não, do evangelho?
ð  Estamos preparados para responder com prontidão a essas perversões doutrinárias?




Pedro e os conflitos de ordem psicológica e social
Muitas barreiras psicológicas e sociais estão na base dos atos de intolerância religiosa dos judeus e da vergonha que Pedro sentiu por trair sua essência judaica, como nos exemplos a seguir:
1) Suas limitações pessoais, seus preconceitos em relação aos gentios (Ef 3.6) e os sentimentos confusos em relação à revelação de Deus;
2) Sua suscetibilidade à influência da ideologia e do tradicionalismo judaico, que ensinava a impureza dos gentios e exigia o separatismo (At 10.28);
3) A supervalorização dos costumes do grupo ao qual pertenciam – o judaísmo palestino – e dos seus estereótipos – por exemplo, a circuncisão – em detrimento da sua nova condição em Cristo (At 11.2,3).
Pedro mostrou-se preocupado, pois temia que a comunicação com os gentios viesse a “denegrir” sua imagem pública perante os judeus; receou, igualmente, as repercussões daquele contato perante os demais apóstolos, em Jerusalém. Tais temores eram sustentados por uma falsa noção de superioridade étnica dos judeus em relação aos gentios.
ð  Quantas vezes nos vemos supervalorizando nossos credos e tradições em detrimento de outros irmãos em Cristo? Piadas “evangélicas”, discussões acaloradas que em nada edificam e tantas outras atitudes preconceituosas nada mais fazem do que trazer vergonha ao evangelho...

Tensões sociais no cristianismo, hoje
O comportamento de muitos crentes, hoje, guarda semelhança com a atitude de Pedro. Quando isso ocorre, deixamos de agir do modo digno do evangelho diante da sociedade (Cl 1.9,10).
Podemos pensar em dois exemplos que evidenciam um comportamento incoerente da parte dos cristãos, hoje:
1) Inúmeras demonstrações de imaturidade nos relacionamentos eclesiásticos, num encaixe perfeito da descrição da igreja de Corinto(1Co 3.2). O tempo de conversão deveria, naturalmente, produzir maturidade na vida cristã (Hb 5.12). Mas, infelizmente, não é isso que presenciamos no dia a dia da igreja: briguinhas por cargos e posições; pessoas aborrecidas com as outras, mágoas de anos a fio, relacionamentos rompidos; birras pastorais e contra o pastor, são exemplos que evidenciam imaturidade.
2) cristãos que se deixam contaminar pela mentalidade atual do “ter” em detrimento do “ser”. Isso agrava as tensões sociais na igreja, pelo seu caráter discriminatório. Além disso, acentua as desigualdades entre as pessoas. Ainda que não seja pecado possuir riquezas, colocá-las acima de Deus e do próximo certamente o é (1Tm 6.9,17,18; Ec 5.10).
O aumento das divisões e dos conflitos nas igrejas locais parece indicar, em muitos casos, a persistência de duas atitudes equivocadas, as quais são:
● de um lado, ocorre, na igreja, uma sobrecarga de tradições e comportamentos estereotipados, que são transmitidos de geração em geração, sobre os crentes. Nesse sentido, cristão é sinônimo de alguém submisso e obediente ao sistema religioso e, por isso, útil.
O problema dessa atitude, entretanto, é que, em muitas vezes, fidelidade a um corpo de tradições não significa, necessariamente, fidelidade a Cristo. Somente com liberdade de pensamento e de expressão pode ocorrer o discernimento espiritual, sem o qual não poderemos desmascarar falsos mestres, falsos pastores e falsas igrejas (2Pe 3.15-18).
● do outro lado da moeda, muitos adotam um estilo ultraliberal de oposição gratuita a toda e qualquer tentativa de conformação religiosa, seja de ordem eclesiástica local ou denominacional.
Falta, nesses casos, temor a Deus (Sl 5.7). A igreja não nos pertence. É propriedade de Cristo. Não é uma construção de pedras e tijolos, mas sim uma edificação composta pelos salvos, pedras vivas (1Pe 2.5). A conformação com Cristo é, sem sombra de dúvida, conformação com a igreja, que é o seu corpo (1Tm 6.3).
ð  Estamos preparados para responder com confiança, diante do mundo, a razão da esperança que há em nós?
ð  Por que os traços da identidade cristã, tão visíveis na descrição do Novo Testamento, parecem diluídos neste século XXI?

Conselhos úteis
A atitude de Pedro nos faz perceber o quanto a cultura religiosa pode ser perigosa. A de Paulo, o quão intensa é a transformação do ser humano quando do encontro vívido com o Redentor...
A polêmica entre Paulo e Pedro revela o quanto pode ser angustiante, doentia e terrível a vida religiosa à margem do evangelho de Cristo. Somente o Senhor Jesus pode restaurar as relações humanas e fazer os homens, verdadeiramente, fraternos e iguais.
Mas, para que isso ocorra, em muitos momentos, precisaremos da coragem de Paulo. Assim, poderemos lutar contra as nossas limitações de percepção, contra os maus sentimentos e contra toda essa herança cultural-religiosa marcada pela discriminação, pela intolerância, pela sustentação de conflitos – marcas terríveis de uma geração longe de Deus.
Lição 6 – A justificação pela fé
Texto bíblico: Gálatas 2.15-21
Texto áureo:

 “Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio” – afirmou o pastor batista Martin Luther King Jr., durante um discurso, para mais de 200.000 pessoas aglomeradas em torno do Memorial Lincoln, na capital dos Estados Unidos, em 1963. No seu famoso discurso (I have a dream – Eu tenho um sonho), Luther King afirmou, simbolicamente, que a sociedade americana passou aos negros estadunidenses um “cheque sem fundos”, pois as promessas da Magna Constituição americana não se cumpriam na vida deles.
Nesta lição, abordamos também uma luta pela obtenção da justiça. Mas, nos escritos de Paulo, tal conceito extrapola o campo dos direitos civis e da justiça político-social, para tornar-se uma questão espiritual: quais as condições para que o pecador possa, diante de Deus, ser declarado inocente de seus pecados? E mais: quem vai emitir o “cheque” da justiça em uma sociedade impenitente e governada pelo pecado?

O erro judaico
Em Gálatas, Paulo refere-se a si mesmo e a Pedro como “judeus por natureza” (Gl 2.15a), isto é, descendentes de Abraão. Tal origem étnica sempre foi algo louvável para Paulo (Fp 3.5; At 26.4,5).
Paulo sempre preservou os costumes de sua nação, a fim de manter aberta a porta da evangelização aos seus patrícios (1Co 9.20a). Na carta aos Romanos, inclusive, chegou a defender a relevância nacional de Israel, por meio do qual Deus concedeu ao mundo a adoção, a glória, as alianças, a legislação, o culto e suas promessas (Rm 9.4).

Entretanto, no que se refere à justiça exigida por Deus, os escritos de Paulo seguem na contramão do judaísmo. Paulo denomina os judeus como aqueles que vivem sob o regime da lei (1Co 9.20b), isto é, pessoas que acreditam poder alcançar a retidão por seus próprios méritos, pela obediência estrita da lei de Moisés. De acordo com esses critérios, o caminho para a justiça constitui-se de inúmeros credos, ritos, tradições e leis. Esse é o conceito conhecido como autojustificação, uma forma de religião na qual o homem é o emissor do “cheque”. O capital dessa transação são as boas obras.

Esse jeito legalista de ser produziu, entre outros comportamentos reprováveis, as ações seguintes:
um tribunal de execução e de perseguição, vitimando Cristo, os profetas e os apóstolos (1Ts 2.15);
uma atitude de oposição ao avanço do evangelho entre os não judeus (1Ts 2.16);
uma religião hipócrita, que negligenciava os preceitos mais importantes da lei (Mt 23.23b).

O erro judaico, por incrível que pareça, foi viver uma religião vazia de Deus. Quanto mais se apegavam ao legalismo e às suas exigências mais afastavam-se do Senhor (Mt 5.20; Rm 10.2,3). O problema desse modo judaico de ver o mundo é que ele tem dois pesos e duas medidas. Os judeus não se enxergavam como pecadores. Reservavam esse estereótipo aos demais. Segundo essa perspectiva, os gentios não tinham a mínima chance de justiça, estando fora do círculo judaico, pois eram “pecadores” por definição (Gl 2.15b; cf. Rm 1.18-32).

ð  Você consegue identificar, hoje, expressões religiosas que mantêm como seu objetivo principal a guarda de práticas, ritos e costumes religiosos?  
ð  Em nome do “orgulho” pela própria condição religiosa, que tipos de comportamentos discriminatórios presenciamos na vida eclesiástica, hoje?

De onde procede o conceito paulino de justificação?
Paulo foi buscar no universo forense o conceito de justificação. Esse termo “denota um ato judicial de administrar a lei – neste caso, ao proferir um veredicto de absolvição, excluindo, assim, toda a possibilidade de condenação”[9]. Nessa ordem de pensamento, ficam estabelecidos os seguintes papéis:

1) Deus é o único juiz (Jr 11.20; Tg 4.12). Ninguém deixará de prestar contas a Deus, no grande dia do juízo (At 17.31a; Rm 14.10-12).

2) No banco dos réus está o homem. Criado por Deus reto e moralmente bom (Ec 7.29; Gn 1.31), por ter pecado, caiu do estado de justiça para um estado de iniquidade (Rm 5.12);  

3) Cristo é o defensor apontado por Deus (1Jo 2.1). Suas ações estabelecem o padrão de justiça pelo qual o juízo se dará (1Jo 2.2; At 17.31b; Rm 2.5,16).  

De acordo com esse sentido jurídico, a justificação é um ato declarativo. Nele, Deus absolve o pecador. Em consequência desse ato, o pecador tem a pena capital pelo pecado suspensa (At 13.38) e o favor divino restaurado (Rm 5.21).

ð  É possível identificar os efeitos da absolvição do pecador por Deus?

O homem, o pecado e impossibilidade de autojustificação

Caso verídico: Certa vez, numa fila bancária, uma mulher resolveu iniciar uma conversa comigo sobre as razões que a levavam a não participar de uma igreja. Críticas a denominações “a”, “b” e “c” deixavam-me levemente irritado, mas eu ouvia, sem retrucar. Num dado momento, aproveitando a pausa da mulher, para respirar, interrompi: “A senhora identifica bem as falhas humanas geradas pelo pecado no comportamento religioso evangélico” – exclamei, perguntando-lhe, em seguida: “A senhora consegue identificar, também, em sua própria vida, algum pecado?”. A mulher permaneceu calada, pensativa, por algum tempo. Depois, para minha surpresa, ela disse: “Não.”
    
Essa história encontra as seguintes similaridades com o comportamento legalista da maioria das pessoas, hoje:
primeiro: Muitos, como essa mulher, não têm a consciência de estarem debaixo da escravidão do pecado (Rm 3.9b; 1Jo 1.8) e, por essa razão, de serem transgressores da lei (1Jo 3.4), condenáveis perante Deus, o justo juiz.
outra observação interessante: o olhar da mulher voltava-se para a igreja – que não é meio de salvação! – em vez de voltar-se para o Salvador da igreja. Pura transferência: é mais fácil julgar os outros do que olhar para si mesma (Mt 7.1-5).

Nenhuma atitude de autojustificação é aceita por Deus (Rm 3.10-12). “Ir para a igreja tal”, “agir conforme a igreja tal determina”, “pagar” o preço da justificação por meio de ofertas e sacrifícios, em muitos casos, são apenas tentativas desesperadas e insuficientes para resolver o problema do pecado.

ð  Usando a linguagem figurada, poderíamos dizer que a autojustificação é o mesmo que tratar uma ferida com um curativo infeccionado? Por quê?

Deus, a graça e a realidade da justificação
No plano da justificação do pecador, graça e fé têm papel preponderante.
O pecado e sua consequência – a morte – projetam uma realidade sombria para a humanidade. É a sombra do juízo divino. Para evitar esse destino trágico, Deus escolheu, por sua livre graça, redimir os pecados dos homens e declará-los retos – inocentes, justificados. Baseou sua sentença no ato redentor de Jesus. Pela cruz, a graça manifestou-se sobre todos os homens para a justificação que dá vida (Rm 5.18).
O fator fé representa a única possibilidade real de enfrentar e vencer o pecado interior. Para tanto, devem ser observadas duas situações:
1) A fé não é a base da justificação, mas sua condição (Gl 2.16). Se fosse a base, a fé seria algo meritório, apenas um ato de soberba (Hc 2.4) . Uma bela imagem desse gesto de fé é o estender as mãos vazias para serem preenchidas pela dádiva divina.
2) A fé também não é o preço da justificação, mas o meio de nos aproximarmos dela (Rm 3.22).

Assim, na analogia com o discurso de Luther King, a justificação é uma forma de religião, na qual Deus é o emissor de um “cheque” com fundos infinitos. O capital dessa transação é o sangue de Cristo, derramado na cruz (Ap 22.14). A fé representa o gesto de compensar a ordem de pagamento.  

ð  A reprodução da tendência legalista, dentro das comunidades cristãs, imprime nos crentes um grande temor em relação à salvação. Que resposta a doutrina da justificação oferece aos receosos?

Conselhos úteis

A vida de Paulo é um exemplo vivo de como a misericórdia e a graça de Deus podem transformar um homem (Gl 1.15b). Para ele, “estar crucificado com Cristo” (Gl 2.20; 6.14) era suficiente para apaziguar a dor e o sentimento de culpa causados pelo pecado. Sua confiança na eficácia da obra de Cristo abriu-lhe as portas para um mundo novo, de adoração e serviço.
Perguntemo-nos: “O velho homem está crucificado em nossa vida? Nosso testemunho é um estandarte da fé em Cristo? Amamos na mesma proporção que o Filho de Deus, até à renúncia própria?”
Bem, nunca é tarde para começar. Afinal, o sonho de justiça e liberdade de Martin Luther King Jr. é real para nós, os salvos por Cristo. Fomos libertos do poder do pecado. Somos livres e, nessa condição podemos servir a Deus, com gratidão.


[1] MOUNCE, R.H. Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,  Vol. II, p. 107.)
[2] [2] MOUNCE, R.H. Artigo Evangelho (in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1992,  Vol. II, p. 109.)
[3] GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1981, p. 293
[4] HARRISON, E.F. Artigo Apóstolo, apostolado. (in: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1993, Vol. I, p. 103).
[5] O termo grego traduzido como mensageiros em 2Coríntios 8.23 e Filipenses 2.25 é apóstolos.
[6] WWW.cieab.com.br/2011/br/biografia.php

[7] ROSS, Alexander (in: O Novo Comentário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1979, vol. 3, p. 1238).
[8] Uma explicação mais ampla do problema entre o judaísmo e a igreja primitiva pode ser lida em JR. Albert A. Bell. Explorando o mundo do Novo Testamento. Minas Gerais: Atos, 2001, p. 57.
[9] PARKER, J.I. Artigo Justificação. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, Vol. 2, p. 387

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